Thursday, December 20, 2012

A Inteligência Competitiva do Pai Natal


O Pai Natal usa Inteligência Competitiva, ou seja, analisa as informações públicas (com uma fantástica capacidade de análise de informações abertas globais) e publicadas (cartas ao Pai Natal, por exemplo), para perceber quem se portou bem e mal este ano. 

A todos um Feliz Natal com muita Inteligência Competitiva!

Wednesday, December 19, 2012

A diferença entre Inteligência Competitiva e Espionagem


O caso "Pereira Cristóvão", que faz hoje manchete no Correio da Manhã, está a gerar uma associação indevida de "business intelligence", uma componente da Inteligência Competitiva, com actos que nada têm que ver com esta prática, a comprovar-se o que diz a acusação.

Um caso que põe em causa, para quem não saiba e por falta de melhor informação não possa separar as águas, o trabalho sério de quem se dedica à prática da Inteligencia Competitiva ou da verdadeira Business Intellligence e que vê assim essa prática indevidamente associada a práticas que nada tem que ver com o que se faz nestas áreas, que recusam liminarmente tudo o que ultrapasse a barreira da ética e da legalidade.

Mas é precisamente a quem se dedica à Inteligência Competitiva que se exige ser capaz de melhor explicar o que a IC é, faz e a que se destina, de modo a contrariar a má imagem criada por quem quer que possa decidir fundar empresas ditas de "business intelligence" para, a coberto delas, se dedicar a práticas que, a provar-se terem existido, no entender da acusação configuram ilícitos,

Simplificando, desde já a mensagem: Business Intelligence e Inteligência Competitiva nada têm que ver com espionagem.


Iniciativa ética e legal 

Deixo aqui, por isso, o meu contributo para separar o que são práticas de IC e o que são práticas de espionagem económica, tidas muitas vezes erradamente pela opinião pública como "sinónimos", o que não só é profundamente errado, como leva a desconfianças sobre o que faz, de facto, a IC. E compete à comunidade de IC ser mais clara sobre o que de facto faz.

Em 1985, William Sammon já fazia questão de afirmar que o objectivo da competitor intelligence (uma componente da IC, mas uma expressão usada por alguns autores como sinónimo da IC) “não é roubar os segredos do negócio de um competidor ou outra propriedade privada, mas antes recolher de um modo sistemático, aberto (i.e. legal), um vasto conjunto de informação...”.

A Inteligência Competitiva só existe num quadro ético e legal. Sendo verdade que o enquadramento legal varia de país para país, e no caso da ética, mesmo de organização para organização, de pessoa para pessoa isto deixa margem para se chegarem a zonas cinzentas, exigindo-se uma clarificação.

Por isso, apesar de não ser evidentemente de carácter obrigatório, existe um conjunto de princípios éticos aceite pelos profissionais da Inteligência Competitiva, e estabelecido, nomeadamente, pela principal associação, a Society of Competitive Intelligence Professionals (SCIP).

Desde sempre os teóricos da IC procuraram distinguir o que é do domínio da Inteligência Competitiva e o que se insere nas práticas ilegais de espionagem económica. Em traços gerais, pode-se dizer que a IC não corresponde às iniciativas ocultas ou à espionagem e que apenas pode agir por processos legais de recolha e tratamento de intelligences acessíveis a todos. Mas isto não chega para que se evitem incursões menos claras.

Isto leva, por exemplo, a que haja mesmo um entendimento que não deve ser utilizada informação que sabemos à partida que os outros têm protegida, mesmo que essa informação chegue de um modo fortuito. Poderá, no entanto, haver a interpretação de que se essa informação se tornou disponível, sem que haja conhecimento que a mesma foi obtida de um modo ilícito ou eticamente reprovável, foi porque o concorrente não a protegeu suficientemente e, nesse caso, nada impede a sua utilização. E aqui entramos num caso particular onde dificilmente haverá um consenso.

Nesta discussão há que ter presente o facto de mesmo recorrendo a fontes públicas e/ou publicadas a IC procura identificar as zonas cinzentas e negras da informação, por dedução, a partir das informações abertas. Esse é o seu objectivo e valor estratégico, mas sempre com o carácter de incerteza, pois, certeza absoluta só se conseguiria por vias ilícitas, o que está fora da actuação da Inteligência Competitiva.

A IC, agindo sobre fontes abertas e no estrito campo da legalidade e ética na recolha de informações procura, de facto, deduzir e decifrar aquilo que não é público nem está publicado (por exemplo, tendências ou objectivos de um competidor não revelados), mas que só o pode fazer através de sinais externos públicos e publicados sem que essa dedução, a que a IC procura dar o máximo de fiabilidade possível, configure qualquer ilícito legal ou possa sequer ser questionável do ponto de vista ético.

O facto de se trabalharem fontes abertas não invalida que a análise das mesmas permita aferir por exemplo informação que um concorrente queria confidencial, mas sobre a qual deixou todos os vestígios para quem os procure e saiba ler nas fontes públicas e/ou publicadas.

Ou seja, mesmo que o profissicional da IC procure deduzir o que não é revelado, só o faz com base na informação pública e publicada, obedecendo à ética e legalidade, sem recurso a espionagem ou quaisquer outros ilícitos.

Wednesday, November 21, 2012

Do "boom" chinês ao "boomerang" do re-shoring



O site Inteligência Económica dedica hoje um artigo ao fenómeno do "re-shoring", com "muita da produção de bens deslocalizada para a China a voltar aos Estados Unidos e a indústria americana a retomar o seu desenvolvimento" (Ler: Como os EUA se reindustrializam).

"É nossa análise aqui no IE que o fenómeno está apenas no seu início. E vai, nos próximos anos, ganhar uma dimensão e uma força que ainda há pouco tempo nenhum ‘sinólogo’ admitiria. Outros factores, além dos dois apontados acima [a China tornou-se cara (e custos e tempos de transporte, em tempo de crise, agravam isso) e a acentuada baixa dos custos de energia nos EUA] vão afirmar-se nos próximos tempos e garantir à economia americana um novo tempo de avanço. Se a ainda há pouco impensável baixa dos custos de energia nos EUA é fruto da introdução de tecnologias inéditas e inovadoras na indústria do petróleo, outras inovações tecnológicas emergentes e disruptivas estão à beira de mudar radicalmente o jogo económico e o seu modelo…"

Alguns questionavam se este "re-shoring", ou mesmo o "near-shoring" (deslocalização de produções norte-americanas na Ásia para países mais próximos dos EUA, como o México, por exemplo), será mesmo uma tendência ou um mero buzz sem correspondência com a realidade (Is the Re-shoring of Manufacturing a Trend or a Trickle?), mas os sinais são claros, e há cada vez mais as empresas dos EUA a confirmar a tendência, e os motivos variados, revelam a consistência e vantagens competitivas desta mudança. 


Entre as principais razões citadas para re-shoring pelas empresas estão:

-  O desejo de colocar os produtos no mercado mais rapidamente e responder rapidamente a pedidos de clientes

- Poupança com custos de transporte e armazenagem

- Melhoria da qualidade

- Protecção da propriedade intelectual.

- Pressão para aumentar empregos nos EUA

As empresas preferem hoje produzir em menores quantidades, para ganharem em flexibilidade e melhor responderem a um mercado mais focado na qualidade (disposto apagar um extra pela personalização de produtos e serviços) e em que o ciclo de vida de um produto é menor.

A digitalização de fabricação amadureceu (com o Computer Aided Design, por exemplo) e permite   produzir mais perto dos seus clientes, economizar em logística e tirar vantagem das economias locais, com produtos ajustados às preferências do mercado local.

E outro factor que contribui para esta tendência é o enfraquecimento do dólar, que torna os produtos "made in USA" mais competitivos no mercado global.

China diz que é moda passageira


Como seria de esperar, para a China importa contextualizar a tendência como uma moda passageira e sem grandes consequências. Diz o China Daily: "Reshoring to have limited effect", citando um economista que acha que esta é um fenómeno efémero, e com declarações de responsáveis do Ministério da Economia a insistir que o país continua a ser um mercado atractivo para investidores externos... 

Cada um faz o que lhe compete. Mas tudo aponta, a manter-se a tendência e sem que a China ofereça outra resposta que não a propaganda, para que o "boom" chinês se venha a tornar um "boomerang", com um regresso a casa de quem lá estava a investir.





Tuesday, November 20, 2012

A Falta de Crédito

É insustentável manter a "balança comercial da confiança" altamente deficitária. Importá-la mais do que o que se exporta não é solução.

Este governo esgota aquilo que não pode, em momento algum, faltar: Crédito.

Um crédito que ninguém pode ser acusado de ter em excesso e que tem por base uma vontade imensa de viver sempre acima do que nos dizem ser possível, mesmo face a limites impostos ou impostos limite. Crédito no futuro, uma confiança inabalável de que o que fazemos hoje conta amanhã como algo mais, ou seja, traz valor acrescentado. Um pilar fundamental para que nos mantenhamos competitivos nos diferentes papeis que desempenhamos na sociedade.

