Thursday, October 30, 2008

Afinal o que é o SAFE?

O Diário Económico de hoje escreve que o Governo "está a desenvolver contactos com a SAFE, a agência oficial chinesa que administra as reservas monetárias do país, as maiores do mundo, avaliadas em um bilião de euros".

Nada de especial não fosse a SAFE a "State Administration of Foreign Exchange" e não o Banco Central Chinês, que gere, a propósito, bem mais de um bilião de euros, felizmente para a China, ou mau estaria o estado de saúde económica da terra de Mao, onde habitam mais de 2 mil milhões de habitantes.

O facto de se tratar de um jornal "da especialidade", obriga a que quem lá escreve, até por atenção a quem lê, tenha um pouco, para não dizer muito, de cuidado e atenção ao que está a fazer, até porque hoje para muitas dúvidas basta saber encontrar no Google fontes credíveis, por exemplo.

Ora o SAFE, ao contrário do que é dito, não gere as reservas monetárias do país. O SAFE é um fundo soberano, ou seja, criado pelo estado, que gere parte, uma grande parte, dos mais de 1.4 biliões de euros de reservas da China em divisas externas, sobretudo dólares. Tudo bem que gere reservas, e não querendo ser demasiado exigente até admito que por aí houvesse engano, mas bastava ao jornalista olhar para o nome da coisa... para perceber que hám uma grande diferença entre um fundo detentor de reservas de moeda estrangeira e um banco central, esse sim a "autoridade monetária chinesa".

Mas vamos ao que importa realmente ao que importa em tempo de crise, ao dinheiro, ou falta dele, porque, à parte a imprecisão, a notícia é muito importante e interessante...

Estado português quer vender dívida pública aos chineses

O Governo tenta atrair o maior investidor do mundo para comprar a dívida pública nacional.

Bruno Faria Lopes

O Estado português está a desenvolver contactos com a SAFE, a agência oficial chinesa que administra as reservas monetárias do país, as maiores do mundo, avaliadas em um bilião de euros. O objectivo do Ministério das Finanças é simples: conseguir uma sessão de promoção com a autoridade monetária chinesa e atrair um investidor de peso para comprar títulos de dívida pública portuguesa.

“No contexto das actividades de promoção de dívida pública portuguesa, regularmente conduzidas pelo Instituto de Gestão do Crédito Público, está a procurar incluir-se a SAFE num próximo ‘road show’ a realizar na Ásia”, avançou fonte oficial do Ministério das Finanças ao Diário Económico.

Até agora, Portugal tem estado de fora do horizonte da autoridade monetária chinesa, uma vez que esta, “à semelhança de agências congéneres, só recentemente começou a alargar os seus critérios de investimento para ‘ratings’ inferiores [a triplo A]”, explica o Ministério. O ‘rating’ da dívida portuguesa – indicador que mede a capacidade de cumprimento das obrigações financeiras – é de AA- , de acordo com a avaliação da agência Standard&Poor’s.

Para Portugal – cuja dívida pública deverá crescer para 64% do PIB no próximo ano, cerca de 110,7 mil milhões de euros – “a entrada da China como investidor seria muito importante”, explica António Nogueira Leite, ex-secretário de Estado do Tesouro. “Abre a perspectiva de mais liquidez para o mesmo ‘rating’ de dívida pública e pode resultar em ‘spreads’ mais baixos”, acrescenta. Por outras palavras, financia a economia portuguesa e pode ajudar a reduzir os encargos com os juros.

Para atrair a China, o ‘rating’ inferior de Portugal pode acabar por ser uma vantagem no ‘roadshow’ (cuja data está ainda por definir). “Portugal vai tentar vender a ideia da diversificação do investimento – por um lado, é um país que está no euro e, por outro, o facto de o ‘rating’ não ser triplo A implica uma remuneração maior”, explica um ex-responsável pelo Tesouro, que preferiu o anonimato.


China ajuda Espanha contra a crise

No actual contexto de crise – que obriga a um esforço financeiro adicional dos Governos – são vários os países que disputam a liquidez chinesa para ajudar a financiar os seus pacotes de resgate. Na semana passada, o Governo espanhol anunciou que a China manifestou o seu interesse nas próximas emissões de dívida.

