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Monday, October 29, 2012

Sociedade da informação vs. Sociedade do segredo



Por oposição à visão humanista, de entendimento global, partilha de valores, trocas culturais enriquecedoras e de paz, alguns vêem a sociedade da informação como um sistema gerador de exclusão, com base numa hipocrisia obtida pelo engano e desinformação, que oculta, na verdade, uma guerra económica entre as nações.

A informação, hoje superabundante, capaz de tudo esclarecer e de iluminar todas as decisões, comporta, na realidade também segredos e manipulações.

Assim, face a esta sociedade da informação e do conhecimento impõe-se uma nova grelha de leitura que a veja também como sociedade da desinformação e do desconhecido.

O segredo é a “alma do negócio”

O segredo é também pilar fundamental de um contacto global entre povos e nações e, como diz o ditado, é “a alma do negócio”.

A um mundo ideal onde tudo se sabe contrapõe-se uma realidade onde, não raras vezes, impera o não dito.

A sociedade da informação pode ser entendida como uma realidade construída pelo homem para reduzir as suas incertezas, mas é também geradora de dúvidas, de segredos, logo de conflitos entre os que sabem, os que não sabem e os que querem saber.

É, pois, fundamental o entendimento, por parte dos actores económicos, que a informação comporta perigos, pelo que é necessário às organizações desenvolverem um sistema de filtragem e análise da informação que informe e forme a acção. Por outro lado, a possível utilização da informação como arma pelos outros torna também necessária uma mudança do entendimento da componente protecção para que possam não só proteger a própria informação como para evitar cairem no engano de tomarem como válida a informação que outros fornecem.


Tuesday, July 19, 2011

Grave: Governo usa servidores Google para assuntos confidenciais

"Escutas assustam Passos, primeiro-ministro contacta ministros por gmail". Esta manchete da última edição do Sol é motivo de preocupação e sobretudo revela a forma ligeira como altos decisores da nação lidam com a troca de informação, que a esse nível, deve ser sempre tida como sensível. 

Ao invés de usar a rede de comunicação do Estado, os governantes estão, com medo das escutas, a usar o Gmail para tratar assuntos confidenciais, enquanto evitam falar ao telemóvel "de temas importantes para a República", como refere um ministro.

Ou seja, com receio de serem escutados, usam um serviço baseado nos Estados Unidos para  comunicações confidenciais ou reservadas. Um serviço sobre o qual não têm o mínimo controlo e que não oferece, nem tem capacidade para oferecer, quaisquer garantias de segurança.

Espantoso argumento, o uso do Gmail é justificado pelo facto de os servidores não estarem em Portugal e por isso fora do alcance de intrusos nacionais. Já os intrusos internacionais podem ver à vontade a troca de correspondência entre membros do Governo.

Ainda para mais um serviço que funciona de forma absolutamente centralizada, ou seja, todos os mails estão alojados em servidores Google, de um modo permanente e são de acesso fácil para quem os saiba arranjar. Não está ao alcance do comum intruso, mas está certamente ao alcance de quem tenha os meios e vontade para o fazer, sejam chineses, americanos, russos, paquistaneses, etc.... 

E não há ninguem que tome conta da segurança da informação do Governo e diga aos senhores que não podem usar o Gmail para tratar destes assuntos por essa ser uma quebra de segurança nacional, precisamente por comunicações importantes de um país estarem sob tutela de uma empresa privada norte-americana e dependentes de um serviço sob o qual ninguém em Portugal tem controlo e que, por isso mesmo, não oferece, nem pode oferecer quaisquer garantias?

Basta lembrar que Obama foi obrigado a largar o seu BlackBerry de estimação por questões de segurança e que Sarkozy proibiu o uso de BlackBerry por não querer as comunicações do governo francês alojadas noutro país...