Ás nossas “elites” políticas, como outras que em dado momento o país teve em desventura, muito tem faltado aquilo que o Padre António Vieira dizia ser necessário ter: "a inteligência das coisas". E com essa falta contribuíram decisivamente para colocar na cotação "lixo" crédito acumulado ao longo de séculos.

Muito destacam o que devemos a muitos, mas pouco referem o crédito que é devido por todos quantos neste País fizeram e têm feito por merecê-lo.

Preocupados com a confiança dos credores externos, menosprezam a imperativa necessidade de manterem o crédito dos portugueses, não no governo (sempre volátil e pouco relevante), mas no País. Se se preocupassem menos em ser governo do que em governar perceberiam que essa coisa da confiança no executivo é sempre efémera e que, mesmo sem o mesmo crédito que lhe foi depositado nas eleições, um governo pode manter intacta a confiança de cada um no País e na capacidade de, com qualquer governo, prosperar.     

Hoje, não é preciso ler quaisquer sinais fracos para deles tirar ilações, pois são por demais evidentes. O plafond está esgotado... “Crédito Indisponível”. 


Tuesday, November 13, 2012

Elementar, meu caro Watson



Na Inteligência Competitiva, como noutras áreas, nota-se em muito do que é escrito e dito uma tendência para valorizar excessivamente a complexidade dos  modelos, soluções, ferramentas e técnicas usadas. E disto resulta, por contágio, também não raras vezes, um discurso complexo sobre o que a IC é e oferece aos decisores. Mais grave, esta tendência pode resultar, quando transposta para a prática de IC, na valorização da mesma complexidade nas várias fases do ciclo de intelligence, desde a expressão de necessidades, à recolha, tratamento e difusão das informações úteis à tomada de decisão.

Se é verdade que a IC é complexa, é preciso no entanto não esquecer que tem como propósito simplificar o processo de tomada de decisão e que os simples bom senso e senso comum devem ser os primeiros conselheiros de quem tem por trabalho focalizar a atenção das empresas nas informações que verdadeiramente importam obter, proteger e com base nas quais é necessário agir.

A anedota, que aqui partilho, com Sherlock Holmes e Watson, é um bom exemplo de que complicar leva, não raras vezes, a que se perca de vista o elementar...

Sherlock Holmes e Dr. Watson foram acampar. Depois de uma boa refeição e de beberem uma garrafa de vinho, foram dormir na tenda. 

Várias horas depois, Holmes acorda e abana o  fiel companheiro Watson. "Olhe para o céu e diga-me o que vê?"

Watson responde: "Vejo milhões e milhões de estrelas"

"E o que é que isso lhe diz?"  

Watson pondera por um minuto e responde: "Do ponto de vista Astronómico, significa que há potencialmente milhares de milhões de planetas. Do ponto de vista Astrológico, verifico que Saturno está em Leão. Do ponto de vista Cronológico, deduzo que são aproximadamente 03h15m, valor que me é dado pela altura a que se encontra a Estrela Polar. Do ponto de vista da Teologia, posso ver que Deus é todo poderoso e somos pequenos e insignificantes. Pela óptica da Meteorologia, suspeito que teremos um lindo dia amanhã" 

Holmes fica um minuto em silêncio e responde: - Watson, seu idiota! Alguém nos roubou a tenda!

Monday, November 12, 2012

Basta sermos honestos...



Á mulher de César não bastava ser honesta, devia parecer honesta... mas tinha de ser honesta, era uma condição necessária... Em Portugal, na análise ao estado do sítio, a mesma honestidade devia ser exigida a quem procura aparentar ser honesto, mas não o é. Repetida à exaustão, a frase "vivemos acima das nossas possibilidades" é de uma tremenda desonestidade quando usada, como o é, de um modo generalizado.

Quem viveu acima das suas possibilidades? O Estado? As Familías? Todos?

Esta acusação é feita, contextualize-se, num país onde o salário médio ronda os 808 euros líquidos e há 550 mil trabalhadores que ganham o salário mínimo (dados de Junho divulgados pela SS); onde, em Agosto de 2010, a média das pensões pagas aos portugueses pela Segurança Social no primeiro semestre era de 397 euros e estava perto do limiar da pobreza estipulado em 354 euros.

Ou seja, para que fique claro, apesar de em média (quando se fazem generalizações é a média que deve ser tida em conta na argumentação) os trabalhadores portugueses ganharem 808 euros e os reformados uns espantosos 397 euros que ficam 43 euros acima do limiar de pobreza, ambos são acusados de viverem acima das suas possibilidades...

Face a estes números, é de louvar que alguém consiga viver, quanto mais acima de quaisquer possibilidades...

Poderá pensar-se: "pois, lamentavelmente ganham pouco mas as famílias endividaram-se sem saber viver com o que ganharam". Ou, usando a visão Jonet do Mundo, andaram a pedir emprestado para alimentar o luxuoso vício de comer bifes todos os dias...

Um disparate de todo o tamanho e sem qualquer fundamento na realidade quando se fala de um modo genérico...

Quando se diz haver taxas de endividamento das famílias de 129% face ao rendimento anual disponível é preciso saber aquilo que se está de facto a dizer e em que se traduz.

Em primeiro lugar... ninguém está à espera de pagar num ano , nem pessoas, nem empresas, nem Estados, toda a dívida que contraem. E contraem dívida para melhorar as suas condições de vida (independentemente dos juízos de valor que cada um faça sobre o que é qualidade de vida para uns e para outros) e porque, e este é o ponto mais importante, têm expectativas de que a seu rendimento melhore ou na pior das hipóteses se mantenha (alguém acha ilegítimo ter esta perspectiva?), enquanto em simultâneo a inflação ajuda a que o valor da dívida diminua (600 euros de prestação da casa hoje, não têm o mesmo peso no orçamento familiar daqui a 10 anos).

Face a um nível de endividamento de 129% é absurdo que se ache o mesmo preocupante e crime de lesa pátria. Estamos a falar de um valor de dívida que se paga com 15,5 meses de ordenado. Quinze ordenados e meio bastam, em média, para liquidar toda a dívida das famílias...

Há casos de endividamento maior, é evidente que sim, 200 mil famílias portuguesas enfrentam uma taxa crítica de esforço financeiro  (casos em que o peso dos encargos da dívida pesam mais de 40% do rendimento). Mas mais de 60% da população em 2012 não tem quaisquer dívidas à banca e no universo de 38% de agregados que têm dívidas a taxa mediana de esforço é de 16%.

Houve assim quem, de facto, vivesse acima das possibilidades , mas as famílias (no seu todo, tendo em conta os dados citados) não o fizeram, viveram com as possibilidades que lhes são dadas também pelo crédito, e, prova disso mesmo, a larguíssima maioria cumpre as obrigações que tem para com o Estado e com os credores, apesar dos juros escandalosos cobrados pela banca e da absurda carga fiscal.

E, espanto, as famílias até poupam, precisamente porque não têm de pagar dívidas em apenas um ano. A poupança bruta das famílias em % rendimento disponível das famílias foi de 9,7 em 2011... Nada mal para famílias genericamente rotuladas de sobreendividadas.

Ou seja, em cada ano, contas feitas aos encargos anuais e receitas anuais, as famílias têm superavit (mais que cumprem o Pacto de Estabilidade e Crescimento).

Confundir a situação de endividamento das famílias com a do Estado (com uma taxa de esforço financeiro este ano de 70,5%), e usar isso como chantagem emocional é absolutamente inaceitável.

Com o Estado há de facto um sério problema, mas não deveria ser a dívida pública ir atingir os 111,6 % do PIB o motivo de alarme, pelas mesmas razões já notadas para as famílias. Só o é face à incapacidade de entre o deve e o haver, a cada ano, o Estado ter saldo positivo e, assim, baixar o peso relativo do esforço com a dívida. Ao contrário das Famílias, o Estado não consegue fazer o exercício conjunto de pagar dívidas, consumir (investimento na economia, oferta de serviços públicos e apoio social) e poupar.

Tomara mesmo que Portugal ainda tivesse capacidade de se endividar, porque aí não seria necessária qualquer troika de dinheiro por condições.  Não tem, porque a máquina do Estado é incapaz de parar de gastar mais do que o que a receita que obtem e apenas isso deve merecer discussão. E este Governo só sabe aumentar artificialmente a sua "qualidade de vida", por transferência directa do rendimento das famílias.

