Friday, May 7, 2010

Céu Único Europeu desfeito em cinzas

Artigo publicado na Espacialnews
 
Ainda activo, mas sem o fulgor de outros dias. É este o actual diagnóstico do vulcão Eyjafjallajokull, mas podia ser também o diagnóstico do projecto do “Céu Único Europeu”, colocado em cheque por nuvens de cinza.
 
O “Céu Único Europeu” desfez-se em nuvens e os sinais de fumo deixados, e ainda persistentes, colocaram em evidência as fragilidades de uma Europa que quer falar a uma voz, mas foge a vinte sete pés perante uma crise.

Ao caos provocado pelas cinzas vulcânicas nos céus europeus, a UE não soube reagir…. também porque não podia reagir. A decisão de fechar o espaço aéreo compete a cada estado soberano e articulação necessária entre estados não funcionou e não se soube nunca acautelar uma situação do género, que embora esporádica, era previsível para os especialistas.

Das consequências práticas e das enormes consequências económicas, a Europa tem agora de tirar também consequências políticas. Como escrevia em Abril, Pierre Rousselin, director adjunto da redacção do jornal francês “Fígaro”, “a Europa tem de tirar lições do caos aéreo”.

“Um computador num qualquer lugar na Grã-Bretanha ditou as decisões de estados muito ciosos da sua soberania nacional (neste caso, inexistente) para aceitar uma qualquer soberania colectiva”, nota Rousselin, que questiona o porquê de não terem sido postos em causa pelos outros estados os cálculos dos especialistas britânicos.

A verdade é que a EU (criticada por reagir oficialmente muito tarde) não tem competências para determinar a abertura ou encerramento do espaço aéreo (isso cabe a cada país) e não pode também chamar a si a gestão do tráfego aéreo. Cada estado optou assim por alinhar com o conservatismo britânico e paralisar os céus da Europa por cinco dias, cinco longos dias para as pessoas e mercadorias retidas em aeroportos de todo o mundo.

O céu europeu não está a ser gerido a nível europeu e isso condicionou muito a resposta à crise aérea, e expôs fragilidades do projecto Europeu, tal como sucede com a crise económica (em particular o caso grego).

E saber dar resposta adequada a crises é fundamental nestes tempos de fragmentação global, onde os líderes se revelam, mesmo sob cinzas de vulcão.

Medvedev fez questão de “voar”, de carro e comboio, para a Polónia para estar presente no funeral de Lech Kaczynski, líder polaco que se opôs a Moscovo para tentar uma aproximação à Europa. Barack Obama, Nicolas Sarkozy e Angela Merkel, entre outros, ficaram em terra e deram a Medvedev uma oportunidade simbólica para iniciar uma reaproximação a Cracóvia.

Resta agora aguardar para ver se a Europa volta a erguer-se das cinzas… Para já, o “céu” europeu ficou (ainda mais) fragmentado.

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