Wednesday, October 19, 2011

Estudar a realidade, para que não se fale muito sem dizer nada

Depois de ter dito com todas as letras o que está errado, Ratigan deixa aquele que acho ser, neste momento, o apelo mais importante: que cada um estude e perceba, de facto, a realidade para a que a possa criticar, não apenas como mais uma voz num coro de protestos, mas uma voz informada que sabe o que está a criticar e porque está a criticar. Isto evita que, como muitas vezes acontece, se fale muito sem se dizer nada, e tem o dom também de gerar uma vontade de mudança esclarecida e, por isso, mais consequente. Não se pode acusar os políticos de falta de credibilidade sem exigir que o protesto seja credível.
 

Friday, October 14, 2011

Fado triste, a banda sonora para a crise

O Facebook hoje está deprimente, povoado de lamentos e fatalismos... Sofrer por antecipação não é o melhor remédio. Cantar um triste fado só vai servir para embalar ainda mais a crise.

Os portugueses descobriram agora que viviam num conto de fadas, os mesmos que continuam a mudar de telemóvel sempre que surge um novo, têm um parque automóvel que faz corar muitas potências económicas e acham que ir de férias para o Brasil ou qualquer destino paradisíaco é um direito constitucional... Aqui aposta-se demais na aparência e na potência do motor (parece dar estatuto ter mais cavalos)... Agora que não há dinheiro para gasolina começa o pânico. Sim, porque o problema de muitos não é a comida. Sei de bons exemplos de gente muito responsável que come sopa todos os dias por não ter dinheiro, que se lamenta todos os dias das agruras da vida, mas tem de andar montada num bom carro - o ar condicionado é imprescindível! - porque para comer sopa em casa só se convida quem quer, o carro está á mostra de todos e fica bem na foto social.

Lamento, mas ainda não vejo a crise na rua em todo o seu esplendor. O que vejo são anúncios de medidas, umas certas (se em grande parte o problema esta na despesa improdutiva do Estado, que este resolva os seus problemas com os seus funcionários, tal como faz qualquer empresa privada), outras, é verdade, completamente disparatadas e que mais não fazem que diminuir o consumo e desincentivar o investimento, precisamente o contrário do que devia ser feito. No global as medidas do executivo Passos estão erradas, vão ser ruinosas para quem mais e melhor produz, a classe média, e vão fazer estoirar o sector privado para proteger tachos e direitos adquiridos dos funcionários do Estado, uma "empresa" falida já sobre alçada de um gestor de falência (a Troika).

Mas mais do que discutir receitas e modelos macro-económicos - há no menu escolhas para todos os gostos - é preciso perceber que há sacrifícios incontornáveis e que de pouco adianta agora pôr culpas nos anteriores governos, no Salazar ou no D. Afonso Henriques. É preciso perceber de uma vez por todas que temos de pôr de lado o surreal e imaginário e lidar com a realidade crua de que não há dinheiro, é preciso produzir mais (não necessariamente trabalhar mais, mas melhor e com mais empenho).

Por muito confortável que possa ser para cada um alinhar na moda no protesto e queixume colectivo contra um qualquer monstro papão, porque desresponsabiliza o esforço individual, é preciso ter a noção que o sentimento age nos mercados antes e com mais força do que as medidas concretas. E se as medidas já vão traduzir-se num péssimo resultado para a economia, juntar a isto um sentimento depressivo não é solução.

O esforço dos contribuintes não pode, no entanto, servir para pagar a gordura de um Estado que precisa urgentemente de uma lipo-aspiração. Agora tem de haver de facto um esforço para que se possa ter o direito a exigir outras medidas. Um comportamento social diferente só cauciona as medidas do Estado, descrente na capacidade produtiva dos portugueses, de poderem ser parceiros do crescimento económico,  e que, por isso, acaba por optar por extorqui-los, ao invés de os encarar como fonte de futuros rendimentos, se gerar condições para que produzam mais e melhor (diminuindo impostos, canalizando a despesa improdutiva para investimentos produtivos e privilegiando o emprego privado em detrimento do excesso de emprego público)...

A vida dos portugueses vai mudar, espero que a mentalidade também mude, essa é que seria uma alteração estruturante.

Tuesday, July 19, 2011

Grave: Governo usa servidores Google para assuntos confidenciais

"Escutas assustam Passos, primeiro-ministro contacta ministros por gmail". Esta manchete da última edição do Sol é motivo de preocupação e sobretudo revela a forma ligeira como altos decisores da nação lidam com a troca de informação, que a esse nível, deve ser sempre tida como sensível. 

