Thursday, October 18, 2012
Portugal não é "concorrente" do Paquistão
Começa a 01 de Novembro o levantamento temporário pela UE de taxas alfandegárias sobre certos produtos originários do Paquistão, por via do European Union Autonomous Trade Preference Scheme.
Portugal, a par de Espanha e Grécia, foram os países que estiveram contra a decisão, face a receios de o comércio com o Paquistão "penalizar os países mais pobres, atingindo sobretudo a indústria têxtil portuguesa e podendo destruir postos de trabalho".
Os eurodeputados portugueses chegaram mesmo a pedir o impedimento da abertura do mercado da União Europeia aos têxteis do Paquistão, decidida pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em nome da protecção da "indústria têxtil e do vestuário de Portugal e da Europa das situações de dumping e de concorrência desleal que aquela abertura implicará".
Na base do pedido português esteve o facto de "as empresas portuguesas e europeias terão de concorrer com empresas paquistanesas que recorrem ao trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais, utilizam matérias-primas proibidas na UE e subvertem as normais regras de mercado", uma observação muito válida, aliás a única, mas usada ao serviço de uma abordagem errada ao problema.
Se com esta conquista o Paquistão dá provas de Inteligência Competitiva já a reacção portuguesa - e falo apenas nesta porque é que me interessa - é reveladora da falta de IC que há no país e da falta que a mesma faz.
E quando ouvimos as autoridades paquistanesas afirmar que "foi um grande sucesso para o Paquistão ter esta oportunidade, apesar da oposição de Portugal, Grécia e Espanha, que não são apenas concorrentes do Paquistão na Europa, mas também membros da UE", a coisa ainda é mais clara.
Enquanto Portugal se projectar na Europa e no Mundo como "concorrente do Paquistão" não terá sucesso, porque cria uma imagem que o impede.
A argumentação portuguesa tinha que ter ficado apenas por: "as empresas paquistanesas que recorrem ao trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais, utilizam matérias-primas proibidas na UE e subvertem as normais regras de mercado".
Que ninguém nos oiça: É um facto que (face à existência de um modelo industrial no país ainda muito de terceiro mundo) o Paquistão é actualmente concorrente de várias indústrias portuguesas.
Mas isto não pode ser afirmado à escala do País. E para defender essas empresas a defesa tinha de ser outra.
Portugal não é concorrente do Paquistão... ponto! Há empresas que até podem ser concorrentes de empresas paquistanesas... mas apenas isso e nem vale a pana o referir. O que não se pode é admitir que "a UE estabeleça comércio com países onde empresas recorrem ao trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais, utilizam matérias-primas proibidas na UE e subvertem as normais regras de mercado".
Ao falar em questões de concorrência Portugal conseguiu apenas relativizar a questão, colocada no plano de: "estão se só a queixar, não por questões éticas, mas por questões económicas porque são concorrentes directos dos paquistaneses". E levou mesmo os Paquistaneses a poderem agora aproveitar isso...
Resultado: O Paquistão entra no mercado com imagem de marca de concorrente de Portugal que ganhou a primeira batalha da guerra económica entre dois competidores...
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IC
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