Ao contrário das famílias, o Estado não sabe gerir os recursos anuais disponíveis nem a possibilidade que lhe é dada pelo crédito interno e externo de, pelo investimento desse crédito, viver, de um modo sustentável, cada dia acima das possibilidades que teria sem esse crédito. Era de esperar que esse crédito e o outro tipo de crédito dado pelos portugueses aos políticos em cada votação se traduzisse em  investimento e na concretização na realidade das possibilidades artificiais que já estavam a ser dadas hoje. Pior, o Governo optou, ao invés de reduzir despesa e gerar condições para aumento de receita, por manter o estilo de vida à custa de uma descarada retirada de rendimento disponível de famílias e empresas, que só podem ser acusadas de ingenuidade face à capacidade dos políticos cumprirem as expectativas depositadas.

As famílias portuguesas fizeram um crédito habitação para terem, 30 anos antes de a poderem pagar na totalidade, a casa que esperavam poder vir a ter. E só por falta de senso se pode achar isto ilegítimo (as famílias apostaram num futuro melhor, acreditando na capacidade própria para o concretizarem e isto revela ambição e confiança). Do mesmo modo, pagaram licenciaturas e mestrados aos filhos, antecipando uma vida melhor para os seus que recompensasse o investimento feito.

E mesmo depois do estoirar da crise, as famílias continuaram a conseguir manter alguma dignidade de vida, ajustando o consumo, como se nota nas estatísticas, enquanto o Estado nada fez para conter gastos e aumentar receitas induzindo crescimento económico e confiança nas famílias e empresas. Muitos só não podem hoje não manter uma vida acima do que lhes seria possível sem crédito,  porque o Estado, ao invés de resolver os problemas ineficiência da máquina, decidiu optar pela solução mais fácil de espremer mais os contribuintes, retirando às famílias, parte ou a totalidade da margem que tinham para viverem orgulhosamente com dívidas, pagá-las, consumirem e pouparem. Para com o conforto dado pelo crédito, viverem já hoje acima das possibilidades dadas por um Estado que revelou ao longo de décadas ausência de estratégia e incapacidade para gerir a "coisa pública" e que, face a essa incapacidade, se devia coibir de destruir, com políticas de austeridade pela austeridade, aquilo que ainda funciona no país: a capacidade das famílias gerirem o seu dinheiro. Familías a que o Estado nada tem a ensinar e com que tem ainda muito que aprender, sobretudo em honestidade.

Friday, November 9, 2012

Dilbert - "The Competition"

Porque vêm aí o fim de semana deixo este vídeo da popular série de animação Dilbert, sobre "The Competition"... Um vídeo com muito humor, mas de onde é possível tirar algumas conclusões sobre o que se deve e não deve fazer quando se trata de lidar com a concorrência e também uma mordaz forma de mostrar os limites da segurança dos segredos empresariais...





Thursday, November 8, 2012

Intelligence no código genético















A influência da intelligence, enquanto princípio e modelo, no desenvolvimento de uma gestão estratégica das informações nas organizações é por demais evidente – em particular pela aplicação do “ciclo de intelligence” como metodologia e elemento central da primeira componente da Inteligência Competitiva (precisamente, a Intelligence) – e fundamental para que se possa entender o que é a Inteligência Competitiva.

Apesar de haver a recusa, por parte de alguns autores, de assumir uma relação da IC com as práticas militares de intelligence (muitas vez confundidas com o campo mais restrito da espionagem e das práticas ilegais de recolha de informação), a verdade é que quando se localizam as fontes em que esses autores se basearam para sustentar uma origem não militar da Inteligência Competitiva encontramos a contradição da sua abordagem.


O conceito de intelligence

A palavra inteligência possui múltiplos significados. Tem origem no latim - intelligentia – e significa a faculdade que tem o espírito de pensar, conceber, compreender, o discernimento. É ainda sinónimo de juízo, raciocínio, mas também significa a capacidade de resolução de novos problemas e de adaptação a novas situações.

Entre os restantes significados desta palavra encontramos ainda conluio ou entendimentos secretos, sem que, no entanto se recorra, por norma, em Portugal, à designação inteligência para referir essa relação secreta entre pessoas. A aplicação comum reduz-se à ideia de juízo, capacidade de raciocínio.

Ora, nas significações várias atribuídas a esta palavra na língua portuguesa não encontramos aquela a que se referem a Central Intelligence Agency (CIA) norte-americana ou as forças militares quando falam de intelligence.

De acordo com a Enciclopédia de Espionagem, Inteligência e Segurança: “Intelligence designa a informação relativa a uma entidade estrangeira, normalmente (embora nem sempre) um adversário, bem como as agências preocupadas com a recolha dessa informação. Está intimamente ligada ao Ciclo de Intelligence, um
processo pelo qual a informação bruta é recolhida, convertida em intelligence e disseminada aos consumidores apropriados”.

Nos serviços militares e das agências, o termo intelligence designa, portanto, um conhecimento obtido a partir de um conjunto de informações em estado bruto, cujo tratamento permite um grau de fiabilidade com o objectivo da sua utilização pelo comando.

Esta designação refere-se a informação tratada, bem como à actividade e à função que consiste em organizar a recolha de informações e depois a proceder ao seu tratamento e difusão. Não existe, no entanto, qualquer distinção entre a origem aberta ou secreta da informação. A distinção que pode ser feita é entre os métodos e meios que são usados na captação dessa informação, com a recolha de informações secretas a estar destinada aos serviços especiais e a de informações abertas aos serviços de intelligence, a que, em Portugal, denominamos serviços de informações.

Para evitar a confusão entre a acepção anglo-saxónica de intelligence e a, corrente em Portugal, que toma como entendimento do conceito de “inteligência” a capacidade de raciocínio; opto, quando falo das práticas militares ou da adopção da intelligence, como matriz metodológica e primeira função da Inteligência
Competitiva, por usar a denominação inglesa.

Logicamente, uma significação não exclui a outra, mas se assim não o fizesse a frase com que termino este post perderia em clareza:


Não é possível produzir inteligência, a partir de informações brutas, sem inteligência, do mesmo modo que o exercício de inteligência não é mais que a execução mental de um processo de transformação de dados desagregados em inteligência, informação útil a cada decisão tomada e acção executada.


Traduzindo:

Não é possível produzir intelligence, a partir de informações brutas, sem inteligência, do mesmo modo que o exercício de inteligência não é mais que a execução mental de um processo de transformação de dados desagregados em intelligence, informação útil a cada decisão tomada e acção executada.


Monday, November 5, 2012

O fim da ilusão




O quadro de guerra económica é o cenário e também, em parte, a justificação para a necessidade das organizações adoptarem uma atitude pró-activa que lhes permita criar as condições favoráveis, ao invés de esperarem e adoptarem uma atitude meramente reactiva.

A evolução do contexto global, impulsionada pelas novas tecnologias de comunicação e informação, fez-se no sentido de uma “economização” – passámos de uma lógica geopolítica para uma lógica geoeconómica – e a informação substitui hoje o capital e a energia como motor da nova economia. Estas duas condições, sustentadas numa globalização das trocas, contribuíram para um estado de hipercompetitividade onde todas as certezas são efémeras e onde capacidade de adaptação constante às bruscas mudanças do contexto se tornou fundamental à sobrevivência. Todo este conjunto de factores exige a adopção de uma nova abordagem à gestão estratégica da informação, capaz de conferir às organizações uma autonomia, para que possam produzir sentido a partir de uma realidade onde dados e informações dispersas são superabundantes e, assim, tomarem a melhor decisão, no momento certo.

É necessário, já aqui o disse,  adoptar uma nova grelha de leitura para que deixemos cair uma visão demasiado angelical e optimista do contexto e possamos observar – não é caso para que se diga “em todo o seu esplendor” – na sociedade da informação uma sociedade do segredo. Pilar desta constatação, o carácter eventual da informação. A informação é manipulável e manipulada e é hoje usada como arma num contexto económico cada vez mais marcado pelo conflito, uma guerra económica.

“As utopias originais, a euforia e idealismo de um paradigma das auto-estradas da informação caíram, foram consumidas com as bem sucedidas estratégias e dialécticas conflituais”, diz Didier Lucas, director do Institut Choiseul, no artigo “La prise de contrôle des marchés émergents, composants de la stratégie globale des Etats-Unis - Le cas de la Moldavie“.

Os estados mais evoluídos criaram batalhas comerciais, culturais e sociais de uma amplitude inédita e “paradoxo das economias capitalistas e liberais, as empresas tornadas necessariamente multinacionais, beneficiam de medidas activas com vista à conquista de mercados e de directivas governamentais destinadas à promoção dos seus interesses comerciais”.

A instauração, particularmente pelos Estados Unidos, na era Clinton, de doutrinas de segurança económica (no caso dos americanos pilar da política económica) “vieram selar o fim da ilusão”. Como diz o autor, o apoliticismo económico deixou de fazer sentido.

A livre mão do mercado deixou de reinar, os estados viram, principalmente após o fim da Guerra-fria, na economia o campo geoestratégico por excelência, a principal fonte de poder, e esta circunstancia per si contribuiu significativamente para um endurecimento da concorrência.