Ao invés de usar a rede de comunicação do Estado, os governantes estão, com medo das escutas, a usar o Gmail para tratar assuntos confidenciais, enquanto evitam falar ao telemóvel "de temas importantes para a República", como refere um ministro.

Ou seja, com receio de serem escutados, usam um serviço baseado nos Estados Unidos para  comunicações confidenciais ou reservadas. Um serviço sobre o qual não têm o mínimo controlo e que não oferece, nem tem capacidade para oferecer, quaisquer garantias de segurança.

Espantoso argumento, o uso do Gmail é justificado pelo facto de os servidores não estarem em Portugal e por isso fora do alcance de intrusos nacionais. Já os intrusos internacionais podem ver à vontade a troca de correspondência entre membros do Governo.

Ainda para mais um serviço que funciona de forma absolutamente centralizada, ou seja, todos os mails estão alojados em servidores Google, de um modo permanente e são de acesso fácil para quem os saiba arranjar. Não está ao alcance do comum intruso, mas está certamente ao alcance de quem tenha os meios e vontade para o fazer, sejam chineses, americanos, russos, paquistaneses, etc.... 

E não há ninguem que tome conta da segurança da informação do Governo e diga aos senhores que não podem usar o Gmail para tratar destes assuntos por essa ser uma quebra de segurança nacional, precisamente por comunicações importantes de um país estarem sob tutela de uma empresa privada norte-americana e dependentes de um serviço sob o qual ninguém em Portugal tem controlo e que, por isso mesmo, não oferece, nem pode oferecer quaisquer garantias?

Basta lembrar que Obama foi obrigado a largar o seu BlackBerry de estimação por questões de segurança e que Sarkozy proibiu o uso de BlackBerry por não querer as comunicações do governo francês alojadas noutro país...

Em Portugal, está visto, aquilo que preocupa Sarkosy é usado como justificação de segurança, o que revela duas coisas: que o Governo não confia na segurança do serviço de comunicação que tem ao dispor e que não se preocupa com a soberania nacional quando toca a mandar mails.

Um péssimo exemplo de protecção de informação que nos deve preocupar a todos.



Wednesday, March 9, 2011

Geração à Rasca VS Geração Desenrascada

A Cavaco Silva dá, de facto, muito jeito mostrar solidariedade com a Geração à Rasca que, coitada, não tem culpa de ter nascido e nem culpa tem de ter como ambição máxima queixar-se muito das agruras da vida e bradar que merece receber um bom salário só por ter estudado.

É uma atitude coerente, nada como nos desculparmos com a falta de sorte, com a maldade e injustiça de outros, para justificarmos a nossa própria incapacidade, falta de empenho e falta de ambição.

As políticas “estruturantes” que Cavaco definiu enquanto PM - e que condicionaram o belo estado em que este país se encontra - também não resultaram por manifesta falta de sorte, já que a ideia de que a melhor estratégia para um país é aproveitar o crédito fácil e os subsídios à inactividade para comprar feito ao invés de fazer era, de facto, a mais prática, do ponto de vista imediato e contabilístico, até porque havia subsídios europeus à farta para pagar o festim português de inaugurações de grandes obras e para pagar para não produzir.

Hoje, quando o crédito aperta, o “milagre económico” de Cavaco, que os seus fieis seguidores sempre reclamaram, revela a sua inconsistência, irresponsabilidade e consequências. E o mais grave é que as decisões então tomadas eram de facto estruturantes, com vários compromissos assumidos por décadas, o que faz com que tenham ainda um impacto significativo na economia actual e, sobretudo, na mentalidade dos portugueses que se habituaram mal a ter acesso fácil e barato aos confortos modernos, de que não querem abdicar, mesmo em tempo de vacas magras e leite muito caro.

Agora, achar que numa Geração à Rasca está a salvação do país é prova de uma extraordinária capacidade para conformar discursos à demagogia que melhor serve uma determinada vontade política.

Salve-se o país de vir a ser desgovernado por uma Geração à Rasca. Eu prefiro olhar para os que, fazendo parte da mesma geração, souberam trabalhar para conquistar um lugar nas suas empresas e provar à geração anterior de que tinham capacidade de iniciativa e vontade de, independentemente do salário, fazer mais e melhor para merecer mais e melhor. Que não se importaram de trabalhar à borla ou com salários mais ou menos simbólicos para provar qualidade e para iniciarem a sua formação profissional e ganharem experiência e real competência para poderem exigir um salário compatível com funções e qualidades.

