Sunday, March 25, 2007

Guerra Económica no CM


No editorial de hoje do Correio da Manhã, Manuel Queiroz, subdirector, a propósito dos 50 anos de Europa unida fala de desunião e daquele que será o grande desafio "nos próximos 20 anos": a guerra económica.

"
A Comunidade Económica Europeia foi um caminho pela paz e pela prosperidade. Chegou-se a ambas. Mas na vida nada é adquirido e outros arranjaram maneira de serem mais competitivos do que nós, mais ágeis, e fazem-nos uma guerra económica a que não sabemos responder.

É essa guerra económica que é o desafio da UE dos próximos vinte anos. É uma guerra por outros meios, mas guerra ainda assim".

Este texto de Manuel Queiroz tem a virtude de falar daquilo que poucos querem e gostam de falar nesta Europa Unida. A união pacificadora, promotora de trocas, transporta também, tal como nos espaços não europeus, uma nova forma de confronto generalizado entre as nações - que desde sempre existiu, mas que actualmente se sobrepõe ao conflito tradicional, cada vez mais localizado -, uma guerra económica global.

De facto, é na esfera económica que se situa o desafio dos próximos anos. E para que a UE consiga lidar com esta nova realidade precisa de libertar-se de uma visão angelical das relações internacionais e perceber que o apelo à paz e união não é incompatível de um esforço de afirmação económica segundo as novas regras do jogo. Porque o quadro actual é de guerra económica entre aliados políticos, é necessária uma clara separação das águas para se sair vitorioso.

Sobre a Guerra Económica

A guerra económica é defendida por autores de uma escola de pensamento que se baseia na constatação da existência de uma forma de violência económica, caso do general Harbulot.

Embora muitos questionem a utilização do termo guerra económica para designar a competição entre empresas e nações, pautada por afrontamentos muitas vezes duríssimos e que recorrem a métodos ilegais, a verdade é que o entendimento destes afrontamentos como ameaças económicas levaram países, como os Estados Unidos ou a França, a criarem comissões para a segurança e competitividade económica.

Alguns autores entendem que o confronto económico deve ser sobretudo considerado em termos de oportunidades, ameaças e riscos, mas a verdade é que, sem deixar de concordar com Franck Bulinge que não são comparáveis os milhões de mortos da Primeira Guerra Mundial com despedimentos, à luz daquilo que é hoje o quadro global, a economia é, sem dúvida, o palco por excelência de uma nova guerra mundial com impactos sociais reais e, pese indirectamente, também potenciadora de mortes humanas.

Embora considere compreensível a perspectiva de Bulinge que "os princípios da guerra económica transportam os germes de uma violência susceptível de legitimar o emprego de técnicas e métodos contrários à ética da proposta da inteligência económica", é preciso enquadrar que na componente de protecção da inteligência económica as empresas devem ter em conta os riscos provenientes de métodos ilegais, sem que necessariamente isso as legitime a recorrerem a esses mesmos métodos. Logo, é no meu entender preferível aperceber a competição económica em toda a sua amplitude e, neste caso concreto, como uma guerra, com uma lógica semelhante aos conflitos tradicionais, sem, no entanto, considerar que a dureza possa ser directamente comparável à dos confrontos belicistas. O que é preciso é colocar essa dureza em perspectiva face a uma nova realidade global onde para a grande maioria “morrer pela pátria” já não é uma opção.

De um modo relativo, são de facto comparáveis os confrontos tradicionais (pela força das armas) de ontem com os confrontos económicos (sobretudo pela força da informação e da comunicação, embora também das armas), de hoje.

Ainda que alguns prefiram a designação segurança económica julgo ser não só apropriada como também necessária a noção da existência de uma guerra económica que recorre a métodos de desinformação, de manipulação e também de destruição.

Só percebendo o que está em jogo e forma como este se desenrola é possível superar os desafios vindouros. Podemos começar por falar claro sobre estes assuntos...

No comments:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...