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Thursday, October 4, 2012

Quando o centro de gravidade global e a guerra passou da Geopolítica para a Geoeconomia


A Inteligência Competitiva pressupõe e inscreve-se num conjunto de dinâmicas que se manifestam globalmente por uma passagem do centro de gravidade da geopolítica para a geoeconomia.

Esta última, teorizada por Edward Luttwak, é o resultado da conjugação de três factores determinantes:

Em primeiro lugar, uma mutação profunda do capitalismo que tende para o conflito, para um endurecimento permanente da concorrência entre actores económicos – Christian Harbulot bem explica a este propósito que ao contrário da geopolítica, na esfera geoeconómica estamos obrigatoriamente virados para o ataque, para ganharmos posição de vantagem no mercado.

Em segundo lugar, o fim do confronto frio entre os dois blocos provocou uma profunda alteração dos jogos de poder à escala global. O fim da bipolarização, o desaparecimento do outro, do inimigo, raiz de todo o mal – substituído por muitos outros, não explicitamente assumidos –, alterou a percepção do mundo e fez deslocar para a esfera económica os jogos de poder. Hoje, um aliado militar pode ser um rival económico e queda do bloco soviético fez reaparecer os interesses económicos das nações, com o surgimento de uma enorme tentação de lucrar com o liberalismo dos outros.

Por fim, também as formas de guerra acompanharam esta evolução em dois planos complementares: a informação substituiu as armas enquanto instrumento superior no confronto, com a violência que martiriza os espíritos a sobrepor-se à violência que martiriza os corpos, e a este movimento de deslocalização – de um plano material da guerra para um plano imaterial – juntou-se outro desvio do confronto: do campo político (da conquista territorial), para o campo económico (da conquista de mercados).

Impulsionado e sustentado numa liberalização dos mercados, na globalização das trocas e na sociedade de informação, um conjunto de alterações profundas colocou a geoeconomia no centro da disputa pelo poder, o que conduziu Bernard Esambert, já em 1971, e, mais tarde, Christian Harbulot a falar de “guerra económica”.

Note-se que há exemplos anteriores de guerra económica, mas esta servia objectivos geopolíticos. O bloco soviético, por exemplo, moviasse já por interesses económicos à escala mundial e era a política, a ideologia, que “vendiam” o seu modelo económico. A política servia, por exemplo, para assegurar matérias-primas baratas e mercados para as suas indústrias de armamento, produção nuclear e de equipamentos industriais.

Thursday, February 25, 2010

Geoestratégia: Europa de Leste vira-se para Washington


TENDÊNCIA

Europa de Leste vira-se para Washington

O novo pacto Berlim-Moscovo, com uma aparente convergência de interesses em diversos domínios, começa a gerar nos países da Europa de Leste um sentimento de cerco que os leva a virar-se para Washington e ver no escudo antimíssil a “tábua de salvação”.
Como bem assinalava, há dias, Miguel Monjardino, no Expresso, enquanto Berlim assume o comando político-financeiro, na União Europeia, sopram de Leste ventos de crescente influência (Kiev entrou novamente na órbita russa) e convergência com a Alemanha que deixa os ex-vassalos soviéticos sob cerco.

Moscovo, recorde-se, promulgou uma nova doutrina militar que considera o alargamento da NATO como a principal ameaça à segurança e contempla o uso de armas nucleares em situações específicas.

Na Casa Branca, parecem os países de Leste ter encontrado um refúgio seguro. Polónia, Roménia e Bulgária já se mostraram interessadas para acolher componentes do sistema antimíssil norte-americano.

Os EUA deverão instalar mísseis Patriot na Polónia, a partir de Abril; a Bulgária, apesar de ter anunciado formalmente que ainda não realizou qualquer negociação sobre o escudo antimíssil com os EUA, entra nas contas de Washington; e a Roménia já anunciou que vai receber “interceptores terrestres de mísseis balísticos e de médio alcance”, operacionais em 2015.

Os três países de Leste fizeram questão de dizer que o sistema americano não é contra a Rússia, após Moscovo se ter mostrado preocupado com a possibilidade de ter um escudo antimíssil dos EUA na antiga Cortina de Ferro.

Em resposta aos esforços americanos, também a Rússia instala o seu sistema antimíssil. A Transdnístria, região russófona separatista da Moldávia, está já pronta a albergar componentes russos se Moscovo o solicitar, para fazer face aos interceptores romenos.

Neste jogo antimíssil, a componente militar aparenta ser sobretudo um instrumento de influência geoestratégica e este carácter instrumental coloca em segundo plano as eventuais ameaças iraniana e sul-coreana, recorrentemente apresentadas como justificação para o escudo.

Também a Alemanha, ao leme da UE (relegando para segundo plano França e Reino Unido), joga a sua influência e a dos seus comandados (os países da União), como aliás tem sido notório no problema das finanças gregas, vistas como uma séria ameaça à Europa, ao Euro e às ambições internacionais da UE.

Christian Harbulot, director da École de Guerre Économique, na conferência de Inteligência Competitiva que fez no Taguspark, a 04 de Junho de 2009, alertava precisamente para o aparecimento de um novo pacto germano-russo. E Paris, como diria Granadeiro, sente-se "encornada"...


André Gonçalves Nunes

Artigo publicado na TDSNews nº28
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