Em Portugal, está visto, aquilo que preocupa Sarkosy é usado como justificação de segurança, o que revela duas coisas: que o Governo não confia na segurança do serviço de comunicação que tem ao dispor e que não se preocupa com a soberania nacional quando toca a mandar mails.

Um péssimo exemplo de protecção de informação que nos deve preocupar a todos.



Thursday, January 13, 2011

"Guerra Económica" e "Guerra de Informação", por Alain Juillet

Excerto da entrevista a Alain Juillet, figura de topo da Inteligência Económica, à newsletter TDSNews
 

“Guerra económica” e “guerra de informação”, duas expressões sempre presentes no discurso de Inteligência Económica. Pode explicar-nos cada um destes conceitos?

Estamos a falar de duas coisas muito diferentes. A guerra da informação traduz-se, por exemplo, nas campanhas de comunicação, não de informação mas de desinformação, feitas para desestabilizar um mercado, um concorrente ou um consumidor que compra um produto concorrente. Para mim, é o combate permanente entre os que informam e os que desinformam. A desinformação tem por objectivo neutralizar ou atingir o outro no plano das ideias. Do outro lado, a informação age de um modo mais objectivo. A partir do momento em que há alguém que informa e alguém que desinforma temos uma guerra de informação que só termina com a vitória de um. A palavra guerra pode parecer muito forte, mas a verdade é que estes confrontos têm, muitas vezes, consequências terríveis.
 
A palavra guerra [na “guerra de informação”] pode parecer muito forte, mas a verdade é que estes confrontos têm consequências terríveis. E, se o atacado é uma pessoa, pouco pode fazer para se defender e quando se souber a verdade... é tarde!


Quando se faz um ataque pessoal, através de rumores, estamos perante uma verdadeira guerra, porque a pessoa pode ser destruída. E, em geral, pouco pode fazer para se defender... E depois, quando se acaba por saber a verdade, já é tarde.

A guerra económica é, para mim, outra coisa. É a guerra total, é a utilização de todos os meios da Inteligência Económica, mas também da capacidade das empresas e também, a nível dos estados, do sistema legal, ou seja, tudo o que pode servir, no quadro da actividade económica, para destruir uma empresa ou uma actividade feita pelo outro. E acontece muito e cada vez mais entre estados.

Vemos, em todo o mundo, que esta é uma situação corrente. Actualmente, vemos certos actores financeiros, como os edge-funds (que têm uma técnica bem conhecida que consiste em desestabilizar as empresas onde querem entrar para provocar a queda das acções), fazer depois a recuperação e vender com lucro. Quando vamos mais longe nesta análise, temos, por exemplo, edge-funds e bancos que decidem atacar, através da Grécia, o Euro e, se o fizerem cair, tudo é afectado. E isto é guerra económica. É uma situação muito grave, porque todo o sistema económico europeu está em risco e, se este for afectado, ficamos vulneráveis em relação a todas as outras partes do mundo.

Ver entrevista completa aqui

CLARO explica o que é a "guerra económica" e como ela nos pode ser fatal

No CLARO: 