Hoje, a concorrência económica afecta de um modo absolutamente central as esferas social, política e mesmo cultural.

Ao contrário do que acontecia durante a Guerra-fria, torna-se mais claro que um aliado militar pode ser um inimigo no campo económico. O desaparecimento do inimigo único, o outro claramente identificado, levou ao ressurgimento, embora de um modo dissimulado, de um conflito global – agora na esfera económica.

Neste novo tabuleiro, a informação fez-se arma e a sua condição imaterial veio facilitar de sobremaneira a escalada do conflito – é mais fácil e “humano” enviar um vírus informático e afectar milhões de computadores do que cometer um genocídio, é mais fácil destruir a reputação de uma pessoa ou de uma empresa através de rumores do que derrubar um regime pela força das armas.

As cinco forças competitivas de Porter

Entrevista com Michael E. Porter, Professor da Universidade de Harvard. As cinco forças competitivas de Porter são a base de grande parte da estratégia de negócios moderna. Um interessante vídeo para compreender o modelo e saber como colocá-lo em prática.


Tuesday, October 30, 2012

Informação não é factual é eventual


A informação é o resultado de um processo inteligente de construção de uma representação factual (evento), onde a comunicação é capaz de esbater uma incerteza (elemento de conhecimento) ou resolver uma alternativa ambiental (ajuda à decisão)

A sociedade da informação, impulsionada e sustentada nas novas tecnologias de informação e comunicação, veio alterar consideravelmente o contexto ambiental das empresas e comporta riscos, constitui um desafio. Implica uma nova percepção das ameaças, sobretudo informacionais, e também uma evolução dos indivíduos, das organizações.

Na base fundamental desta constatação está o facto de a actual sociedade estar sustentada num pilar imaterial, a informação, que não pertence ao domínio do real observável, mas antes ao domínio do construído. Ou seja, a informação não é factual é eventual.

Em termos de abordagem a esta problemática, é preciso em primeiro lugar entender que a informação não é a expressão de uma realidade e que, por isto mesmo, pode ser objecto de manipulações. Logo, não é compatível com adopção de um positivismo lógico onde apenas os critérios do real são observáveis.

A informação resulta de um processo de construção, podendo ou não reportar uma realidade. Reporta antes um evento que pode ou não ser real e, no sentido matemático, introduz a noção de fenómeno probabilístico, susceptível de ser percepcionado e interpretado. Numa acepção sociológica, o evento pode resultar de representações sociais e crenças colectivas e, por isso, ser imaginário.

É preciso notar que se o evento gera informação esta também tem a capacidade de gerar o evento. A acrescentar a isto, podemos entender um evento real como uma verdade susceptível de ser ocultada ou deformada e, por outro lado, o evento pode ter uma origem imaginária. O mito e o rumor podem suscitar eventos não reais.

Assim, a informação é resultado de um processo de construção, logo é manipulável e manipulada, sem que necessariamente se tenha de interpretar esta manipulação como algo malicioso (ao contrário do que a imagem ao lado sugere).

O emissor e receptor no processo informacional interagem com a informação, interpretam-na, dão-lhe sentido e alteram-na. O processo informacional não é, nem pode ser visto como, algo objectivo. É, pois, necessário analisar a questão da informação sem pôr de lado a dimensão humana.

A este propósito, note-se que os especialistas de intelligence são formados segundo o princípio de que uma intelligence não procura mais do que um certo grau de exactidão na interpretação do real. A expressão “certa” é geralmente banida e substituída por termos como “possível, “provável”, “muito provável”.

A intelligence visa reduzir a incerteza e não fazê-la desaparecer. Logo, a Inteligência Competitiva, através da vigilância da envolvente, da captação, tratamento e análise da informação externa, visa reduzir a incerteza na tomada de decisão.

A informação, pelo simples facto de não ser uma expressão sistemática da verdade, comporta riscos (manipulação, desinformação). Deste facto, desde logo, resulta uma necessária atitude vigilante, integrando um componente de protecção face às ameaças e ainda a capacidade de agir sobre o meio para o tornar favorável.

O estudo dos riscos informacionais permite aferir a necessidade, por parte das organizações, da aquisição de autonomia informacional. E a aplicação de instrumentos da intelligence no contexto económico, de
um modo ético e legal, responde a esta necessidade.

Monday, October 29, 2012

Sociedade da informação vs. Sociedade do segredo



Por oposição à visão humanista, de entendimento global, partilha de valores, trocas culturais enriquecedoras e de paz, alguns vêem a sociedade da informação como um sistema gerador de exclusão, com base numa hipocrisia obtida pelo engano e desinformação, que oculta, na verdade, uma guerra económica entre as nações.

A informação, hoje superabundante, capaz de tudo esclarecer e de iluminar todas as decisões, comporta, na realidade também segredos e manipulações.

Assim, face a esta sociedade da informação e do conhecimento impõe-se uma nova grelha de leitura que a veja também como sociedade da desinformação e do desconhecido.

O segredo é a “alma do negócio”

O segredo é também pilar fundamental de um contacto global entre povos e nações e, como diz o ditado, é “a alma do negócio”.

A um mundo ideal onde tudo se sabe contrapõe-se uma realidade onde, não raras vezes, impera o não dito.

A sociedade da informação pode ser entendida como uma realidade construída pelo homem para reduzir as suas incertezas, mas é também geradora de dúvidas, de segredos, logo de conflitos entre os que sabem, os que não sabem e os que querem saber.

É, pois, fundamental o entendimento, por parte dos actores económicos, que a informação comporta perigos, pelo que é necessário às organizações desenvolverem um sistema de filtragem e análise da informação que informe e forme a acção. Por outro lado, a possível utilização da informação como arma pelos outros torna também necessária uma mudança do entendimento da componente protecção para que possam não só proteger a própria informação como para evitar cairem no engano de tomarem como válida a informação que outros fornecem.


Ameaça da espionagem chinesa, o caso Huawei

As empresas chinesas Huawei e ZTE representam uma ameaça à segurança e à propriedade intelectual das empresas que utilizem a sua tecnologia. O alerta partiu do congresso norte-americano, após quase um ano de investigação, mas já tinha sido dado em França, onde Jean-Marie Bockel , num relatório de ciberdefesa, tinha pedido um bloqueio europeu à utilização de routers e outras tecnologias chinesas.

Mike Rogers, o presidente do comité que analisou o tema, afirma ao programa televisivo 60 Minutos que se estivesse no lugar de uma empresa americana que se preocupasse com a propriedade intelectual, na altura de escolher o parceiro de telecomunicações optaria por outro vendedor...

Wednesday, October 24, 2012

Autonomia Informacional, a sobrevivência dos mais aptos


Numa era dominada pela informação, feita principal matéria-prima da nova economia, às organizações torna-se imperativo libertarem-se da dependência informacional a que se submeteram e que as limita.


Num contexto incerto e dinâmico, dominado pela informação, as organizações devem ter consciência da sua vulnerabilidade, no que se refere à dependência informacional, e isto apela a uma nova capacidade de adaptação ao meio para sobreviverem, seguindo o postulado de Darwin, para quem só os mais adaptados sobrevivem.

The Darwin Economy (book cover)
Para fazer face a esta evolução, com repercussões directas nas ferramentas de gestão, a Inteligência Competitiva permite dar um salto qualitativo, de um entendimento da Era da Informação para o domínio da Era da Intelligence.

“A única certeza é a incerteza”, dizem Nonaka e Takeuchi. Por isso, face às flutuações da envolvente, as empresas devem ser capazes de gerir com avanço o meio e o risco económico e operacional a que estão sujeitas.

Assim, torna-se indispensável à sobrevivência das organizações o desenvolvimento de um sistema próprio de produção de informação e também a adopção de uma atitude vigilante face ao ambiente competitivo, na sua essência informacional, para que obtenham aquilo a que Bulinge intitula “autonomia informacional”.

“Face aos riscos da ignorância ou recusa, voluntárias ou não, do desenvolvimento da sociedade da informação, a Inteligência Económica surge como solução coerente das problemáticas informacionais ligadas à sociedade da informação”, diz-nos o autor.

Hoje, o desafio que se coloca aos indivíduos, às organizações e aos países passa por serem capazes de adquirir uma autonomia face aos riscos de dependência gerada e promovida pela sociedade da informação.

A economia da informação, diz Petit, “toma como objecto central da economia todo o sistema que produz, difunde e interpreta as informações”, ou seja, a informação é um recurso “natural” ou produzido.

Nesta dinâmica de produção e aquisição de informação existe uma alternativa: depender daquilo a que Moshowitz denomina “merchandise informacional” ou produzir as próprias informações de modo a que os decisores possam adquirir uma autonomia na tomada de decisão.

Ao invés de permanecerem nesta lógica de dependência, as organizações devem ser capazes de desenvolver a capacidade de recolha e tratamento da informação, de um modo sistemático, para minorarem os riscos da tomada de decisão e, assim, deterem uma vantagem competitiva sobre os seus competidores. Só, deste modo, serão capazes de sobreviver à crescente pressão informacional.