A China tem acumulado enormes excedentes comerciais – só em Setembro deste ano cresceu 22,6% em termos homólogos, para os 18,3 mil milhões de euros –, fruto do crescimento da economia baseado nas exportações. Com os fundos acumulados, o estado chinês transformou-se num dos grandes investidores mundiais, a par do Japão, dos países do Golfo Pérsico e da Rússia. As autoridades monetárias de Pequim já são o segundo maior detentor de títulos da dívida pública dos Estados Unidos, a seguir ao Japão, com 541 mil milhões de dólares aplicados.

Friday, October 3, 2008

Lex-Apeal - Le Monde Change.Que fait le Droit?



Saudamos o aparecimento de mais um blog de um autor português, neste caso uma autora, Alice Lacoye Mateus, ligado às questões da Inteligência Competitiva, com central preocupação com o Direito.

Em resposta antecipada e provocatória à questão também provocatória ao mundo do Direito, colocada pelo Lex-Apeal:

O Direito nada mais faz que apresentar recursos para dificultar a mudança, até que se chegue ao Supremo, seja este mais terreno ou mais etéreo.

Wednesday, September 3, 2008

EUA 1 - UE 0

"Veremos a evolução, nos dois lados, para ver quem melhor ganha à crise...", terminava assim o último posto do Inteligência Competitiva. Hoje a OCDE dá a vitória (ainda que provisória e no imediato) aos EUA. Não deixa de ser curioso, embora outros fenómenos que não as taxas de juro expliquem esta situação. que além da batalha da crise, os Estados Unidos estejam também a ganhar a batalha da inflação...

Na AFP

OCDE acredita que a Europa está mais perto da recessão que os EUA

PARIS (AFP) — A Europa está mais próxima de uma recessão do que os Estados Unidos, analisou Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económicos (OCDE), que melhorou suas previsões de crescimento americano para este ano, mas reduziu as da zona euro e principalmente as da Grã-Bretanha.

No total, o G7 (Alemanha, Itália, França, Grã-Bretanha, EUA, Japão, Canadá) vaio continuar atravessando uma "fase de fragilidade da atividade até o fim de 2008", indicou a OCDE em seu relatório sobre as perspectivas econômicas divulgado nesta terça-feira.

"A tempestade sobre os mercados de capitais, a retração dos mercados imobiliários e o encarecimento das matérias-primas continuam pesando sobre o crescimento mundial", acrescentou a OCDE .

O desaquecimento é particularmente acentuado na zona euro, que vai "enfrentar dificuldades daqui ao fim de 2008".

A OCDE espera um avanço de apenas 1,3% do PIB este ano, contra 1,7% das previsões anteriores (maio).

A economia britânica deve entrar em recessão nos dois últimos trimestres do ano, derrubada pela queda dos preços imobiliários.

Ao contrário, o crescimento americano do segundo trimestre foi muito mais forte que previsto, a 3,3% em ritmo anual, levando a OCDE a amenizar seu cenário. Ela prevê ainda 1,8% de crescimento para este ano, contra 1,2% de antes.

"Este desempenho se deve em parte ao comércio exterior, em parte ao estímulo fiscal que surtiu efeito mais rápido que o previsto", explicou Jean-Luc Schneider, diretor adjunto do departamento econômico da OCDE.

Segundo ele, o enfraquecimento do dólar no primeiro semestre sustentou as exportações americanas, mas as da zona euro foram prejudicadas pela valorização da moeda única.

Jorgen Elmeskov, diretor econômico da OCDE, destacou no entanto em entrevista à imprensa que a atividade americana vai ficar estagnada no fim de 2008, com um possível aumento do desemprego.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) também foi pessimista sobre a primeira economia do mundo, prevendo recentemente um crescimento de 1,3% este ano. As duas instituições concordaram em contrapartida sobre a zona euro: o Fundo prevê avanço de 1,4%.

Para o Japão e o Canadá, a OCDE projectou, respectivamente, 1,2% e 0,8% de crescimento em 2008.

No G7, os bancos parecem ter registado em seus balanços o grosso das perdas ligadas aos empréstimos imobiliários de alto risco, que estão na origem da crise financeira mundial, mas as turbulências que persistem sobre os mercados financeiros parecem reflectir a fragilidade da economia real, continuou o relatório.

Além disso, as condições de concessão de crédito se tornaram mais difíceis no último ano, constatou Jean-Luc Schneider.

"No sector imobiliário, estamos começando talvez a ver a luz no fundo do túnel nos EUA, apesar de os preços dos alugueres continuarem caindo", comentou Jorgen Elmeskov.

