Tuesday, September 25, 2012

A Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas


No IE: A Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas
O trabalho de investigação “A Inteligência Económica: Um Modelo Empírico de Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas” pretendeu avaliar a existência de práticas de inteligência económica por parte das empresas portuguesas e identificar as variáveis (atributos) que influenciam a probabilidade da sua adoção, permitindo também a recomendação de políticas públicas de incidência empresarial, potenciadoras de procedimentos de inteligência económica. Utilizou-se um modelo de pesquisa que relaciona: (i) um sistema de inteligência económica de âmbito empresarial, constituído por cinco atributos; (ii) as políticas públicas; e (iii) os resultados obtidos na sua aplicação ao universo empresarial a que se limita este estudo, isto é às empresas portuguesas do universo da AIP (Associação Industrial Portuguesa) que foram submetidas a um inquérito-questionário. A análise estatístico-econométrica foi efetuada com recurso ao modelo Mixed Logit, o qual permite o tratamento do erro, combinando diferentes distribuições estatísticas, admitindo também heterogeneidade nos parâmetros estimados e, ainda, a identificação das variáveis estatisticamente significativas que, no caso concreto, explicam a variação na probabilidade de uma empresa adotar procedimentos de inteligência económica. As pequenas e médias empresas (PME), a diplomacia económica e as políticas públicas sectoriais de âmbito empresarial no contexto da inteligência económica, são também tratados neste trabalho de investigação.

Palavras-chave: informação, inteligência económica e competitiva, inteligência organizacional, inteligência territorial, vigilância, redes, diplomacia económica, influência (lobbying), segurança económica, gestão estratégica da informação, gestão do conhecimento, guerra económica, inovação, competitividade.


UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Departamento de Gestão e Economia





A INTELIGÊNCIA ECONÓMICA:
Um Modelo Empírico de Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas



Idalino André Rodrigues Nascimento Magrinho


Tese de Doutoramento apresentada para a obtenção do grau de
 Doutor em Gestão


Covilhã, Março de 2009

CONCLUSÃO FINAL

A conclusão final deste trabalho é a de que a probabilidade das empresas portuguesas do universo empresarial contemplado adotarem políticas e práticas de inteligência económica, assenta em dois vetores relacionados nomeadamente com as estratégias empresariais e aspolíticas públicas.

Em primeiro lugar, no que se refere diretamente às orientações de política e estratégia empresarial relevam os seguintes aspetos:

¨  Atendendo a que o efeito “dimensão” (grande empresa) contribui, de acordo com o trabalho de investigação, para o incremento de práticas de inteligência económica, importa, para as PME, potenciar estratégias interempresas que favoreçam o redimensionamento empresarial (massa crítica), onde os clusterscom vocação para os mercados globais podem desempenhar um papel importante (implicações na produtividade e na política industrial);

¨  Estimular o investimento na informação/conhecimento intensivo (desenvolvendo  formas de vigilância e gestão estratégica da informação adequadas) associados a novos mercados, nomeadamente internacionais, conferindo maior proactividade em relação a estes (maior exigência e pensamento estratégico; reformulação estratégica de actividades);

¨  Valorizar as redes sociais externas (incluindo o associativismo empresarial) e internas das empresas (pressupondo uma adequada utilização das TIC) para melhorar a circulação (e a partilha) interna da informação e a ligação aos clientes/mercados (cria pressão sobre o portefólio de competências da empresa).

¨  Estimular/incentivar uma política industrial/internacionalização que favoreça atividades e a produção de bens transacionáveis (favorece a cadeia de valor da economia, a inovação, a internacionalização e maior proactividade em relação à exploração da informação assimétrica atinente aos mercados); 

¨  Apoiar a clusterização da economia em sectores/atividades em que a dinâmica da procura internacional é relevante (favorece a atratividade do IDE, reforça as redes e estratégias interempresas; pressiona a I&D e a inovação, a qualificação e as ligações aos centros de saber, estimula o desenvolvimento tecnológico);

¨  Agilizar dispositivos de diplomacia económica mais proactivos, com maior interação entre redutos diplomáticos e meios empresariais e melhor utilização das instituições internacionais em que Portugal participa (favorece a prospeção de mercados e a captação de IDE, otimiza a negociação internacional).

Em segundo lugar, decorre da perceção dos empresários a sobrevalorização dos atributos relacionados com as políticas públicas na adoção de procedimentos de inteligência económica por parte das empresas portuguesas contempladas no universo empresarial abrangido por este estudo, existindo, a este propósito, expectativas elevadas decorrentes da manipulação e utilização de instrumentos de política pública, que vão da diplomacia económica, aosincentivos à internacionalização, aos apoios à I&D, à informação sobre mercados externos, à política de atracão de IDE, à participação em projetos comunitários e àinformação sobre tecnologias avançadas. Porventura, no mundo anglo-saxónico, pelas características da sua cultura empresarial, um estudo idêntico, provavelmente, não enfatizaria com o mesmo peso os instrumentos de política pública nos resultados.