Se entendemos a informação como pilar da sociedade e da economia, então o seu domínio passa a ser fundamental para a afirmação global de organizações e países. Alerto, no entanto, para a necessidade de se adoptar uma perspectiva menos angelical e perceber que o confronto pelo controlo da informação, para um controlo da economia, se joga à escala global por subentendidos, por desinformações e manipulações num quadro de guerra de informação que se inscreve num quadro mais geral de guerra económica onde à sociedade de informação se opõe (e muitas se impõe) a  sociedade do segredo.

Thursday, October 18, 2012

Como as empresas usam a IC, entrevista a Leonard Fuld

Leonard Fuld, presidente da Fuld & Company, e uma das referências internacionais na IC, fala sobre inteligência competitiva e como as empresas a usam para eticamente recolher informações e criar sistemas de "early warning" para identificar ameaças e oportunidades no mercado.

Descreve ainda como a Fuld & Company usa jogos de guerra com os clientes para ajudá-los a antecipar movimentos dos concorrentes e se preparar para futuras decisões estratégicas.

Portugal não é "concorrente" do Paquistão




Começa a 01 de Novembro o levantamento temporário pela UE de taxas alfandegárias sobre certos produtos originários do Paquistão, por via do European Union Autonomous Trade Preference Scheme. 

Portugal, a par de Espanha e Grécia, foram os países que estiveram contra a decisão, face a receios de o comércio com o Paquistão "penalizar os países mais pobres, atingindo sobretudo a indústria têxtil portuguesa e podendo destruir postos de trabalho".

Os eurodeputados portugueses chegaram mesmo a pedir o impedimento da abertura do mercado da União Europeia aos têxteis do Paquistão, decidida pela Organização Mundial do Comércio (OMC), em nome da protecção da "indústria têxtil e do vestuário de Portugal e da Europa das situações de dumping e de concorrência desleal que aquela abertura implicará".

Na base do pedido português esteve o facto de "as empresas portuguesas e europeias terão de concorrer com empresas paquistanesas que recorrem ao trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais, utilizam matérias-primas proibidas na UE e subvertem as normais regras de mercado", uma observação muito válida, aliás a única, mas usada ao serviço de uma abordagem errada ao problema.

Se com esta conquista o Paquistão dá provas de Inteligência Competitiva já a reacção portuguesa - e falo apenas nesta porque é que me interessa - é reveladora da falta de IC que há no país e da falta que a mesma faz.

E quando ouvimos as autoridades paquistanesas afirmar que "foi um grande sucesso para o Paquistão ter esta oportunidade, apesar da oposição de Portugal, Grécia e Espanha, que não são apenas concorrentes do Paquistão na Europa, mas também membros da UE", a coisa ainda é mais clara.

Enquanto Portugal se projectar na Europa e no Mundo como "concorrente do Paquistão" não terá sucesso, porque cria uma imagem que o impede.

 A argumentação portuguesa tinha que ter ficado apenas por: "as empresas paquistanesas que recorrem ao trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais, utilizam matérias-primas proibidas na UE e subvertem as normais regras de mercado".

Que ninguém nos oiça:  É um facto que (face à existência de um modelo industrial no país ainda muito de terceiro mundo) o Paquistão é actualmente concorrente de várias indústrias portuguesas.

Mas isto não pode ser afirmado à escala do País. E para defender essas empresas a defesa tinha de ser outra.

Portugal não é concorrente do Paquistão... ponto! Há empresas que até podem ser concorrentes de empresas paquistanesas... mas apenas isso e nem vale a pana o referir. O que não se pode é admitir que "a UE estabeleça comércio com países onde empresas recorrem ao trabalho infantil, não suportam custos sociais, ambientais, utilizam matérias-primas proibidas na UE e subvertem as normais regras de mercado".

Ao falar em questões de concorrência Portugal conseguiu apenas relativizar a questão, colocada no plano de: "estão se só a queixar, não por questões éticas, mas por questões económicas porque são concorrentes directos dos paquistaneses". E levou mesmo os Paquistaneses a poderem agora aproveitar isso...  

Resultado: O Paquistão entra no mercado com imagem de marca de concorrente de Portugal que ganhou a primeira batalha da guerra económica entre dois competidores...

Wednesday, October 17, 2012

IC por Alain Julliet

Grande mestre da Inteligência Económica, ex-patrão dos serviços de informação franceses e ex-CEO de várias multinacionais, Alain Juillet em entrevista, já de 2008, mas sempre actual, ao France 24



A. Juillet on Competitive Intelligence por france24

Tuesday, October 16, 2012

Inteligência Competitiva explicada em 4 minutos

Uma boa introdução à Inteligência Competitiva:

 

Hipercompetição, o fim da vantagem competitiva durável de Porter


A nova economia é  marcada por um novo quadro competitivo. Richard A. D’Aveni  na obra "Hypercompetition”, publicada em 1994,  defendia o facto de o ambiente onde as empresas concorrem se ter transformado num ambiente hipercompetitivo que ultrapassa todas as regras tradicionais da competição.

Segundo o autor, a Hipercompetição é uma situação concorrencial onde o factor competitivo fundamental reside na capacidade de constantemente desenvolver novos produtos, processos ou serviços que respondam às vontades dos clientes. Num tal ambiente, as empresas não podem contar com uma vantagem competitiva durável, tal como preconizava Michael Porter, vêem-se antes obrigadas a mudar de rumo, de
um modo constante.

Entre as características da Hipercompetição estão: a dificuldade, senão mesmo a impossibilidade, de gerar e manter vantagens concorrenciais duráveis; a existência de uma inovação rápida e perturbadora do mercado, com desvalorização acelerada dos conhecimentos adquiridos; a escalada concorrencial; o crescimento do poder dos clientes; a avaliação contínua do mercado pelos clientes; o fim do respeito pelo status quo, por parte de todos os actores; o fim da fidelidade dos clientes; e a ruptura de mercado tornada regra.

Assim, a Hipercompetição configura um estado de competição intensa que pode tornar-se fatal a quem não dominar as regras do jogo.

Passagem do poder de mercado para os clientes, declínio das barreiras à entrada; aceleração da mudança tecnológica; chegada de empresas com grandes recursos financeiros; desregulação dos mercados e globalização foram alguns dos factores que convergiram para a criação deste novo contexto hipercompetitivo, onde os decisores devem apoiar-se numa visão estratégica, por sua vez sustentada numa
abordagem inteligente que lhes permita apreender o essencial.

O lema que se impõe é “Mudar ou Morrer”, tal como dizia Jack Welsh, durante a sua presidência na gigante norte-americana General Electric. Neste novo ambiente hipercompetitivo, toda a vantagem é provisória, o que para organizações ágeis poderá configurar não uma ameaça, mas uma oportunidade.

Friday, October 12, 2012

10 diferenças entre a velha e a nova economia




Porque nunca é demais lembrar, aqui estão os princípios em tempos enunciados pela publicação on-line da revista Business 2.0, para melhor se fazer a distinção entre a nova economia e a antiga, numa altura em que surgem fantasmas de velhos modelos económicos, que perderam o momento com o surgir de novas realidades. Estas exigem que cada estado entenda o papel que pode desempenhar, tal como já o entenderam há muito os EUA...

1. Matéria: Importa cada vez menos. O processamento de informação é drasticamente mais poderoso e menos custoso que a deslocação de bens materiais. Cada vez mais, o valor das empresas está nos bens intangíveis e não nos tangíveis;

2. Espaço: A distância desapareceu. O mundo é o nosso cliente e competidor;

3. Tempo: Está a colapsar. A interactividade instantânea tornou-se crítica e origina uma mudança acelerada;

4. Pessoas: São a jóia da coroa e sabem-no. Mais do que em qualquer momento da história, muito do valor resulta de ideias inteligentes e das tecnologias ganhadoras e modelos de negócio resultantes dessas ideias. A capacidade cerebral é o motor da nova economia;

5. Crescimento: É acelerado pela rede. A Internet permite drasticamente acelerar a adopção de um produto ou serviço. Nunca como agora existiu uma tão grande vantagem para os primeiros a avançarem;

6. Valor: Cresce exponencialmente com a quota de mercado. O efeito de rede leva a uma personalização das compras e das escolhas via plataformas especializadas;

7. Eficiência: A sobrevivência dos intermediários. Os “infomediários” substituem os intermediários. Os distribuidores e agentes tradicionais estão seriamente ameaçados por uma economia em rede onde compradores conseguem contactar directamente com os vendedores. No entanto, surge uma nova espécie de intermediário, necessário para tornar dados dispersos em informação utilizável. Oferecem serviços agregados ou uma assistência especializada a clientes ou, ainda, tecnologia poderosa para auxiliar nas compras;