Na Europa, o recuo dos preços do sector imobiliário e da actividade da construção atinge a Dinamarca, a Irlanda, a Espanha e o Reino Unido, e o volume de transacções continua declinando.

A queda dos preços das matérias-primas desde a segunda quinzena de Julho dá a entender uma "melhora da inflação".

A OCDE se mostrou "um pouco mais preocupada com as expectativas de inflação da zona euro", onde os preços seguem uma tendência persistente de alta, que dos EUA, onde a progressão foi menor.

Ela considera ainda as políticas monetárias actuais dos bancos centrais apropriadas, por enquanto.

Friday, August 8, 2008

Crescimento Económico VS Inflação

A nossa realidade ...


Banco Central Europeu mantém taxas em 4,25%

O crescimento económico da Zona Euro vai ser "substancialmente mais fraco" do que o previsto, reconheceu ontem Jean-Claude Trichet, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), fechando a porta, para já, a uma nova subida dos juros. Mas avisou que a inflação, "ainda a níveis inquietantes", continua a ser a prioridade.


O BCE, que ontem manteve as taxas directoras inalteradas em 4,25%, vai "continuar a monitorizar os desenvolvimentos" no que respeita à inflação e aos seus efeitos secundários, bem como no que respeita ao crescimento económico.

A 14 de Agosto deverá ser publicada a primeira estimativa do produto interno bruto (PIB) da Zona Euro para o segundo trimestre. E os números deverão ser substancialmente inferiores aos 0,7% dos primeiros três meses deste ano.

A realidade dos outros...

Fed mantém juros em 2%, apesar dos riscos da inflação nos EUA

O Federal Reserve (Fed, banco central americano) manteve hoje a taxa base de juros em 2%, enquanto a inflação acelera e a actividade económica dos Estados Unidos continua fraca.

"Embora persistam os riscos de desaceleração do crescimento económico, os riscos de inflação também são causa de preocupação significativa", disse o Fed.

A "actividade económica expandiu no segundo trimestre", embora seja atribuído o aumento, em parte, ao crescimento da despesa dos consumidores e das exportações. O Produto Interno Bruto (PIB) americano, que no primeiro trimestre foi de 0,6%, alcançou, entre Abril e Junho, um ritmo anual de 1,9% .

Apesar da economia americana ter perdido, entre Janeiro e Julho, cerca de 483 mil postos de trabalho, e a taxa de desemprego ter subido para 5,7% , o banco central preferiu não elevar os juros, apesar dos perigos da inflação, para não prejudicar o crescimento económico.

Dois pesos e duas medidas

Dos dois lados do Atlântico os indicadores económicos têm pesos diferentes e as medidas adoptadas são antagónicas, com resultados que afectam menos as famílias, nos estados unidos, e algumas famílias, na Europa.

"Faremos certamente o que for necessário para garantir a estabilidade dos preços". Palavras de Claude Trichet, há boa maneira alemã. Já nos Estados Unidos, entende-se que é preferível que as famílias não sofram com uma subida dos empréstimos habitação, por norma o maior encargo individual mensal em percentagem do rendimento disponível, para assegurar a manutenção do consumo e o crescimento económicos, pese os problemas provocados pela alta da energia.

Como todos sabemos uma redução da taxa pode acelerar a inflação, enquanto um aumento encareceria os créditos e dificultaria o financiamento das empresas e das famílias, o que resfria o crescimento. Sabendo isto, há que optar.E em termos de competitividade, que é o que tratamos sobretudo neste blog, a opção dos EUA aparenta ser mais sensata, como comprovam os indicadores.

Embora tenha havido subida do desemprego e da inflação, o PIB está nos 1,9% - e a actividade económica dos Estados Unidos continua fraca -, aumentaram as exportações, com a juda da mania do euro forte, enquanto na Europa Trichet está aparentemente satisfeito com números abaixo dos 0,7% do PIB, desde que se restrinja a desgraçada da inflação, para que os europeus não paguem mais oito ou nove euros numa compra de 200 no supermercado e possam pagar mais 100 ou 200 euros na conta da casa, do escritório, da loja...

