A sociedade de informação, a globalização, a substituição de uma visão geopolítica por uma visão geoeconómica, o quadro generalizado de guerra económica com a informação como arma em que, segundo alguns autores, se transformou a nova economia, hipercompetitiva, veio impor a estados, organizações e indivíduos a necessidade de uma nova grelha de leitura, de um novo entendimento da dinâmica global – cada vez mais submetida a constrangimentos de ordem económica, com enormes repercussões na competitividade empresarial, e cada vez mais determinada pela informação. Neste quadro, o controlo da informação e a produção própria de informação, tornam-se fundamentais à sobrevivência, à adaptação ao meio.
A resposta a esta necessidade está precisamente na Inteligência Competitiva.
A Inteligência Competitiva resulta da interligação harmoniosa de três componentes fundamentais, com três objectivos complementares, a saber: a vigilância sistemática do ambiente competitivo, pela recolha tratamento e difusão de informação estratégica de apoio à decisão (intelligence); a protecção do património informacional face às ameaças externas, sobretudo de cariz informacional (desinformação, rumores, manipulação de informações); e a influência do meio, de modo a criar as condições favoráveis à prossecução dos desígnios estratégicos das empresas.
A primeira componente, a “intelligence”, ou o que os franceses apelidam de “veille”, vela, é muitas vezes de um modo redutor entendida como sinónimo de Inteligência Competitiva – bem mais abrangente, em particular na acepção francesa de "intelligence économique". Esta vela activa, esta recolha, tratamento e difusão de informações impõe-se num quadro hipercompetitivo, face a um contexto económico, político, social e cultural onde a informação se tornou principal matéria-prima e principal fonte de poder. Contra os riscos de caírem numa dependência informacional, as empresas devem dotar-se da capacidade de fazerem o seu próprio sentido deste novo contexto, constantemente em mudança e onde tudo sucede, na quase ausência de constrangimentos de espaço e de tempo, e a um ritmo acelerado.
A sociedade da informação comporta riscos e sobretudo no campo económico importa observá-la também como sociedade do segredo, geradora de conflitos. Por considerarmos a existência de uma violência económica generalizada, impulsionada por uma deslocação do campo económico para o centro de gravidade das dialécticas de poder e pelo acentuado e explícito fim do apoliticismo económico, é necessária a protecção dos bens informacionais, segunda componente da Inteligência Competitiva.
Por fim, a influência é a pedra de toque desta abordagem inteligente à gestão da informação e do ambiente competitivo. Mais que observar os movimentos dos outros, a agitação do meio, importa verdadeiramente fazer impor a estratégia – e aqui entram em campo a guerra de informação e a guerra cognitiva.
Christian Harbulot e Didier Lucas, da École de Guerre Économique, dizem-nos que a busca de poder, por parte de estados e empresas, para a dominação durável, compreende duas fases estratégicas complementares e indissociáveis, com origem na guerra da informação (acções físicas) e da guerra cognitiva (acções psicológicas). “As acções de guerra da informação que englobam o conjunto de processos de intoxicação, desinformação, manipulação e de destabilização têm lugar em simultâneo com as relevantes aos conflitos cognitivos – alteração dos sentidos e dos símbolos”. Lançados em simultâneo, em larga escala e sobre todo o contexto (geopolítico, geoeconómico, concorrencial e social) estas operações contribuem para assegurar uma cumplicidade inconsciente (que se distingue da submissão livremente consentida) de actores identificados de um modo preciso e assim fazer valer sobre o meio os desígnios estratégicos dos estados e das empresas.
Intelligence, Protecção e Influência. A adopção de uma abordagem inteligente à gestão da informação é condição sine qua non para a existência de uma verdadeira gestão estratégica. Embora seja verdade que muitos gestores, de um modo espontâneo, procuram saber o que está a acontecer à sua volta, só uma sistematização e gestão metódica da informação permite dar às empresas informação de real e elevado valor acrescentado.
A evolução da IC e adopção, em particular, pelas grandes empresas, das principais potencias económicas mundiais, não devia ser desconhecida e, muito menos, indiferente aos gestores portugueses. Ainda que possa existir já um conjunto de práticas implementadas, não é suficiente.
Afinal, a IC procura dar a informação certa, no momento certo, ao decisor, para que este possa tomar decisões por antecipação e não por mera reacção ao que se passa. A mais valia desta abordagem é por demais evidente para que não seja tida em conta.
É tempo de pôr de lado a letargia e a eterna confiança no desenrasca, a que os nossos amigos brasileiros chamam de "jeitinho". Não deixa de ser importante a capacidade inata para o desenrasca, talvez possa até servir uma gestão mais táctica ou operacional, mas para fazer impor uma estratégia é preciso um pouco mais: é preciso ter uma visão sustentada em bases sólidas, em informação trabalhada até ao ponto de permitir reduzir, em larga escala, a incerteza. E para obter essa informação trabalhada é preciso...trabalho, método, inteligência...competitiva.
Tuesday, July 10, 2007
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