8. Mercados: Desapareceram as barreiras físicas. Os compradores estão a ganhar novos poderes e os vendedores novas oportunidades. A comparação de preços é feita a partir de casa, com, inclusive, programas de software a ajudarem a encontrar a melhor oferta;

9. Transacções: Jogam-se “um para um”. É mais fácil personalizar informação que bens materiais e a primeira começa a ganhar um peso cada vez mais relevante nos produtos hoje comercializados. A tecnologia permite, de um modo aparente, oferecer em linha um serviço personalizado;

10. Impulso: todos os produtos estão disponíveis em todo o lado. Neste sentido, diminui a distância entre o desejo e a compra. Na Internet, as barreiras físicas e mentais que separavam tradicionalmente desejo e compra desaparecem e esbatem-se, basta um clique;

Tuesday, October 9, 2012

O sempre novo contexto


Em 1994, num discurso do vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, a sociedade da informação surge, enquanto expressão de um ideal de país, de saber e de transparência, sustentada nas “auto-estradas da informação”. Um discurso anunciador de um mundo humanista fundado sobre Novas as Tecnologias de Informação e Comunicação, de um mundo ligado em rede, com a Internet a servir de suporte por excelência a esta nova forma de estar no mundo, que ultrapassa quase em pleno os constrangimentos de espaço e de tempo. Nas NTIC, o Homem encontrou as extensões que nos permitem estar em todo o lado, sem termos necessidade de sair das nossas casas.

Projectamo-nos hoje no mundo pelas tecnologias de informação e comunicação, somos no mundo através da linha do telefone, do ADSL, da banda larga, projectamo-nos na informação e pela informação, do mesmo modo que por esta nos apercebemos do mundo. Somos hoje bits, deslocamo-nos a velocidades de 100Mb/s. As nossas ideias são hoje transportadas em documentos, com as extensões doc ou pdf, anexados num qualquer e-mail que quase não respeita o tempo ou espaço que a geografia impõe. E nunca, como hoje, tivemos a capacidade de agir no quase imediato sobre um espaço global, o que confere aos indivíduos, às organizações e às sociedades oportunidades fantásticas, mas também ameaças crescentes.

As profundas alterações económicas, tecnológicas e sociais vieram mudar as regras do jogo pelas quais as empresas se regiam ao conduzirem por estradas seguras, sempre mais contínuas que descontínuas, e onde o factor estabilidade e as certezas do caminho já percorrido permitiam aos decisores, com uma margem de erro reduzida, perspectivar a continuação de um percurso invariavelmente recto e de prosperidade económica, desde que, claro, o rumo fosse mantido e a posição da empresa na “estrada” acautelada.

Hoje, como bem se vê pela actual crise, o percurso apresenta-se bem mais sinuoso, cheio de imprevisto, de intersecções e tem de necessariamente ser feito a um velocidade intensa. Disto resulta que quaisquer bloqueios ou curvas apertadas no rumo dos mercados, a par de todas as outras condicionantes da envolvente, têm de necessariamente ser antecipados, sob pena de a empresa correr o risco de sair fora da estrada.

Nos ralis, tão ou mais importante que a capacidade ou afinação dos veículos ou mesmo a qualidade dos pilotos, é fundamental o papel do co-piloto, munido de todas as indicações sobre o caminho a percorrer. É o co-piloto que dá ao condutor a segurança de poder acelerar sem receios e anuncia de forma sistemática a intensidade da curva que se segue.

Claro que a tripulação poderia sempre optar por conduzir moderadamente, sem ter qualquer indicação do percurso ou, num espírito mais radical, tentar adivinhar cada curva sempre com o pé no acelerador. Se a primeira hipótese consiste numa renúncia à competição, a segunda só pode levar, mais curva, menos curva – a não ser que o dom da adivinhação seja de facto muitíssimo grande – ao precipício.

Por perceberem que os desafios do contexto competitivo de hoje obrigam a um melhor conhecimento possível dos competidores, de todas as condições envolventes que afectam o mercado e a posição das suas empresa, os decisores percebem, cada vez mais, a necessidade de obterem as informações que permitam, após a devida análise e tratamento, antecipar as mudanças, melhorar a competitividade das suas empresas e manter uma posição sustentável no mercado, incontornavelmente global.

Monday, October 8, 2012

Informação: Papel central exige Gestão Estratégica




O papel central da informação no pensamento económico apela à gestão estratégica da informação por parte dos decisores e das organizações

As NTIC vieram facilitar o acesso à informação, em particular à informação necessária à tomada de decisão. Há um excesso de informação, com a dificuldade a passar da procura para a selecção e domínio de toda a informação que nos envolve.

Esta nova realidade informacional apela a uma gestão estratégica da informação por parte dos decisores e das organizações para que seja possível, em primeiro lugar, gerar um sentido de toda uma amálgama de dados dispersos, mas também apela a que essa gestão seja ofensiva, ou seja, que as empresas consigam não só obter a informação de que precisam, como também sejam capazes de organizar essa informação e agir sobre o espaço informacional.

Ver a este propósito:

Gestão Dinâmica do Ambiente Competitivo 

 .
Porque a informação, tornada matéria-prima fundamental da nova economia, é a fonte de poder, é preciso perceber, na dinâmica concorrencial, uma luta constante pelo controlo da informação e uma utilização também permanente da informação como arma.

Daí que se torne fundamental às organizações a capacidade de observarem o mundo à luz de uma nova grelha de leitura que permita, em particular, obter uma perspectiva menos angelical dos conflitos económicos, perceber o lugar central da economia, as dinâmicas de influência e busca do poder que isso gera e ainda – talvez se deva mesmo entendê-lo como moldura de todo este novo quadro – o facto de, a uma sociedade da informação, das certezas unificadoras, se poder contrapor uma sociedade do segredo, da informação manipulada, da desinformação, do engano, fonte geradora de muitas incertezas.

A Inteligência Competitiva impõe-se, assim, como grelha de interpretação deste novo mundo onde a sociedade se economizou. Um mundo onde os decisores empresarias se baseiam mais nos escritos de Sun Tzu do que nos de Adam Smith e onde os campos de batalha fizeram uma incursão nos domínios da economia. Um mundo global que assistiu ao casamento da geopolítica com a economia e viu, nas últimas décadas, entre outros indicadores, o aparecimento de grandes blocos económicos e, sobretudo, uma desmaterialização das fronteiras, com todas as consequências positivas e negativas que daí advieram.

Na guerra económica, como na guerra tradicional, quem for capaz de antecipar os movimentos do outro e perceber as condições favoráveis ou desfavoráveis da envolvente, sairá vencedor. Mas, este novo confronto faz-se actualmente a uma velocidade instantânea e joga-se num território global, encabeçado pelos países da “Terceira Vaga”, assim enunciados por Alvin Tofler.

Numa Era dita de globalização, o centro nevrálgico do confronto não está mais nos territórios, mas nos mercados. E esta nova Era exige um controlo do imaterial, da informação geradora de conhecimento, ou seja, apela a uma gestão estratégica e ofensiva da informação, para aperceber oportunidades ou ameaças e agir sobre o meio.

Os actores económicos devem, assim, ser capazes de usar a informação como arma estratégica para fazer face ao desafio que representa a complexidade de um ambiente global e da concorrência mundial. Ora, a Inteligência Competitiva demonstra que 95% da informação está disponível de um modo aberto e serve para dar resposta a este desafio, sem necessidade de se recorrer a métodos ilegais.

O perigo, sustentado por uma visão demasiado optimista da sociedade da informação, é os decisores pensarem que têm já as cartas todas, graças à livre circulação da principal “matéria-prima”. Ao invés de uma contemplação, exige-se uma perspectiva crítica capaz de responder aos desafios e ameaças ocultas na maré de informação.

Não pode um decisor cair na tentação de achar que controla o mundo e que tudo sabe. Na verdade, tal como nunca como hoje tanto se pôde saber, hoje, como nunca, sabemos cada vez menos. Para que possamos navegar com alguma segurança neste oceano de informações e contradições precisamos de uma estratégia clara, sustentada não por uma qualquer bola de cristal, mas por uma recolha, tratamento e difusão sistemática de informação.

Só com um claro entendimento do papel central da informação e da sua utilização inteligente, na construção social e económica – do seu impacto e dos verdadeiros desafios que traz a indivíduos e organizações –, é possível agir sobre o meio para gerar as condições favoráveis à prossecução dos objectivos estratégicos empresariais. É preciso entender este novo contexto ( e sobre ele escreverei nos próximos posts).

Thursday, October 4, 2012

Quando o centro de gravidade global e a guerra passou da Geopolítica para a Geoeconomia


A Inteligência Competitiva pressupõe e inscreve-se num conjunto de dinâmicas que se manifestam globalmente por uma passagem do centro de gravidade da geopolítica para a geoeconomia.