Esta não é uma questão ligeira, nem nos compete julgar se uma posição é melhor ou pior que outra do ponto de visto técnico, agora não deixam de ser visíveis os resultados de cada opção e sobre esses temos uma opinião clara. Pese o perigo inflacionista, a actual política económica europeia, como já alertaram muitos responsáveis políticos, vai continuar a provocar a perda de competitividade e as famílias, bem como as empresas, vão ter cada vez mais a dever ao final do mês (pois, ao contrário do que se pretendia com a subida das taxas de juro, continuam a recorrer e correr ao crédito, desta feita não para pagar viagens e outros "luxos necessários" - nas palavras de alguns irresponsáveis - mas para pagar outros créditos...

Veremos a evolução, nos dois lados, para ver quem melhor ganha à crise...

Monday, April 14, 2008

Jorge Coelho CEO, uma questão de percepção

Jorge Coelho é para os comuns um político, um político com muito peso no PS, um estratega da política, um político profissional e apesar desta não ser uma verdade, em absoluto, ganha o sentido de verdade porque o público assim o crê e porque foi essa a imagem construída, pelo próprio e por outros a quem essa imagem interessou, e apercebida pela generalidade das pessoas, ao longo das últimas décadas.

Esta imagem criada e apercebida de Jorge Coelho concedeu-lhe um estatuto em Portugal que não esmorece nem se apaga com um virar de página. Pelo contrário, serve de contexto à leitura da nova página, uma leitura que pode ser distorcida, é verdade, mas que é legitimada pelas páginas anteriores... a não ser que o autor consiga assinalar e fazer passar de um modo claro e evidente uma ideia de ruptura. Até por que não é difícil esclarecer que há modos mais discretos de conseguir favores com a "contratação" de alguém e que se fosse essa, de facto, a intenção da Mota Engil, certamente não tornavam Jorge Coelho CEO, antes o contratavam como consultor, sem sequer terem que o publicitar.

No entanto, não passou a ideia de ruptura. E na opinião pública estranha-se que um político profissional assuma um cargo de executivo de topo numa construtora, "ainda para mais nesta altura de grandes obras", dizem. Para os comuns, esta nomeação tem que ver com o peso político de Jorge Coelho, o único que os comuns lhe conhecem e reconhecem, e com os "favores" que poderá conseguir para a construtora.

Ora, este entendimento dos comuns cidadãos deste país tem por base apenas a informação a que têm acesso pelos media e a imagem pessoal ou a que colectivamente se faz de Jorge Coelho. Com base apenas nesta imagem e face às informações disponíveis é legítimo que as pessoas tracem cenários de "interesses", "favores", que, mesmo que não aconteçam, vão "existir".

Doravante, sempre que a Mota Engil ganhar um concurso público ficará a ideia do demérito do grupo e do CEO Jorge Coelho e o mérito do político Jorge Coelho... e esta ideia fica porque não foram dados aos comuns outros elementos de informação que contribuissem para assinalar uma ruptura e/ou justificar uma escolha.

A Mota Engil e o seu novo CEO não souberam gerir a informação, não soberam agir sobre o tabuleiro informacional onde hoje se joga a vida pública de personalidades e empresas para gerarem as condições favoráveis a esta nomeação. À Mota Engil cabia a necessária, como evidencia o actual clima de suspeição e, em alguns casos, de histerismo, justificação da escolha, do mesmo modo que Jorge Coelho mais teria a ganhar que a perder de falar sobre o assunto, não para se justificar, porque quem precisa de o fazer é quem o nomeia, mas para deixar clara uma ruptura com imagem que dele faziam e ainda fazem.

Este é um caso evidente de falta de gestão estratégica da informação, de falta de Inteligência Competitiva, que fragiliza a imagem de um grupo e de um responsável.
Por exemplo, o silêncio de Jorge Coelho, na "Quadratura do Círculo", fez passar com grande impacto a mensagem de José Pacheco Pereira.

Se, de facto, não está em causa qualquer ilegalidade ou imoralidade, porque não soube a Mota Engil preparar convenientemente esta nomeação? Porque não agiu preventivamente para afastar cenários ou teorias da conspiração, uma consequência previsível do silêncio?

Quando não mobilamos convenientemente uma sala sujeitamo-nos ao eco, mesmo que o que se ouve seja desagradável, ou incorrecto. Havia aqui que saber mobilar o espaço público, preparar a opinião para receber sem teorizações ou especulações a notícia da entrada de Jorge Coelho para a administração do grupo Mota Engil. Havia que traçar os cenários, saber os pontos fracos da nomeação, em termos de imagem, para que a melhor resposta não fosse o silêncio (sempre a melhor resposta dos mal preparados) ou um mero "é assim", como disse Jorge Coelho a José Pacheco Pereira.