Os governos do planeta, na sua grande maioria, já não procuram a conquista de territórios ou estabelecer a sua dominação sobre novas populações, mas procuram sim construir um potencial tecnológico, industrial e uma task force comercial que tragam divisas e empregos para o seu território. É assim o novo mundo da hipercompetição global. Os perdedores desta guerra de novo tipo serão os Estados cujos políticos não tiveram percebido isto. Ora, em Portugal, os nossos políticos não só não o perceberam como, manifestamente, nem o descobriram, nem suspeitam. Esta é a nossa maior vulnerabilidade estratégica. A vulnerabilidade que nos será fatal se, rapidamente, não houver uma decisão política que crie os indispensáveis e inadiáveis dispositivos de Inteligência Económica e Estratégica e dissemine a sua cultura. Depois de ouvir responsáveis políticos, tanto do PSD como do PS, constato o seu desconhecimento sobre a matéria. Por favor, estudem a política de Clinton e, sobretudo, a mais recente e próxima, de Sarkozy, de que Alain Juillet, Alain Bauer, Christian Harbulot e o deputado Bernard Carayon são os construtores. A dívida não nos será fatal, mas o défice de inteligência é-o, de certeza... E aí poderemos, à vontade e com toda a razão, culpar e responsabilizar estes políticos que temos, pela sua ignorância. E incompetência fatal.
Alain Juillet, figura de topo da Inteligência Económica, esteve em Lisboa para uma conferência da Business Intelligence Unit (da AICEP), dirigida por Joana Neves, mas antes falou à TDSnews e explicou porque "quem não tem Inteligência Económica perde sempre".
 Bernard CARAYON & Christian HARBULOT (Directeur de l' E.G.E.)
Alain Bauer com Nicolas Sarkozy
Ver também "Sarkozy: prioridade à Inteligência", aqui  e ainda aqui

Sunday, January 9, 2011

École de Guerre Économique já estuda caso Renault

Na École de Guerre Économique, liderada por Christian Harbulot, o escândalo da Renault é já um estudo de caso. Na escola de referência em matéria de "guerra económica" sabe-se bem a distinção entre espionagem (método ilegal) e inteligência competitiva (legal e recomendável) e que não é preciso recorrer a métodos ilegais na procura de informação, dado que 80 a 90% das informações úteis à tomada de decisão são informações abertas, ao acesso de todos os que dominem as técnicas necessárias para as saberem procurar, sem terem de ser hackers.

A l'Ecole de guerre économique, l'affaire Renault est déjà un cas d'école

Samedi 08 Janv. 2011138 par Hervé ASQUIN

"Symboliquement, Renault a perdu une bataille puisque son image est affectée mais l'entreprise peut encore marquer des points si elle prend conscience que le succès, aujourd'hui, repose au moins autant sur la manière de mener la guerre économique que sur le business, l'innovation ou la force de vente", explique-t-il.
C'est à cela qu'il prépare ses étudiants, aux "techniques de veille qui permettent de tracer les acteurs d'un marché, de cartographier les réseaux ou de suivre les ruptures et les transferts de technologie" mais aussi aux "opérations d'influence" pour "exploiter les failles de l'adversaire" ou "imposer un modèle dominant".
Dans cet univers complexe, la presse, l'internet, les forums et les réseaux sociaux offrent un puits sans fond d'informations. "Il n'est pas nécessaire de recourir à des méthodes illégales puisque 80 à 90% des informations utiles sont des informations ouvertes, accessibles à tous", souligne un autre étudiant, Adrien Mondange.
"On peut aller loin avec certains outils et certaines méthodes qui nous sont enseignées dans les murs de cette école sans être des hackers", confirme Armand Dutheil de la Rochère, 39 ans, un officier de l'armée de terre appelé à se reconvertir dans le renseignement.
Dans les couloirs de l'EGE, un étudiant confie sous couvert de l'anonymat qu'il entend rejoindre les services. "Traditionnellement, les services français travaillent plus pour la gloire du drapeau que pour la gloire de l'économie, contrairement aux Anglo-saxons", regrette-t-il.

Guerra Económica chega à Renault

Esta guerra económica já devia há muito ser evidente para os decisores políticos e empresariais. Quer estados quer empresas têm de se dotar das capacidades para para defender aquele que é hoje o principal activo: a informação. E isso só se consegue com Inteligência Competitiva.
No DN:
Espionagem na Renault

Eric Besson admite "guerra económica"