Esta última, teorizada por Edward Luttwak, é o resultado da conjugação de três factores determinantes:

Em primeiro lugar, uma mutação profunda do capitalismo que tende para o conflito, para um endurecimento permanente da concorrência entre actores económicos – Christian Harbulot bem explica a este propósito que ao contrário da geopolítica, na esfera geoeconómica estamos obrigatoriamente virados para o ataque, para ganharmos posição de vantagem no mercado.

Em segundo lugar, o fim do confronto frio entre os dois blocos provocou uma profunda alteração dos jogos de poder à escala global. O fim da bipolarização, o desaparecimento do outro, do inimigo, raiz de todo o mal – substituído por muitos outros, não explicitamente assumidos –, alterou a percepção do mundo e fez deslocar para a esfera económica os jogos de poder. Hoje, um aliado militar pode ser um rival económico e queda do bloco soviético fez reaparecer os interesses económicos das nações, com o surgimento de uma enorme tentação de lucrar com o liberalismo dos outros.

Por fim, também as formas de guerra acompanharam esta evolução em dois planos complementares: a informação substituiu as armas enquanto instrumento superior no confronto, com a violência que martiriza os espíritos a sobrepor-se à violência que martiriza os corpos, e a este movimento de deslocalização – de um plano material da guerra para um plano imaterial – juntou-se outro desvio do confronto: do campo político (da conquista territorial), para o campo económico (da conquista de mercados).

Impulsionado e sustentado numa liberalização dos mercados, na globalização das trocas e na sociedade de informação, um conjunto de alterações profundas colocou a geoeconomia no centro da disputa pelo poder, o que conduziu Bernard Esambert, já em 1971, e, mais tarde, Christian Harbulot a falar de “guerra económica”.

Note-se que há exemplos anteriores de guerra económica, mas esta servia objectivos geopolíticos. O bloco soviético, por exemplo, moviasse já por interesses económicos à escala mundial e era a política, a ideologia, que “vendiam” o seu modelo económico. A política servia, por exemplo, para assegurar matérias-primas baratas e mercados para as suas indústrias de armamento, produção nuclear e de equipamentos industriais.

Wednesday, October 3, 2012

Até na agiotagem é precisa Inteligência Competitiva

Corte da Despesa do Estado adiado para 2014, até lá uma tentativa de agiotagem pura aos contribuintes, sob um clima ameaça permanente para continuarem a pagar mais para que o Estado os possa proteger dos grandes perigos que aí vêm e que o próprio Estado ger
ou e continua a gerar... 

Mas, como revela esta genial cena de Sopranos, os velhos métodos de agiotagem já não têm a mesma eficácia, face à mudança da realidade que não acompanharam e nem isto este Governo ainda percebeu...


Tuesday, October 2, 2012

Da Sociedade da Informação à Guerra Económica - O Imperativo da Inteligência Competitiva


Paradoxo de uma sociedade onde a informação assume um papel central, onde aparentemente tudo se pode saber sobre todos a um custo marginal extremamente reduzido e onde a quantidade de informação disponível em fontes abertas, produzida a uma escala global, é inigualável, os decisores empresariais vêem-se confrontados com um ambiente competitivo onde a mudança constante e a incerteza imperam, como em nenhum outro momento da História. 
A sociedade construída com informação, movida a informação, produtora de informação e suportada nas Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, impõe aos decisores a necessidade de tomarem a gestão estratégica da informação, em particular da informação externa, como prioridade no processo de gestão empresarial. 


Dados e informações diversas, produzidas à escala global, impelem os decisores a agirem com a rapidez que impõe o ritmo da nova economia. A superabundância de informação, cuja produção sem constrangimentos sugeria para alguns autores o fim de todas as dúvidas, transporta consigo a raiz de todas as incertezas.

Aos decisores exige-se que sejam capazes de antecipar e dar resposta às forças externas que de um modo permanente ameaçam a posição concorrencial das empresas, para poderem obter uma vantagem competitiva sobre os seus concorrentes e a conseguirem uma posição sustentável.

Porque nos situamos numa sociedade da informação, principal “matéria-prima”, sustentáculo da economia – note-se o impacto das informações veiculadas nos media na cotação das acções em bolsa –, as ameaças às organizações, sobretudo as empresariais, são predominantemente informacionais.

Os desafios que hoje enfrentam os decisores empresariais pouco diferem dos enfrentados pelos seus congéneres políticos. Enquanto estes últimos, desde há muito, têm confiado nas agências de intelligence para conduzir ou, pelo menos, melhor esclarecer a tomada de decisões, na esfera empresarial poucos integram processos e produtos da intelligence no processo de decisão.

Ao invés de sustentarem as suas acções numa recolha, tratamento, análise e difusão sistemática de informação tornada intelligence, muitos fazem face a um ambiente altamente competitivo guiados pela luz do instinto e por opiniões pessoais infundadas ou apenas sustentadas na experiência acumulada sobre o mercado e o seu rumo. Claro que alguns, poder-se-á dizer, obtém bons resultados ainda que tomem decisões num vácuo de intelligence, no entanto, é fundamental que se assuma o menor risco possível na decisão e, por isso, é necessária uma “abordagem inteligente”, a única capaz de responder às incertezas do ambiente competitivo. É necessária Inteligência Competitiva.

A informação tornada intelligence sobre a envolvente – sobre os rivais, as políticas, os factores sociais, com implicações no mercado onde se insere o negócio, ou ainda sobre o desenvolvimento tecnológico – tornou-se fundamental às empresas e deve ser entendida como um factor de produção, a par da propriedade, da mão-de-obra e do capital.

Urge a necessidade, por parte dos decisores, de perceber o contexto global. E urge começar por entender o desfasamento entre os ideais fundadores e os virtuosismos propalados da sociedade da informação e dos mercados liberais, potenciados largamente pela primeira, e a realidade global onde as empresas se inserem e com a qual têm de lidar.

Hoje, o mundo dos negócios é, assim o consideramos, uma verdadeira guerra económica ”onde os frutos do sucesso incluem postos de trabalho, prosperidade e estabilidade social, e, pelo contrário, as “baixas” vão desde a prisão de CEO’s a exércitos desiludidos de desempregados e à instabilidade económica e social que isto provoca”.

Por este motivo, nos negócios, como sucede na guerra, a intelligence deve ser usada pelas empresas como garantia – obviamente nunca absoluta – de protecção e capacidade de reacção face ao meio e, sobretudo, de acção sobre o meio, conferindo aos decisores a informação accionável (ou seja, com base na qual possam agir) necessária a decisões acertadas, logo, lucrativas.

A resposta a uma envolvente económica cada vez mais exigente e cada vez mais agressiva tem de ser uma resposta inteligente. E como há muito defendo neste blog, num quadro global onde a informação se impõe como principal arma, é na Inteligência Competitiva que os decisores podem encontrar a solução.

Monday, October 1, 2012

Sobre Liderança, a arte de muito dizer sem muito falar

A liderança é muitas vezes confundida com a sua afirmação. Quem lidera, de facto, raras vezes tem de dizer que o faz e, aliás, pouco precisa falar para dizer muito a quem é liderado (aqueles que sentem que o devem fazer e não porque lhe dizem para o fazer).

Dizer muito sem falar muito, é uma arte. E saber ouvir também. Quando vêmos "lideres" que procuram alicerçar liderança numa recordação permanente de que têm o controlo, isso traduz a insegurança de quem não sabe liderar e que pouco mais controla que a destemperada vontade de afirmar que o faz.

E um verdadeiro líder não é inseguro ou, ainda que tenha inseguranças, sabe com elas lidar e não as expor. Decide, acertadamente ou erradamente, mas decide... Chama a si a responsabilidade de o fazer ainda que, marca de um bom líder, veja noutros a capacidade de o aconselharem e para assim tomar as melhores decisões, no melhor momento.

Como se dizia há dias no site Inteligência Económica, "Há uma grande diferença entre ocupar o poder e exercer a  liderança".


Tuesday, September 25, 2012

A Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas


No IE: A Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas
O trabalho de investigação “A Inteligência Económica: Um Modelo Empírico de Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas” pretendeu avaliar a existência de práticas de inteligência económica por parte das empresas portuguesas e identificar as variáveis (atributos) que influenciam a probabilidade da sua adoção, permitindo também a recomendação de políticas públicas de incidência empresarial, potenciadoras de procedimentos de inteligência económica. Utilizou-se um modelo de pesquisa que relaciona: (i) um sistema de inteligência económica de âmbito empresarial, constituído por cinco atributos; (ii) as políticas públicas; e (iii) os resultados obtidos na sua aplicação ao universo empresarial a que se limita este estudo, isto é às empresas portuguesas do universo da AIP (Associação Industrial Portuguesa) que foram submetidas a um inquérito-questionário. A análise estatístico-econométrica foi efetuada com recurso ao modelo Mixed Logit, o qual permite o tratamento do erro, combinando diferentes distribuições estatísticas, admitindo também heterogeneidade nos parâmetros estimados e, ainda, a identificação das variáveis estatisticamente significativas que, no caso concreto, explicam a variação na probabilidade de uma empresa adotar procedimentos de inteligência económica. As pequenas e médias empresas (PME), a diplomacia económica e as políticas públicas sectoriais de âmbito empresarial no contexto da inteligência económica, são também tratados neste trabalho de investigação.