Eu prefiro olhar para a Geração Desenrascada. E pena é que essa não seja mais valorizada que aquela que está à rasca (excepto quando sai à noite para ir tomar um copo ou quando vai a todos os festivais de Verão) e que, pelo absurdo de algumas ideias que defende, tão cedo não vai sair da casa dos pais.

Acho que neste país há muita gente, em todas as gerações, bem capaz, e que se manifesta todos os dias nos seus locais de trabalho fazendo o máximo para poder exigir o máximo, ao invés de cumprir serviços mínimos por só ter o mínimo. E esse movimento social é o que verdadeiramente merece ser destacado e servir de exemplo.

Thursday, January 13, 2011

"Guerra Económica" e "Guerra de Informação", por Alain Juillet

Excerto da entrevista a Alain Juillet, figura de topo da Inteligência Económica, à newsletter TDSNews
 

“Guerra económica” e “guerra de informação”, duas expressões sempre presentes no discurso de Inteligência Económica. Pode explicar-nos cada um destes conceitos?

Estamos a falar de duas coisas muito diferentes. A guerra da informação traduz-se, por exemplo, nas campanhas de comunicação, não de informação mas de desinformação, feitas para desestabilizar um mercado, um concorrente ou um consumidor que compra um produto concorrente. Para mim, é o combate permanente entre os que informam e os que desinformam. A desinformação tem por objectivo neutralizar ou atingir o outro no plano das ideias. Do outro lado, a informação age de um modo mais objectivo. A partir do momento em que há alguém que informa e alguém que desinforma temos uma guerra de informação que só termina com a vitória de um. A palavra guerra pode parecer muito forte, mas a verdade é que estes confrontos têm, muitas vezes, consequências terríveis.
 
A palavra guerra [na “guerra de informação”] pode parecer muito forte, mas a verdade é que estes confrontos têm consequências terríveis. E, se o atacado é uma pessoa, pouco pode fazer para se defender e quando se souber a verdade... é tarde!


Quando se faz um ataque pessoal, através de rumores, estamos perante uma verdadeira guerra, porque a pessoa pode ser destruída. E, em geral, pouco pode fazer para se defender... E depois, quando se acaba por saber a verdade, já é tarde.

A guerra económica é, para mim, outra coisa. É a guerra total, é a utilização de todos os meios da Inteligência Económica, mas também da capacidade das empresas e também, a nível dos estados, do sistema legal, ou seja, tudo o que pode servir, no quadro da actividade económica, para destruir uma empresa ou uma actividade feita pelo outro. E acontece muito e cada vez mais entre estados.

Vemos, em todo o mundo, que esta é uma situação corrente. Actualmente, vemos certos actores financeiros, como os edge-funds (que têm uma técnica bem conhecida que consiste em desestabilizar as empresas onde querem entrar para provocar a queda das acções), fazer depois a recuperação e vender com lucro. Quando vamos mais longe nesta análise, temos, por exemplo, edge-funds e bancos que decidem atacar, através da Grécia, o Euro e, se o fizerem cair, tudo é afectado. E isto é guerra económica. É uma situação muito grave, porque todo o sistema económico europeu está em risco e, se este for afectado, ficamos vulneráveis em relação a todas as outras partes do mundo.

Ver entrevista completa aqui

CLARO explica o que é a "guerra económica" e como ela nos pode ser fatal

No CLARO: 


Os governos do planeta, na sua grande maioria, já não procuram a conquista de territórios ou estabelecer a sua dominação sobre novas populações, mas procuram sim construir um potencial tecnológico, industrial e uma task force comercial que tragam divisas e empregos para o seu território. É assim o novo mundo da hipercompetição global. Os perdedores desta guerra de novo tipo serão os Estados cujos políticos não tiveram percebido isto. Ora, em Portugal, os nossos políticos não só não o perceberam como, manifestamente, nem o descobriram, nem suspeitam. Esta é a nossa maior vulnerabilidade estratégica. A vulnerabilidade que nos será fatal se, rapidamente, não houver uma decisão política que crie os indispensáveis e inadiáveis dispositivos de Inteligência Económica e Estratégica e dissemine a sua cultura. Depois de ouvir responsáveis políticos, tanto do PSD como do PS, constato o seu desconhecimento sobre a matéria. Por favor, estudem a política de Clinton e, sobretudo, a mais recente e próxima, de Sarkozy, de que Alain Juillet, Alain Bauer, Christian Harbulot e o deputado Bernard Carayon são os construtores. A dívida não nos será fatal, mas o défice de inteligência é-o, de certeza... E aí poderemos, à vontade e com toda a razão, culpar e responsabilizar estes políticos que temos, pela sua ignorância. E incompetência fatal.
Alain Juillet, figura de topo da Inteligência Económica, esteve em Lisboa para uma conferência da Business Intelligence Unit (da AICEP), dirigida por Joana Neves, mas antes falou à TDSnews e explicou porque "quem não tem Inteligência Económica perde sempre".
 Bernard CARAYON & Christian HARBULOT (Directeur de l' E.G.E.)
Alain Bauer com Nicolas Sarkozy
Ver também "Sarkozy: prioridade à Inteligência", aqui  e ainda aqui