O ministro francês da Indústria alertou hoje que o país enfrenta uma "guerra económica", depois da admissão por parte da Renault que o caso de espionagem industrial no grupo atingiu a divisão de veículos eléctricos, "activos estratégicos" do construtor.
"A expressão 'guerra económica', embora seja ultrajante por vezes, é apropriada desta vez", disse aos jornalistas o ministro Eric Besson, acrescentando que o escândalo na Renault "parece que tem a ver com o carro eléctrico, mas não quero adiantar mais".
A construtora francesa, que suspendeu três gestores de topo por terem passado segredos da empresa, também não adiantou muito sobre o caso de espionagem industrial, mas admitiu hoje que envolveu "activos estratégicos, intelectuais e tecnológicos".
A Renault e a parceira Nissan têm vindo a apostar na produção de veículos elétricos, com o objectivo de lançar para o mercado diversos modelos até 2014, em resposta ao aumento da procura por meios de transporte mais amigos do ambiente.
"Para a Renault, isto é um incidente muito sério que envolve pessoas numa posição estratégica particular na empresa", disse ainda o vice-presidente, um dia depois do grupo ter anunciado a suspensão dos três altos quadros, ao fim de um mês de inquérito.
O escândalo na Renault é o último de uma série de casos de espionagem industrial a abalar o sector automóvel francês, com o fabricante de pneus Michelin e o fabricante de peças Valeo a ser também alvo de actos de espionagem.
 
 
 

Wednesday, March 10, 2010

Infoguerra pode dar muito dinheiro, o CLARO explica como

NO CLARO :
DE COMO A GUERRA DE INFORMAÇÃO PODE DAR MESMO MUITO DINHEIRO


José Penedos foi, nas últimas duas décadas, uma referência maior e incontornável no sector da energia. Foi (ainda será...?) considerado um "obstáculo" intransponível por vários interesses obscuros e interessados encapotados.


Liquidar José Penedos em vésperas da venda da participação do Estado na REN é uma operação de mestre... Quem terá sido esse "mestre" é algo de que já é possível suspeitar mas que dentro de semanas ou meses, com a evolução do processo de aquisição da REN, já ficará claro.

Assim se demonstra como uma bem sucedida "guerra de informação" é geradora de fabulosos lucros e essencial na conquista de posições...

Guerra da àgua no Irão e secreta espanhola investiga especulação

Duas notícias publicadas na última edição da TDSNews dão conta da  "Guerra pela àgua no Irão" e "Especulação boslsista sob investigação da secreta espanhola".

VigIE: Irão sob o olhar da IE

A edição número 26, de Fevereiro, da revista VigIE analisa o caso iraniano, numa perspectiva de IE e destaca a guerra das sociedades que gerem os serviços de distribuição de água, bem como um dossier sobre as mulheres na IE.

A revista de informação (elaborada pelos estudantes do Mestrado em Inteligência Económica e Comunicação Estratégica, da Universidade francesa de Poitiers) já tem a publicação deste mês disponível aqui.


Secreta espanhola investiga especulações

O papel de alguns investidores e meios de comunicação nas recentes turbulências nos mercados financeiros está a ser investigado pela secreta espanhola.

Os serviços de intelligence espanhóis estão a investigar “pressões especulativas” que se sentiram sobre Espanha, em consequência da crise que vive a Grécia, revela o jornal El Pais, com base em fontes do Centro Nacional de Inteligência (CNI) espanhol.

“A divisão de Inteligência Económica indaga se os investidores e a agressividade mostrada por alguns meios de comunicação anglo-saxónicos obedece à dinâmica do mercado e aos desafios que enfrenta a economia espanhola, ou se há algo mais por detrás dessa campanha”, diz o jornal.

O ministro do Fomento espanhol, José Blanco, havia já denunciado “manobras algo turvas”, por parte de especuladores financeiros, contra Espanha. “Nada do que está a ocorrer no mundo, incluindo os editoriais de jornais estrangeiros, é casual ou inocente”, alertou.

A alegada fragilidade da economia espanhola e a dúvida da capacidade do país atingir, até 2013, um nível de défice das contas públicas de três por cento do PIB, como prevê o governo de Zapatero, têm alimentado diversos artigos na imprensa estrangeira. Economistas chegaram mesmo a dizer que a situação em Espanha e o défice das contas públicas podem representar uma ameaça ainda maior para o euro do que a situação grega.

