Thursday, February 25, 2010

Geoestratégia: Europa de Leste vira-se para Washington


TENDÊNCIA

Europa de Leste vira-se para Washington

O novo pacto Berlim-Moscovo, com uma aparente convergência de interesses em diversos domínios, começa a gerar nos países da Europa de Leste um sentimento de cerco que os leva a virar-se para Washington e ver no escudo antimíssil a “tábua de salvação”.
Como bem assinalava, há dias, Miguel Monjardino, no Expresso, enquanto Berlim assume o comando político-financeiro, na União Europeia, sopram de Leste ventos de crescente influência (Kiev entrou novamente na órbita russa) e convergência com a Alemanha que deixa os ex-vassalos soviéticos sob cerco.

Moscovo, recorde-se, promulgou uma nova doutrina militar que considera o alargamento da NATO como a principal ameaça à segurança e contempla o uso de armas nucleares em situações específicas.

Na Casa Branca, parecem os países de Leste ter encontrado um refúgio seguro. Polónia, Roménia e Bulgária já se mostraram interessadas para acolher componentes do sistema antimíssil norte-americano.

Os EUA deverão instalar mísseis Patriot na Polónia, a partir de Abril; a Bulgária, apesar de ter anunciado formalmente que ainda não realizou qualquer negociação sobre o escudo antimíssil com os EUA, entra nas contas de Washington; e a Roménia já anunciou que vai receber “interceptores terrestres de mísseis balísticos e de médio alcance”, operacionais em 2015.

Os três países de Leste fizeram questão de dizer que o sistema americano não é contra a Rússia, após Moscovo se ter mostrado preocupado com a possibilidade de ter um escudo antimíssil dos EUA na antiga Cortina de Ferro.

Em resposta aos esforços americanos, também a Rússia instala o seu sistema antimíssil. A Transdnístria, região russófona separatista da Moldávia, está já pronta a albergar componentes russos se Moscovo o solicitar, para fazer face aos interceptores romenos.

Neste jogo antimíssil, a componente militar aparenta ser sobretudo um instrumento de influência geoestratégica e este carácter instrumental coloca em segundo plano as eventuais ameaças iraniana e sul-coreana, recorrentemente apresentadas como justificação para o escudo.

Também a Alemanha, ao leme da UE (relegando para segundo plano França e Reino Unido), joga a sua influência e a dos seus comandados (os países da União), como aliás tem sido notório no problema das finanças gregas, vistas como uma séria ameaça à Europa, ao Euro e às ambições internacionais da UE.

Christian Harbulot, director da École de Guerre Économique, na conferência de Inteligência Competitiva que fez no Taguspark, a 04 de Junho de 2009, alertava precisamente para o aparecimento de um novo pacto germano-russo. E Paris, como diria Granadeiro, sente-se "encornada"...


André Gonçalves Nunes

Artigo publicado na TDSNews nº28

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