"Escutas assustam Passos, primeiro-ministro contacta ministros por gmail". Esta manchete da última edição do Sol é motivo de preocupação e sobretudo revela a forma ligeira como altos decisores da nação lidam com a troca de informação, que a esse nível, deve ser sempre tida como sensível.
Ao invés de usar a rede de comunicação do Estado, os governantes estão, com medo das escutas, a usar o Gmail para tratar assuntos confidenciais, enquanto evitam falar ao telemóvel "de temas importantes para a República", como refere um ministro.
Ou seja, com receio de serem escutados, usam um serviço baseado nos Estados Unidos para comunicações confidenciais ou reservadas. Um serviço sobre o qual não têm o mínimo controlo e que não oferece, nem tem capacidade para oferecer, quaisquer garantias de segurança.
Espantoso argumento, o uso do Gmail é justificado pelo facto de os servidores não estarem em Portugal e por isso fora do alcance de intrusos nacionais. Já os intrusos internacionais podem ver à vontade a troca de correspondência entre membros do Governo.
Ainda para mais um serviço que funciona de forma absolutamente centralizada, ou seja, todos os mails estão alojados em servidores Google, de um modo permanente e são de acesso fácil para quem os saiba arranjar. Não está ao alcance do comum intruso, mas está certamente ao alcance de quem tenha os meios e vontade para o fazer, sejam chineses, americanos, russos, paquistaneses, etc....
E não há ninguem que tome conta da segurança da informação do Governo e diga aos senhores que não podem usar o Gmail para tratar destes assuntos por essa ser uma quebra de segurança nacional, precisamente por comunicações importantes de um país estarem sob tutela de uma empresa privada norte-americana e dependentes de um serviço sob o qual ninguém em Portugal tem controlo e que, por isso mesmo, não oferece, nem pode oferecer quaisquer garantias?
Basta lembrar que Obama foi obrigado a largar o seu BlackBerry de estimação por questões de segurança e que Sarkozy proibiu o uso de BlackBerry por não querer as comunicações do governo francês alojadas noutro país...
Em Portugal, está visto, aquilo que preocupa Sarkosy é usado como justificação de segurança, o que revela duas coisas: que o Governo não confia na segurança do serviço de comunicação que tem ao dispor e que não se preocupa com a soberania nacional quando toca a mandar mails.
Um péssimo exemplo de protecção de informação que nos deve preocupar a todos.