PS (post script e não Partido Socialista): Não importam aqui as declarações tão oportunas, quanto ridículas, de algumas personalidades da política nacional, para generalidade da população vistas como um exemplo de dedicação aos superiores interesses de si mesmos. A visão destas personalidades sobre a matéria, enquadrada pelos ainda inexplicados exemplos de passagens da política à acção empresarial, transversais aos vários partidos, é tida em conta pelas generalidade da opinião pública com o desprezo que merece ao povo quem aparentemente (e para esta aparência muito contribuiram os que desgovernaram este país ao longo de décadas, "sempre os mesmos", como comummente se diz), ao invés de servir o povo, tem sabido, com grande grau de competência, servir-se do povo.



Tuesday, January 29, 2008

Incentivo à poupança vs. incentivo ao consumo

Discutia-se ontem no programa da RTP "Prós e Contras" a questão dos certificados de aforro e o modo pouco sério como o Governo decidiu baixar a remuneração desses mesmos certificados. Os economistas presentes defenderam, por um lado, a necessidade de o Governo se financiar do modo mais barato possível, um princípio geral que todos defenderam, mas foram suscitadas dúvidas quanto à legitimidade social da medida de abaixamento dos juros.

A questão central passa por perceber se num contexto de alto nível de endividamento de Particulares, Empresas e Estado não se deveria optar por incentivar a poupança de particulares e empresas e encontrar uma solução para o Estado que permita também a este poupar, sem colidir com os interesses de Empresas e Particulares. Ou se, por outro lado, não se deveria optar por estimular o consumo.

O problema está no facto de o Governo não estar a fazer uma coisa nem outra, ou seja, centrou-se apenas no seu problema - com desinvestimento público, manutenção da carga fiscal pesada e desincentivos à poupança (sem poder incentivar o consumo porque as famílias e empresas estão endividadas) - e esqueceu-se que Particulares e Empresas fazem parte da solução.

Ao contrário do que muitos dizem, o Governo não está obcecado pelo défice, está, isso sim, obcecado pelo corte das despesas e pela adopção da medida mais fácil do ponto de vista da receita - a inércia, com a manutenção de uma carga fiscal e um sistema burocrático pesadíssimos que impedem o investimento de particulares e empresas, por falta de liquidez.

Também ao contrário do que muito levianamente se tem dito e escrito, não se está a reduzir o défice das contas públicas. O que se faz e prevê continuar a fazer é reduzir a taxa anual de crescimento do défice consolidado, já a tocar os 65%. Uma redução real do défice implicaria que todos os anos tivéssemos superavit orçamental, o que não sucede, nem por sombras, e, pior, parece que aos lideres cá do burgo satisfaz muito bem ter um défice orçamental de apenas 3% do PIB.

Ora a percentagem 3% é, como todos sabemos, um valor relativo... ao PIB, à riqueza produzida no nosso país, logo, se aumentarmos o PIB e se mantiverem os valores absolutos do défice orçamental reduzimos automaticamente a percentagem do défice. E tão ou mais complicada que a falta de capacidade dos sucessivos governos para a gestão corrente das contas públicas é a incapacidade do país produzir riqueza - é aqui, a par de vários problemas estruturais da nossa economia, que reside a solução e o problema.

O Estado pode tornar-se mais ligeiro, é verdade, mas isso só poderá acontecer sem graves consequências sociais se forem primeiro criadas as condições de mercado para absorver a mão de obra em excesso no aparelho de Estado.

Não existem, obviamente, milagres económicos, existe sim estratégia e é precisamente isso que tem faltado a Portugal.

Estimular a economia tem de passar forçosamente por estímulos ao investimento, à competitividade, com desagravamento de impostos para empresas e particulares. Claro que no curto prazo isto terá impactos negativos nas contas públicas, mas no médio/longo prazo, se bem gerido, os impactos serão positivos. O mercado terá condições para absorver mais mão-de-obra e o estado poderá tornar-se mais ligeiro, cortando na despesa corrente e com ganhos na receita, em virtude do crescimento económico.