Em consequência, conclui-se existir a necessidade de uma significativa ponderação das políticas públicas nas estratégias empresariais orientadas na perspetiva da inteligência económica. Esta situação também pode ser interpretada como um sinal marcante da cultura empresarial portuguesa que, de uma forma geral, sobrevaloriza o papel do Estado na prossecução de objetivos, sejam de natureza privada ou pública, pelo que isso se afigura igualmente verdade em relação à adoção de procedimentos de inteligência económica pelas empresas.

A valorização da interação dos dois vetores equacionados, autoriza a que se possa também concluir que, a eficácia de um sistema de inteligência económica aplicado à realidade empresarial portuguesa, exige uma conjugação de estratégias empresariais alicerçadas na informação e no conhecimento intensivo, e de políticas públicas adequadas, sendo essa também uma condição para o incremento da densidade dos fatores associados à competitividade, e de uma maior abrangência quanto à internalização de atributos que os referenciais internacionais de boas práticas de inteligência económica e competitiva aconselham. Em face das razões que conferem importância à inteligência económica e competitiva, a adoção de procedimentos e práticas que se inscrevam na sua matriz, constituem um importante contributo a diferentes níveis, nomeadamente para o incremento da produtividade, da inovação, das exportações e da modernização e competitividade do tecido empresarial e da economia portuguesa.

Importa sublinhar o carácter multidimensional e sistémico da inteligência económica, bem como a existência de uma vasta produção teórica e de trabalhos de investigação a nível internacional (em Portugal só muito recentemente se começou a despertar para o tema) em torno da inteligência económica e competitiva, tanto na perspetiva empresarial como na das políticas públicas, que se têm multiplicado nos últimos anos. Apesar disso, ainda não existe uma definição consensual em torno da qual toda a comunidade de inteligência económica e competitiva se reveja integralmente. Isso não obsta a que exista um amplo consenso em relação aos fins relacionados com a valorização da informação útil e estratégica que alimenta os níveis de decisão das organizações e que a assunção do ciclo do conhecimento (ou da inteligência) seja o elemento estruturante das funções da inteligência económica.

Justifica-se, por isso, o aprofundamento da investigação sobre a inteligência económica e competitiva nas empresas portuguesas, porventura recorrendo à segmentação do universo empresarial, por dimensão e sectores, assim como uma adequada combinação de métodos quantitativos (como, por exemplo, o Mixed Logit) e métodos qualitativos (como são os estudos de casos).

Neste contexto, o que devem fazer, os dirigentes e os gestores empresariais?

Devem privilegiar estratégias empresariais alicerçadas na informação e no conhecimento intensivos, orientadas prioritariamente para novos mercados (entendidos também como aumento de quotas ou exploração de novos nichos nos mercados atuais); equacionar com maior frequência a reformulação radical das atividades da empresa (turnaround); dinamizar redes internas associadas à gestão estratégica da informação e a sua inserção em redes sociais, designadamente de carácter associativo; utilizar formas de vigilância estratégica adequadas; recorrer com maior intensidade às TIC (nomeadamente para efeitos de comércio eletrónico e de modernização e agilização da estrutura organizacional); e, no caso das PME, ganhar massa crítica e escala, nomeadamente por via do redimensionamento empresarial através de estratégias interempresas (colaborativas) adequadas.

E, também, neste contexto, o que deve fazer o governo, por via das políticas?

Deve agir sobre a envolvente das empresas, no que em relação às políticas públicas diz respeito, assegurando nomeadamente o bom funcionamento dos mercados em termos de condições de concorrência; privilegiar políticas que favoreçam o acesso aos mercados, designadamente por via de um adequado dispositivo de inteligência económica que agilize mecanismos de diplomacia económica mais proactivos, com maior envolvimento dos redutos diplomáticos no acompanhamento das empresas quanto à informação e prospeção de oportunidades nos mercados externos, e, consequentemente, otimizar a participação, o envolvimento e a negociação nas instâncias comunitárias e internacionais, particularmente as atinentes aos mercados; favorecer uma política de incentivos que estimule a I&D (e a inovação e a qualificação que lhe estão associadas) e a participação das empresas em projetos comunitários, o incremento da internacionalização empresarial, a atracão de IDE, e, aumentar o nível de informação sobre tecnologias avançadas e mercados externos.

conclusão geral é que se deve reforçar a cadeia de valor das empresas e da economia por via de uma adequada articulação de estratégias empresariais que valorizem o conhecimento intensivo, a tecnologia, o redimensionamento empresarial (uma oportunidade para as PME), o “turnaround” e o acesso a novos mercados, e, políticas públicas que favoreçam a clusterização da economia, como fonte de inovação e de fomento de estratégias e redes interempresas e de negócios, e que estimulem uma maior proactividade em relação ao acompanhamento das empresas nos mercados externos, obrigando a uma reforço dos dispositivos de inteligência e diplomacia económica.
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