O Diário Económico de hoje escreve que o Governo "está a desenvolver contactos com a SAFE, a agência oficial chinesa que administra as reservas monetárias do país, as maiores do mundo, avaliadas em um bilião de euros".
Nada de especial não fosse a SAFE a "State Administration of Foreign Exchange" e não o Banco Central Chinês, que gere, a propósito, bem mais de um bilião de euros, felizmente para a China, ou mau estaria o estado de saúde económica da terra de Mao, onde habitam mais de 2 mil milhões de habitantes.
O facto de se tratar de um jornal "da especialidade", obriga a que quem lá escreve, até por atenção a quem lê, tenha um pouco, para não dizer muito, de cuidado e atenção ao que está a fazer, até porque hoje para muitas dúvidas basta saber encontrar no Google fontes credíveis, por exemplo.Ora o SAFE, ao contrário do que é dito, não gere as reservas monetárias do país. O SAFE é um fundo soberano, ou seja, criado pelo estado, que gere parte, uma grande parte, dos mais de 1.4 biliões de euros de reservas da China em divisas externas, sobretudo dólares. Tudo bem que gere reservas, e não querendo ser demasiado exigente até admito que por aí houvesse engano, mas bastava ao jornalista olhar para o nome da coisa... para perceber que hám uma grande diferença entre um fundo detentor de reservas de moeda estrangeira e um banco central, esse sim a "autoridade monetária chinesa".
Mas vamos ao que importa realmente ao que importa em tempo de crise, ao dinheiro, ou falta dele, porque, à parte a imprecisão, a notícia é muito importante e interessante...
Estado português quer vender dívida pública aos chineses
O Governo tenta atrair o maior investidor do mundo para comprar a dívida pública nacional.Bruno Faria Lopes
O Estado português está a desenvolver contactos com a SAFE, a agência oficial chinesa que administra as reservas monetárias do país, as maiores do mundo, avaliadas em um bilião de euros. O objectivo do Ministério das Finanças é simples: conseguir uma sessão de promoção com a autoridade monetária chinesa e atrair um investidor de peso para comprar títulos de dívida pública portuguesa.
“No contexto das actividades de promoção de dívida pública portuguesa, regularmente conduzidas pelo Instituto de Gestão do Crédito Público, está a procurar incluir-se a SAFE num próximo ‘road show’ a realizar na Ásia”, avançou fonte oficial do Ministério das Finanças ao Diário Económico.
Até agora, Portugal tem estado de fora do horizonte da autoridade monetária chinesa, uma vez que esta, “à semelhança de agências congéneres, só recentemente começou a alargar os seus critérios de investimento para ‘ratings’ inferiores [a triplo A]”, explica o Ministério. O ‘rating’ da dívida portuguesa – indicador que mede a capacidade de cumprimento das obrigações financeiras – é de AA- , de acordo com a avaliação da agência Standard&Poor’s.
Para Portugal – cuja dívida pública deverá crescer para 64% do PIB no próximo ano, cerca de 110,7 mil milhões de euros – “a entrada da China como investidor seria muito importante”, explica António Nogueira Leite, ex-secretário de Estado do Tesouro. “Abre a perspectiva de mais liquidez para o mesmo ‘rating’ de dívida pública e pode resultar em ‘spreads’ mais baixos”, acrescenta. Por outras palavras, financia a economia portuguesa e pode ajudar a reduzir os encargos com os juros.
Para atrair a China, o ‘rating’ inferior de Portugal pode acabar por ser uma vantagem no ‘roadshow’ (cuja data está ainda por definir). “Portugal vai tentar vender a ideia da diversificação do investimento – por um lado, é um país que está no euro e, por outro, o facto de o ‘rating’ não ser triplo A implica uma remuneração maior”, explica um ex-responsável pelo Tesouro, que preferiu o anonimato.
China ajuda Espanha contra a crise
No actual contexto de crise – que obriga a um esforço financeiro adicional dos Governos – são vários os países que disputam a liquidez chinesa para ajudar a financiar os seus pacotes de resgate. Na semana passada, o Governo espanhol anunciou que a China manifestou o seu interesse nas próximas emissões de dívida.
A China tem acumulado enormes excedentes comerciais – só em Setembro deste ano cresceu 22,6% em termos homólogos, para os 18,3 mil milhões de euros –, fruto do crescimento da economia baseado nas exportações. Com os fundos acumulados, o estado chinês transformou-se num dos grandes investidores mundiais, a par do Japão, dos países do Golfo Pérsico e da Rússia. As autoridades monetárias de Pequim já são o segundo maior detentor de títulos da dívida pública dos Estados Unidos, a seguir ao Japão, com 541 mil milhões de dólares aplicados.