Uma entrevista deste fim-de-semana de Jorge Coelho, CEO da Mota Engil, vem dar razão ao que aqui se dizia há quase 2 anos, aquando da sua nomeação. Houve então uma inexistente gestão da percepção, o que se traduziu numa desconfiança generalizada e, como hoje o próprio assume, duradoura.
Noto uma frase curiosa de Jorge Coelho, reveladora de que, no seu entendimento, houve quem soubesse aproveitar a fragilidade da sua nomeação para fazer um ataque de informacional: "Os ataques devem-se a uma estratégia de mercado baseada no ataque", diz ao Sol.
Em Abril de 2008 dizia-se aqui no IC:
"não passou a ideia de ruptura [com imagem de político]. E na opinião pública estranha-se que um político profissional assuma um cargo de executivo de topo numa construtora, "ainda para mais nesta altura de grandes obras", dizem. Para os comuns, esta nomeação tem que ver com o peso político de Jorge Coelho, o único que os comuns lhe conhecem e reconhecem, e com os "favores" que poderá conseguir para a construtora.
Ora, este entendimento dos comuns cidadãos deste país tem por base apenas a informação a que têm acesso pelos media e a imagem pessoal ou a que colectivamente se faz de Jorge Coelho. Com base apenas nesta imagem e face às informações disponíveis é legítimo que as pessoas tracem cenários de "interesses", "favores", que, mesmo que não aconteçam, vão "existir".
Doravante, sempre que a Mota Engil ganhar um concurso público ficará a ideia do demérito do grupo e do CEO Jorge Coelho e o mérito do político Jorge Coelho... e esta ideia fica porque não foram dados aos comuns outros elementos de informação que contribuissem para assinalar uma ruptura e/ou justificar uma escolha".
Doravante, sempre que a Mota Engil ganhar um concurso público ficará a ideia do demérito do grupo e do CEO Jorge Coelho e o mérito do político Jorge Coelho... e esta ideia fica porque não foram dados aos comuns outros elementos de informação que contribuissem para assinalar uma ruptura e/ou justificar uma escolha".
Ler Mais: Jorge Coelho CEO, uma questão de percepção
Por Frederico Pinheiro
O antigo ministro socialista Jorge Coelho, actual CEO da Mota-Engil, nega em entrevista ao SOL qualquer promiscuidade com poder político e fala em trabalho bem feito. A construtora ameaça agora parar o projecto do TGV.
O ano ainda agora está a começar, mas já foram adjudicados dois mega-negócios a consórcios onde a Mota-Engil participa. Além da construção da barragem da Venda Nova III (131 milhões de euros), a empresa lidera o agrupamento Ascendi, concessionário da auto-estrada do Pinhal Interior (1,244 mil milhões).
A aproximação de Jorge Coelho, CEO da Mota-Engil, à actividade política (ex-ministro socialista com a pasta das Obras Públicas) tem levantado polémicas em torno das obras ganhas pela empresa. No Parlamento, o Bloco e o PCP atacaram a sua mudança para a construtora.
Até mesmo o PSD acusou o governo socialista de beneficiar a Mota-Engil, com o ‘caso’ Liscont. Alguma imprensa espanhola, devido ao recente confronto com a espanhola FCC, diz que Coelho tem bastante influência na imprensa e junto do PS. No entanto, Coelho garante que as críticas não o afectam.
«Os ataques devem-se a uma estratégia de mercado baseada no ataque» , diz ao SOL Jorge Coelho. «Estou farto de levar pancada, mas já estou habituado». Para o presidente-executivo da Mota-Engil, o sucesso do grupo deve-se «ao trabalho bem feito».
Amigo pessoal do primeiro-ministro José Sócrates, Coelho assegura que «não existe promiscuidade entre a esfera política e a Mota-Engil». «Existem muitas pessoas de vários Governos a trabalharem noutras empresas, mas eu sou o principal alvo. É porque gostam mais de mim», ironiza.