Palavras-chave: informação, inteligência económica e competitiva, inteligência organizacional, inteligência territorial, vigilância, redes, diplomacia económica, influência (lobbying), segurança económica, gestão estratégica da informação, gestão do conhecimento, guerra económica, inovação, competitividade.


UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

Departamento de Gestão e Economia





A INTELIGÊNCIA ECONÓMICA:
Um Modelo Empírico de Exploração da Inteligência Económica pelas Empresas Portuguesas



Idalino André Rodrigues Nascimento Magrinho


Tese de Doutoramento apresentada para a obtenção do grau de
 Doutor em Gestão


Covilhã, Março de 2009

CONCLUSÃO FINAL

A conclusão final deste trabalho é a de que a probabilidade das empresas portuguesas do universo empresarial contemplado adotarem políticas e práticas de inteligência económica, assenta em dois vetores relacionados nomeadamente com as estratégias empresariais e aspolíticas públicas.

Em primeiro lugar, no que se refere diretamente às orientações de política e estratégia empresarial relevam os seguintes aspetos:

¨  Atendendo a que o efeito “dimensão” (grande empresa) contribui, de acordo com o trabalho de investigação, para o incremento de práticas de inteligência económica, importa, para as PME, potenciar estratégias interempresas que favoreçam o redimensionamento empresarial (massa crítica), onde os clusterscom vocação para os mercados globais podem desempenhar um papel importante (implicações na produtividade e na política industrial);

¨  Estimular o investimento na informação/conhecimento intensivo (desenvolvendo  formas de vigilância e gestão estratégica da informação adequadas) associados a novos mercados, nomeadamente internacionais, conferindo maior proactividade em relação a estes (maior exigência e pensamento estratégico; reformulação estratégica de actividades);

¨  Valorizar as redes sociais externas (incluindo o associativismo empresarial) e internas das empresas (pressupondo uma adequada utilização das TIC) para melhorar a circulação (e a partilha) interna da informação e a ligação aos clientes/mercados (cria pressão sobre o portefólio de competências da empresa).

¨  Estimular/incentivar uma política industrial/internacionalização que favoreça atividades e a produção de bens transacionáveis (favorece a cadeia de valor da economia, a inovação, a internacionalização e maior proactividade em relação à exploração da informação assimétrica atinente aos mercados); 

¨  Apoiar a clusterização da economia em sectores/atividades em que a dinâmica da procura internacional é relevante (favorece a atratividade do IDE, reforça as redes e estratégias interempresas; pressiona a I&D e a inovação, a qualificação e as ligações aos centros de saber, estimula o desenvolvimento tecnológico);

¨  Agilizar dispositivos de diplomacia económica mais proactivos, com maior interação entre redutos diplomáticos e meios empresariais e melhor utilização das instituições internacionais em que Portugal participa (favorece a prospeção de mercados e a captação de IDE, otimiza a negociação internacional).

Em segundo lugar, decorre da perceção dos empresários a sobrevalorização dos atributos relacionados com as políticas públicas na adoção de procedimentos de inteligência económica por parte das empresas portuguesas contempladas no universo empresarial abrangido por este estudo, existindo, a este propósito, expectativas elevadas decorrentes da manipulação e utilização de instrumentos de política pública, que vão da diplomacia económica, aosincentivos à internacionalização, aos apoios à I&D, à informação sobre mercados externos, à política de atracão de IDE, à participação em projetos comunitários e àinformação sobre tecnologias avançadas. Porventura, no mundo anglo-saxónico, pelas características da sua cultura empresarial, um estudo idêntico, provavelmente, não enfatizaria com o mesmo peso os instrumentos de política pública nos resultados.

Em consequência, conclui-se existir a necessidade de uma significativa ponderação das políticas públicas nas estratégias empresariais orientadas na perspetiva da inteligência económica. Esta situação também pode ser interpretada como um sinal marcante da cultura empresarial portuguesa que, de uma forma geral, sobrevaloriza o papel do Estado na prossecução de objetivos, sejam de natureza privada ou pública, pelo que isso se afigura igualmente verdade em relação à adoção de procedimentos de inteligência económica pelas empresas.

A valorização da interação dos dois vetores equacionados, autoriza a que se possa também concluir que, a eficácia de um sistema de inteligência económica aplicado à realidade empresarial portuguesa, exige uma conjugação de estratégias empresariais alicerçadas na informação e no conhecimento intensivo, e de políticas públicas adequadas, sendo essa também uma condição para o incremento da densidade dos fatores associados à competitividade, e de uma maior abrangência quanto à internalização de atributos que os referenciais internacionais de boas práticas de inteligência económica e competitiva aconselham. Em face das razões que conferem importância à inteligência económica e competitiva, a adoção de procedimentos e práticas que se inscrevam na sua matriz, constituem um importante contributo a diferentes níveis, nomeadamente para o incremento da produtividade, da inovação, das exportações e da modernização e competitividade do tecido empresarial e da economia portuguesa.

Importa sublinhar o carácter multidimensional e sistémico da inteligência económica, bem como a existência de uma vasta produção teórica e de trabalhos de investigação a nível internacional (em Portugal só muito recentemente se começou a despertar para o tema) em torno da inteligência económica e competitiva, tanto na perspetiva empresarial como na das políticas públicas, que se têm multiplicado nos últimos anos. Apesar disso, ainda não existe uma definição consensual em torno da qual toda a comunidade de inteligência económica e competitiva se reveja integralmente. Isso não obsta a que exista um amplo consenso em relação aos fins relacionados com a valorização da informação útil e estratégica que alimenta os níveis de decisão das organizações e que a assunção do ciclo do conhecimento (ou da inteligência) seja o elemento estruturante das funções da inteligência económica.

Justifica-se, por isso, o aprofundamento da investigação sobre a inteligência económica e competitiva nas empresas portuguesas, porventura recorrendo à segmentação do universo empresarial, por dimensão e sectores, assim como uma adequada combinação de métodos quantitativos (como, por exemplo, o Mixed Logit) e métodos qualitativos (como são os estudos de casos).

Neste contexto, o que devem fazer, os dirigentes e os gestores empresariais?

Devem privilegiar estratégias empresariais alicerçadas na informação e no conhecimento intensivos, orientadas prioritariamente para novos mercados (entendidos também como aumento de quotas ou exploração de novos nichos nos mercados atuais); equacionar com maior frequência a reformulação radical das atividades da empresa (turnaround); dinamizar redes internas associadas à gestão estratégica da informação e a sua inserção em redes sociais, designadamente de carácter associativo; utilizar formas de vigilância estratégica adequadas; recorrer com maior intensidade às TIC (nomeadamente para efeitos de comércio eletrónico e de modernização e agilização da estrutura organizacional); e, no caso das PME, ganhar massa crítica e escala, nomeadamente por via do redimensionamento empresarial através de estratégias interempresas (colaborativas) adequadas.

E, também, neste contexto, o que deve fazer o governo, por via das políticas?

Deve agir sobre a envolvente das empresas, no que em relação às políticas públicas diz respeito, assegurando nomeadamente o bom funcionamento dos mercados em termos de condições de concorrência; privilegiar políticas que favoreçam o acesso aos mercados, designadamente por via de um adequado dispositivo de inteligência económica que agilize mecanismos de diplomacia económica mais proactivos, com maior envolvimento dos redutos diplomáticos no acompanhamento das empresas quanto à informação e prospeção de oportunidades nos mercados externos, e, consequentemente, otimizar a participação, o envolvimento e a negociação nas instâncias comunitárias e internacionais, particularmente as atinentes aos mercados; favorecer uma política de incentivos que estimule a I&D (e a inovação e a qualificação que lhe estão associadas) e a participação das empresas em projetos comunitários, o incremento da internacionalização empresarial, a atracão de IDE, e, aumentar o nível de informação sobre tecnologias avançadas e mercados externos.

conclusão geral é que se deve reforçar a cadeia de valor das empresas e da economia por via de uma adequada articulação de estratégias empresariais que valorizem o conhecimento intensivo, a tecnologia, o redimensionamento empresarial (uma oportunidade para as PME), o “turnaround” e o acesso a novos mercados, e, políticas públicas que favoreçam a clusterização da economia, como fonte de inovação e de fomento de estratégias e redes interempresas e de negócios, e que estimulem uma maior proactividade em relação ao acompanhamento das empresas nos mercados externos, obrigando a uma reforço dos dispositivos de inteligência e diplomacia económica.
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