Thursday, January 17, 2008

Ciber-Guerra, o novo conflito global



Tendência

O director do FBI indicou recentemente que mais de um milhão de computadores tinham sido atacados por botnets, programas maliciosos autónomos que sequestram computadores para a prática de ciber-crimes. Estes ataques permitiram, de acordo com o responsável do FBI, "bloquear as operações de uma das maiores instituições financeiras norte-americanas e também da Universidade da Pensilvânia". E, acrescenta, "os sistemas militares vão ser o próximo alvo".

O episódio descrito pelo director do FBI e sobretudo, o alerta sobre um futuro ataque aos sistemas militáres são sintomáticos da importância que o Ciberespaço ganhará, nos próximos anos, nos confrontos militares e económicos, entre nações e empresas. Hoje, é já evidente, que à oportunidade das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC), potenciadoras de uma comunicação global sem precedentes, porque contrariam as barreiras de tempo e espaço que a geografia impõe, se deve contrapor a ameaça crescente dessas mesmas NTIC serem usadas para atacar os interesses económicos, militares e políticos das nações.

A Ciber-Guerra, conceito que pode ser aplicado tanto no plano politico/militar como económico, será na próxima década uma das formas principais de guerra, com o aumento da capacidade dos computadores e à medida que a automação chega a todos os cantos da economia global.

Cerca de 120 Estados desenvolvem já métodos para utilizar a Internet para afectar mercados financeiros, redes de computadores governamentais ou o sector da energia de países inimigos, segundo um relatório sobre a situação mundial da ciber-segurança, recentemente divulgado pela empresa de segurança informática McAfee.

Desenvolvido em parceria com várias entidades de segurança, entre as quais a NATO e o FBI, o relatório refere que os ciber-ataques “evoluíram de uma curiosidade inicial para operações bem financiadas e organizadas para espionagem política, militar, económica e técnica”. “Muitos governos não sabem sequer que estão a ter fugas de informação. Noventa e nove por cento dos casos são provavelmente desconhecidos”, refere a McAfee.

Na dianteira aparenta estar a China, o primeiro país “a utilizar ciber-ataques para fins políticos e militares», segundo o relatório, mas também a Rússia é visada a propósito dos ataques à rede informática da Estónia.

Pentágono cria “Comando do Ciberespaço”

Preocupado com as implicações para a segurança e empenhado em ganhar a dianteira no novo modelo de confronto, o Pentágono vai começar a financiar este ano uma nova unidade da Força Aérea, denominada "Cyberspace Command”, que permitirá, de acordo com John Robb (ver aqui), que as forças militares norte-americanas transportem a guerra para as infra-estruturas civis de informação. Com um orçamento gigantesco, o Comando do Ciberespaço, iniciará a sua actividade em 2009, com um exército de 500 “ciberguerreiros”.

No entanto, a defesa dos Estados Unidos no espaço virtual são se avizinha fácil. A análise que John Robb faz à nova unidade do Pentágono motiva apreensão. Para este especialista de contra-terrorismo o Comando do Ciberespaço é, à partida, um projecto falhado. A falta de ligação a grupos e actividades criminosas (o que até abona em favor do Pentágono), a menor agilidade, motivada por mecanismos de controlo próprios das forças militares, e a necessidade de um cuidado maior na actuação para evitar embaraços públicos, podem condicionar a actuação desta unidade de comando. Há ainda um problema de escala. Aos 500 ciber-guerreiro opõe-se um exército de centenas de milhares de ciber-criminosos que, segundo as estimativas, controlam dezenas de milhões de computadores.

Nesta Ciber-Guerra, segundo John Robb, têm a ganhar os países que protegem ou têm ligações estreitas com redes criminosas. Caso da Rússia, que, de acordo com o especialista em contra-terrorismo, soube aproveitar contra a Estónia as potencialidades da Russian Business Network (Ler mais sobre RBN aqui), onde estão reunidos milhares de criminosos informáticos responsáveis, segundo as estimativas, por 60% da actividade criminosa online, em todo o mundo, e também da China, nos últimos tempos muito activa no recurso a hackers.

A institucionalização da Ciber-Guerra, por parte dos EUA pode também criar problemas junto dos países aliados e mesmo junto da opinião pública norte-americana. Face à maior capacidade dos seus inimigos, o novo comando poderá ver-se forçado a tender mais para a componente protecção, abrangendo a segurança de empresas.

Também na Alemanha a Ciber-Guerra preocupa as autoridades, sobretudo depois dos ataques de hackers chineses, a que não escapou a chancelaria, com a "Bundesamt für Verfassungsschutz", o equivalente alemão ao MI5 britânico, a querer desempenhar o papel de "centro de coordenação para a espionagem industrial" e combater ciber-ataques de serviços secretos estrangeiros (aqui).

O Ministério do Interior Alemão estima que a indústria do país perca cerca de 20 mil milhões de euros por ano em resultado do roubo de dados, com cerca de 750 mil computadores infectados com vírus trojan.

Seja qual for o desenvolvimento do confronto virtual, nada irreal, a verdade é que os dados estão já lançados para uma nova dimensão da guerra que se joga não apenas na Internet, mas a toda a largura do espectro electro-magnético. Pelos fios do telefone, pelo cabo da televisão, pela rede eléctrica, estamos ligados ao mundo, mas não podemos esquecer que o inverso também sucede. Daí que seja fundamental que, cada vez mais, se perceba a necessidade de investir na segurança, em particular no campo económico, mais vulnerável e apetecível. Estados e empresas, precisam de adoptar medidas de intelligence e protecção – precisam de Inteligência Competitiva ou Económica - para identificar ameaças e salvaguardar as informações críticas.

2008/01/16

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