Saturday, February 27, 2010

No CLARO: A 'GUERRA DE INFORMAÇÃO' CHOCA COM PINTO MONTEIRO

Em Portugal parece estarmos a assistir a uma verdadeira "guerra da informação", José Mateus, no blog CLARO , pioneiro no tratamento da Competitive Intelligence & Perceptions Management em Portugal, dá hoje conta disso mesmo e diz que:

A 'GUERRA DE INFORMAÇÃO' CHOCA COM PINTO MONTEIRO

"Será que alguém está tão desesperado que inventa isto para ocultar outros inquéritos? Olhe, não sei..."


Esta declaração é do PGR Pinto Monteiro, frente às câmaras de televisão, no dia 26 de Fevereiro de 2010, em Lisboa.

Pinto Monteiro, personagem da magistratura tradicional e muito naif face à modernidade, parece que chocou com a "guerra de informação". Talvez não saiba o que isso é mas... ela caiu-lhe em cima!

Sugiro-lhe a leitura de uma conversa, que vou em breve publicar, com Alain Juillet, ex-aluno de Stanford, ex-CEO de várias grandes empresas, ex-patrão da 'secreta' francesa, ex-responsável da Inteligência Económica junto do Primeiro-Ministro francês, amigo intimo de vários presidentes da república e actual senior adviser de um maiores gabinetes de advogados, presente em todo o mundo. Há lá muito para descobrir, Alain Juillet explica aí tudo, em síntese, sobre a "guerra de informação".

Thursday, February 25, 2010

Geoestratégia: Europa de Leste vira-se para Washington


TENDÊNCIA

Europa de Leste vira-se para Washington

O novo pacto Berlim-Moscovo, com uma aparente convergência de interesses em diversos domínios, começa a gerar nos países da Europa de Leste um sentimento de cerco que os leva a virar-se para Washington e ver no escudo antimíssil a “tábua de salvação”.
Como bem assinalava, há dias, Miguel Monjardino, no Expresso, enquanto Berlim assume o comando político-financeiro, na União Europeia, sopram de Leste ventos de crescente influência (Kiev entrou novamente na órbita russa) e convergência com a Alemanha que deixa os ex-vassalos soviéticos sob cerco.

Moscovo, recorde-se, promulgou uma nova doutrina militar que considera o alargamento da NATO como a principal ameaça à segurança e contempla o uso de armas nucleares em situações específicas.

Na Casa Branca, parecem os países de Leste ter encontrado um refúgio seguro. Polónia, Roménia e Bulgária já se mostraram interessadas para acolher componentes do sistema antimíssil norte-americano.

Os EUA deverão instalar mísseis Patriot na Polónia, a partir de Abril; a Bulgária, apesar de ter anunciado formalmente que ainda não realizou qualquer negociação sobre o escudo antimíssil com os EUA, entra nas contas de Washington; e a Roménia já anunciou que vai receber “interceptores terrestres de mísseis balísticos e de médio alcance”, operacionais em 2015.

Os três países de Leste fizeram questão de dizer que o sistema americano não é contra a Rússia, após Moscovo se ter mostrado preocupado com a possibilidade de ter um escudo antimíssil dos EUA na antiga Cortina de Ferro.

Em resposta aos esforços americanos, também a Rússia instala o seu sistema antimíssil. A Transdnístria, região russófona separatista da Moldávia, está já pronta a albergar componentes russos se Moscovo o solicitar, para fazer face aos interceptores romenos.

Neste jogo antimíssil, a componente militar aparenta ser sobretudo um instrumento de influência geoestratégica e este carácter instrumental coloca em segundo plano as eventuais ameaças iraniana e sul-coreana, recorrentemente apresentadas como justificação para o escudo.