Havendo liquidez poderemos aí começar a poupar, a reduzir o défice orçamental, mas neste momento - e basta olhar para os lados (Espanha e EUA) - importa estimular o consumo, dando aos portugueses o que à grande maioria falta - dinheiro e pedagogia, para que entendam que as viagens ao Brasil e a outros países onde os portugueses se gostam de sentir ricos não são uma necessidade, são um luxo.

Friday, January 25, 2008

Bush - Mão visível no mercado

Depois de ter brindado a economia norte-americana com uma aposta no dólar fraco (mau para os norte-americanos que planeavam vir fazer turismo para a Europa, mas óptimo para aqueles que queriam vender-nos produtos e serviços), o Presidente norte-americano decidiu pôr ainda mais as "mãos na massa" e oferecer aos cidadãos e empresas a liquidez de que tanto se queixam uns, para fazer face às necessidades diárias, e outros para poderem investir em novos equipamentos e modernizarem-se.

Os menos optimistas consideram que a injecção de 150 mil milhões de dólares, por via da pura devolução de impostos, no caso dos particulares, e por via do aumento de deduções na aquisição de equipamentos, no caso das empresas, pode não resultar, mas a verdade é que, embora a medida ainda não tenha sido aprovada, já começou a dar frutos, complementada pela descida das taxas de juro de referência em 0,75 pontos percentuais para os 3,5%.

O modelo adoptado tem, nos seus princípios, tudo para resultar, pois impõe, no caso das empresas, a modernização, logo, um aumento da competitividade. No caso dos particulares poderá, de facto, haver uma tendência para a poupança, mas também nesse caso de forma indirecta ganha a economia, pelo aumento da liquidez no mercado inter-bancário e consequente estabilização dos das taxas de juro em valores motivadores para o consumo das famílias.

Ou seja, quer as famílias consumam, quer poupem, a economia norte-americana ficará melhor do que estava, e até o estado sai a ganhar, pois, se disto resultar um crescimento económico, em pouco tempo haverá um retorno do investimento agora realizado.

Europa descansa, à sombra do euro forte

Por cá, e não falo de Portugal, falo do contexto europeu, o senhor governador do BCE parece mais preocupado em fazer viagens mais baratas e em comprar mais barris de petróleo do que em estimular o consumo e as exportações. São opções ( e nisto existem sempre vantagens e desvantagens) , mas penso que seremos nós, os consumidores, a pagar no futuro muito cara a obsessão europeia de ter a moeda de referência nos mercados internacionais. E ainda me têm de explicar, sem ser por motivos de vaidade, porque motivo o euro forte é bom para uma economia europeia que deveria estar mais empenhada em combater a pressão competitiva dos países emergentes e em contrariar a descida do superavit da balança comercial.

Mas, a soberba Europa parece ter já encontrado a solução para este problema - peça-se aos outros que valorizem as suas moedas. Está-se mesmo a ver que o próximo passo será apelar à generosidade de Bush para apoiar a transformação do Euro na moeda de referência dos mercados mundiais e ao mesmo tempo apreciar o dólar qb para estimular as importações norte-americanas de produtos europeus.









Thursday, January 17, 2008

Ciber-Guerra, o novo conflito global



Tendência

O director do FBI indicou recentemente que mais de um milhão de computadores tinham sido atacados por botnets, programas maliciosos autónomos que sequestram computadores para a prática de ciber-crimes. Estes ataques permitiram, de acordo com o responsável do FBI, "bloquear as operações de uma das maiores instituições financeiras norte-americanas e também da Universidade da Pensilvânia". E, acrescenta, "os sistemas militares vão ser o próximo alvo".

O episódio descrito pelo director do FBI e sobretudo, o alerta sobre um futuro ataque aos sistemas militáres são sintomáticos da importância que o Ciberespaço ganhará, nos próximos anos, nos confrontos militares e económicos, entre nações e empresas. Hoje, é já evidente, que à oportunidade das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC), potenciadoras de uma comunicação global sem precedentes, porque contrariam as barreiras de tempo e espaço que a geografia impõe, se deve contrapor a ameaça crescente dessas mesmas NTIC serem usadas para atacar os interesses económicos, militares e políticos das nações.

A Ciber-Guerra, conceito que pode ser aplicado tanto no plano politico/militar como económico, será na próxima década uma das formas principais de guerra, com o aumento da capacidade dos computadores e à medida que a automação chega a todos os cantos da economia global.