Sunday, January 9, 2011

École de Guerre Économique já estuda caso Renault

Na École de Guerre Économique, liderada por Christian Harbulot, o escândalo da Renault é já um estudo de caso. Na escola de referência em matéria de "guerra económica" sabe-se bem a distinção entre espionagem (método ilegal) e inteligência competitiva (legal e recomendável) e que não é preciso recorrer a métodos ilegais na procura de informação, dado que 80 a 90% das informações úteis à tomada de decisão são informações abertas, ao acesso de todos os que dominem as técnicas necessárias para as saberem procurar, sem terem de ser hackers.

A l'Ecole de guerre économique, l'affaire Renault est déjà un cas d'école

Samedi 08 Janv. 2011138 par Hervé ASQUIN

"Symboliquement, Renault a perdu une bataille puisque son image est affectée mais l'entreprise peut encore marquer des points si elle prend conscience que le succès, aujourd'hui, repose au moins autant sur la manière de mener la guerre économique que sur le business, l'innovation ou la force de vente", explique-t-il.
C'est à cela qu'il prépare ses étudiants, aux "techniques de veille qui permettent de tracer les acteurs d'un marché, de cartographier les réseaux ou de suivre les ruptures et les transferts de technologie" mais aussi aux "opérations d'influence" pour "exploiter les failles de l'adversaire" ou "imposer un modèle dominant".
Dans cet univers complexe, la presse, l'internet, les forums et les réseaux sociaux offrent un puits sans fond d'informations. "Il n'est pas nécessaire de recourir à des méthodes illégales puisque 80 à 90% des informations utiles sont des informations ouvertes, accessibles à tous", souligne un autre étudiant, Adrien Mondange.
"On peut aller loin avec certains outils et certaines méthodes qui nous sont enseignées dans les murs de cette école sans être des hackers", confirme Armand Dutheil de la Rochère, 39 ans, un officier de l'armée de terre appelé à se reconvertir dans le renseignement.
Dans les couloirs de l'EGE, un étudiant confie sous couvert de l'anonymat qu'il entend rejoindre les services. "Traditionnellement, les services français travaillent plus pour la gloire du drapeau que pour la gloire de l'économie, contrairement aux Anglo-saxons", regrette-t-il.

Guerra Económica chega à Renault

Esta guerra económica já devia há muito ser evidente para os decisores políticos e empresariais. Quer estados quer empresas têm de se dotar das capacidades para para defender aquele que é hoje o principal activo: a informação. E isso só se consegue com Inteligência Competitiva.
No DN:
Espionagem na Renault

Eric Besson admite "guerra económica"

O ministro francês da Indústria alertou hoje que o país enfrenta uma "guerra económica", depois da admissão por parte da Renault que o caso de espionagem industrial no grupo atingiu a divisão de veículos eléctricos, "activos estratégicos" do construtor.
"A expressão 'guerra económica', embora seja ultrajante por vezes, é apropriada desta vez", disse aos jornalistas o ministro Eric Besson, acrescentando que o escândalo na Renault "parece que tem a ver com o carro eléctrico, mas não quero adiantar mais".
A construtora francesa, que suspendeu três gestores de topo por terem passado segredos da empresa, também não adiantou muito sobre o caso de espionagem industrial, mas admitiu hoje que envolveu "activos estratégicos, intelectuais e tecnológicos".
A Renault e a parceira Nissan têm vindo a apostar na produção de veículos elétricos, com o objectivo de lançar para o mercado diversos modelos até 2014, em resposta ao aumento da procura por meios de transporte mais amigos do ambiente.
"Para a Renault, isto é um incidente muito sério que envolve pessoas numa posição estratégica particular na empresa", disse ainda o vice-presidente, um dia depois do grupo ter anunciado a suspensão dos três altos quadros, ao fim de um mês de inquérito.
O escândalo na Renault é o último de uma série de casos de espionagem industrial a abalar o sector automóvel francês, com o fabricante de pneus Michelin e o fabricante de peças Valeo a ser também alvo de actos de espionagem.
 
 
 
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