Também a Alemanha, ao leme da UE (relegando para segundo plano França e Reino Unido), joga a sua influência e a dos seus comandados (os países da União), como aliás tem sido notório no problema das finanças gregas, vistas como uma séria ameaça à Europa, ao Euro e às ambições internacionais da UE.

Christian Harbulot, director da École de Guerre Économique, na conferência de Inteligência Competitiva que fez no Taguspark, a 04 de Junho de 2009, alertava precisamente para o aparecimento de um novo pacto germano-russo. E Paris, como diria Granadeiro, sente-se "encornada"...


André Gonçalves Nunes

Artigo publicado na TDSNews nº28

Sunday, January 24, 2010

Jorge Coelho CEO, era mesmo uma questão de percepção

Uma entrevista deste fim-de-semana de Jorge Coelho, CEO da Mota Engil, vem dar razão ao que aqui se dizia há quase 2 anos, aquando da sua nomeação. Houve então uma inexistente gestão da percepção, o que se traduziu numa desconfiança generalizada e, como hoje o próprio assume, duradoura.

Noto uma frase curiosa de Jorge Coelho, reveladora de que, no seu entendimento, houve quem soubesse aproveitar a fragilidade da sua nomeação para fazer um ataque de informacional:  "Os ataques devem-se a uma estratégia de mercado baseada no ataque", diz ao Sol.





Em Abril de 2008 dizia-se aqui no IC:  

"não passou a ideia de ruptura [com imagem de político]. E na opinião pública estranha-se que um político profissional assuma um cargo de executivo de topo numa construtora, "ainda para mais nesta altura de grandes obras", dizem. Para os comuns, esta nomeação tem que ver com o peso político de Jorge Coelho, o único que os comuns lhe conhecem e reconhecem, e com os "favores" que poderá conseguir para a construtora.

Ora, este entendimento dos comuns cidadãos deste país tem por base apenas a informação a que têm acesso pelos media e a imagem pessoal ou a que colectivamente se faz de Jorge Coelho. Com base apenas nesta imagem e face às informações disponíveis é legítimo que as pessoas tracem cenários de "interesses", "favores", que, mesmo que não aconteçam, vão "existir".

Doravante, sempre que a Mota Engil ganhar um concurso público ficará a ideia do demérito do grupo e do CEO Jorge Coelho e o mérito do político Jorge Coelho... e esta ideia fica porque não foram dados aos comuns outros elementos de informação que contribuissem para assinalar uma ruptura e/ou justificar uma escolha".



Ler Mais: Jorge Coelho CEO, uma questão de percepção




Por Frederico Pinheiro

O antigo ministro socialista Jorge Coelho, actual CEO da Mota-Engil, nega em entrevista ao SOL qualquer promiscuidade com poder político e fala em trabalho bem feito. A construtora ameaça agora parar o projecto do TGV.


O ano ainda agora está a começar, mas já foram adjudicados dois mega-negócios a consórcios onde a Mota-Engil participa. Além da construção da barragem da Venda Nova III (131 milhões de euros), a empresa lidera o agrupamento Ascendi, concessionário da auto-estrada do Pinhal Interior (1,244 mil milhões).


A aproximação de Jorge Coelho, CEO da Mota-Engil, à actividade política (ex-ministro socialista com a pasta das Obras Públicas) tem levantado polémicas em torno das obras ganhas pela empresa. No Parlamento, o Bloco e o PCP atacaram a sua mudança para a construtora.


Até mesmo o PSD acusou o governo socialista de beneficiar a Mota-Engil, com o  ‘caso’ Liscont. Alguma imprensa espanhola, devido ao recente confronto com a espanhola FCC, diz que Coelho tem bastante influência na imprensa e junto do  PS. No entanto, Coelho  garante que as críticas não o afectam.