Cerca de 120 Estados desenvolvem já métodos para utilizar a Internet para afectar mercados financeiros, redes de computadores governamentais ou o sector da energia de países inimigos, segundo um relatório sobre a situação mundial da ciber-segurança, recentemente divulgado pela empresa de segurança informática McAfee.

Desenvolvido em parceria com várias entidades de segurança, entre as quais a NATO e o FBI, o relatório refere que os ciber-ataques “evoluíram de uma curiosidade inicial para operações bem financiadas e organizadas para espionagem política, militar, económica e técnica”. “Muitos governos não sabem sequer que estão a ter fugas de informação. Noventa e nove por cento dos casos são provavelmente desconhecidos”, refere a McAfee.

Na dianteira aparenta estar a China, o primeiro país “a utilizar ciber-ataques para fins políticos e militares», segundo o relatório, mas também a Rússia é visada a propósito dos ataques à rede informática da Estónia.

Pentágono cria “Comando do Ciberespaço”

Preocupado com as implicações para a segurança e empenhado em ganhar a dianteira no novo modelo de confronto, o Pentágono vai começar a financiar este ano uma nova unidade da Força Aérea, denominada "Cyberspace Command”, que permitirá, de acordo com John Robb (ver aqui), que as forças militares norte-americanas transportem a guerra para as infra-estruturas civis de informação. Com um orçamento gigantesco, o Comando do Ciberespaço, iniciará a sua actividade em 2009, com um exército de 500 “ciberguerreiros”.

No entanto, a defesa dos Estados Unidos no espaço virtual são se avizinha fácil. A análise que John Robb faz à nova unidade do Pentágono motiva apreensão. Para este especialista de contra-terrorismo o Comando do Ciberespaço é, à partida, um projecto falhado. A falta de ligação a grupos e actividades criminosas (o que até abona em favor do Pentágono), a menor agilidade, motivada por mecanismos de controlo próprios das forças militares, e a necessidade de um cuidado maior na actuação para evitar embaraços públicos, podem condicionar a actuação desta unidade de comando. Há ainda um problema de escala. Aos 500 ciber-guerreiro opõe-se um exército de centenas de milhares de ciber-criminosos que, segundo as estimativas, controlam dezenas de milhões de computadores.

Nesta Ciber-Guerra, segundo John Robb, têm a ganhar os países que protegem ou têm ligações estreitas com redes criminosas. Caso da Rússia, que, de acordo com o especialista em contra-terrorismo, soube aproveitar contra a Estónia as potencialidades da Russian Business Network (Ler mais sobre RBN aqui), onde estão reunidos milhares de criminosos informáticos responsáveis, segundo as estimativas, por 60% da actividade criminosa online, em todo o mundo, e também da China, nos últimos tempos muito activa no recurso a hackers.

A institucionalização da Ciber-Guerra, por parte dos EUA pode também criar problemas junto dos países aliados e mesmo junto da opinião pública norte-americana. Face à maior capacidade dos seus inimigos, o novo comando poderá ver-se forçado a tender mais para a componente protecção, abrangendo a segurança de empresas.

Também na Alemanha a Ciber-Guerra preocupa as autoridades, sobretudo depois dos ataques de hackers chineses, a que não escapou a chancelaria, com a "Bundesamt für Verfassungsschutz", o equivalente alemão ao MI5 britânico, a querer desempenhar o papel de "centro de coordenação para a espionagem industrial" e combater ciber-ataques de serviços secretos estrangeiros (aqui).

O Ministério do Interior Alemão estima que a indústria do país perca cerca de 20 mil milhões de euros por ano em resultado do roubo de dados, com cerca de 750 mil computadores infectados com vírus trojan.

Seja qual for o desenvolvimento do confronto virtual, nada irreal, a verdade é que os dados estão já lançados para uma nova dimensão da guerra que se joga não apenas na Internet, mas a toda a largura do espectro electro-magnético. Pelos fios do telefone, pelo cabo da televisão, pela rede eléctrica, estamos ligados ao mundo, mas não podemos esquecer que o inverso também sucede. Daí que seja fundamental que, cada vez mais, se perceba a necessidade de investir na segurança, em particular no campo económico, mais vulnerável e apetecível. Estados e empresas, precisam de adoptar medidas de intelligence e protecção – precisam de Inteligência Competitiva ou Económica - para identificar ameaças e salvaguardar as informações críticas.

2008/01/16
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