«Os ataques devem-se a uma estratégia de mercado baseada no ataque» , diz ao SOL Jorge Coelho. «Estou farto de levar pancada, mas já estou habituado». Para o presidente-executivo da Mota-Engil, o sucesso do grupo deve-se «ao trabalho bem feito».


Amigo pessoal do primeiro-ministro José Sócrates, Coelho assegura que «não existe promiscuidade entre a esfera política e a Mota-Engil». «Existem muitas pessoas de vários Governos a trabalharem noutras empresas, mas eu sou o principal alvo. É porque gostam mais de mim», ironiza. 


Wednesday, December 16, 2009

Jogos de Influência e Guerras de Informação, na TDSNews


Tendência


Jogos de Influência

e Guerras de Informação

Estados e empresas, desde sempre, procuram influenciar o tabuleiro geopolítico e geoeconómico socorrendo-se sobretudo daquela que hoje assume o carácter de principal arma: a informação, há muito no lugar do capital e da energia como principal matéria-prima. Este facto gera, respectivamente, inúmeras oportunidades e variadas ameaças, para quem a saiba dominar ou para quem dela não faça o melhor uso.

Começam a ser mais alvo de atenção os sinais de estratégias de influência que têm por base verdadeiras acções de guerra da informação e que englobam processos de intoxicação, desinformação, manipulação e de desestabilização para fazer impor desígnios estratégicos, de Estados e/ou empresas.

Um bom exemplo do poder da informação: a 25 de Junho, as acções do quarto maior grupo farmacêutico mundial, o Sanofi-Aventis, caíram após a publicação de uma nota de um analista financeiro da UBS, em Londres, que citava estudos que demonstravam o aumento do risco de cancro em pacientes que tomavam a insulina Lantus, um medicamento líder mundial.

O título caiu de 12,7 por cento e tudo com base num rumor iniciado por um diabetologista que trabalhava num produto concorrente, nos Laboratórios Eli Lilly e Amylin, dos EUA. O grupo francês deu uma resposta imediata, recorrendo a um painel de peritos independentes que concluíram os limites e as contradições de quatro novos estudos publicados, entretanto, na revista “Diabetologia”. Mas o mal, que podia ter tido uma dimensão muito maior, ficou na mesma feito, com graves prejuízos para empresa alvo da agressão informacional.

Uma Guerra de Informação... Nuclear!

Outro bom exemplo de guerra de informação é o caso relatado, em Outubro, pelo jornal francês Libération sobre o transporte de resíduos radioactivos franceses para a Sibéria. Segundo o diário, a Areva transporta resíduos radioactivos da eléctrica EDF para o complexo siberiano Tomsk-7m, gerido pela empresa russa Temex. As duas empresas francesas asseguram que não são resíduos, mas apenas “matéria radioactiva” reciclável, uma versão rejeitada por ecologistas e especialistas.

Ora, este é apenas um pequeno episódio de um confronto informacional e mediático entre as duas partes da contenda, marcado por inúmeros episódios deste género. Em traços gerais, a estratégia das duas partes é sempre igual. Os industriais falam em calúnias, dizem respeitar todas as normas, que adoptam metodologias rigorosas e comprovadas e ameaçam processar os meios de comunicação e pessoas que dizem tais mentiras; enquanto do lado dos ambientalistas há acusações de “gestão escandalosa de resíduos” em locais que o Comissariado de Energia Atómica qualifica como “referência nacional”, o que leva a que acusem também as autoridades de má fiscalização ou mesmo cumplicidade com práticas ilegais.

Esta cortina de (des)informação, embrulhada em inúmeras explicações e dados técnicos, nada ajuda à decisão do público e mesmo dos políticos, confrontados em permanência com argumentos díspares sobre matérias demasiado complexas. Os militantes anti-nuclear multiplicam-se em ataques informacionais na imprensa, na Internet ou em manifestações, mas não conseguem que os industriais se expliquem... pois as calúnias não se explicam.

Guerra pelo controlo do futuro mercado automóvel...

Ainda outro bom exemplo dos jogos de influência, note-se como a recente anulação da decisão de venda da Opel/Vauxhall por parte da General Motors provocou reacções diversas nos vários interessados no negócio. A GM preparava-se para entregar a empresa à fabricante de peças de automóveis austro-canadiana Magna e ao banco russo Sberbank.

Os britânicos ficaram satisfeitíssimos com esta anulação, pois o êxito da negociação significava o fim das fábricas britânicas, e o grupo Magna parece estar de acordo. Em contrapartida, os alemães reclamam, pois o acordo era do seu agrado, os russos mostram-se desagradavelmente surpreendidos e as autoridades europeias aguardam novos desenvolvimentos. Quanto à GM afirma ter “rasgado” o acordo, dadas as alterações de perspectivas quanto à “melhoria” do contexto económico na Europa, dada a melhor “saúde financeira” e “a importância da Opel/Vauxhall” para a sua estratégia internacional.

A mudança de decisão dos americanos provocou um claro incómodo a Berlim e Moscovo. O governo alemão fez notar o “espanto” e a “cólera” e a preocupação do executivo de Merkel é agora recuperar os 1,5 mil milhões de euros cedidos pelo governo para manter a Opel à tona de água durante as negociações. Da parte de Putin a reacção foi igualmente firme, já que apoiava os planos do consórcio Magna/Sberbank para investir no desenvolvimento da indústria automobilística russa. Agora, as portas estão menos abertas e o aviso foi já dado pelo porta-voz do primeiro-ministro russo: “há outras grandes empresas automobilísticas a concorrer com a Opel no mercado russo, pelo que o optimismo exagerado da GM, no que respeita ao melhoramento da conjuntura, neste contexto, pode ser infundado”.

Se é verdade que o acordo com a Magna evitaria despedimentos em massa na Alemanha, o mesmo não sucederia na Polónia, Espanha, Bélgica e Reino Unido, que agora respiram de alívio e aguardam com esperança novidades desta guerra pelo controlo do futuro mercado automóvel.

Guerra de informação ao serviço dos sindicatos

E também os sindicatos aderiram já às estratégias de guerra de informação, características, entre outras associações, das ONG. A procura de um debate de ideias foi substituída por múltiplos combates de informação, com mensagens bem dirigidas a empresas ou responsáveis políticos, capazes de fazer passar uma visão limitada, mas mobilizadora, que provoca danos nos alvos, obrigados a defenderem-se.

Um exemplo recente em França, que se destaca pela seriedade e implicações, é o caso dos 32 suicídios de funcionários da France Telecom. Para os sindicatos, a justificação é simples: a culpa é da pressão exercida pela empresa sobre os trabalhadores. Uma visão obviamente redutora, mas, da perspectiva dos sindicatos, eficaz.

A France Telecom é a má da fita, ainda que estatísticas revelem que os 32 suicídios numa empresa com a dimensão da France Telecom estão abaixo da média nacional. Mas isto a France Telecom não soube explicar e, mesmo que o fizesse, o mal estava já feito pela eficácia da mensagem dos sindicatos, clara, curta, concisa e vaga o suficiente para não poder ser liminarmente rejeitada: as pressões da empresa favoreceram os suicídios, até porque há uma ou outra carta onde as mesmas são referidas como causas.

Sem esquecer a perda maior (a vida das 32 pessoas que se suicidaram), a reputação da empresa saiu muitíssimo afectada de toda esta situação e, face às pressões informacionais, anunciou um investimento de mil milhões de euros para evitar mais suicídios (não se percebe como...).

A informação tem um valor incalculável, mas, neste caso em concreto e, mais ainda, nos outros relatados, podemos já adiantar que vale seguramente mais de mil milhões de euros. Bem mais...


André Gonçalves Nunes

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