Monday, November 12, 2012

Basta sermos honestos...



Á mulher de César não bastava ser honesta, devia parecer honesta... mas tinha de ser honesta, era uma condição necessária... Em Portugal, na análise ao estado do sítio, a mesma honestidade devia ser exigida a quem procura aparentar ser honesto, mas não o é. Repetida à exaustão, a frase "vivemos acima das nossas possibilidades" é de uma tremenda desonestidade quando usada, como o é, de um modo generalizado.

Quem viveu acima das suas possibilidades? O Estado? As Familías? Todos?

Esta acusação é feita, contextualize-se, num país onde o salário médio ronda os 808 euros líquidos e há 550 mil trabalhadores que ganham o salário mínimo (dados de Junho divulgados pela SS); onde, em Agosto de 2010, a média das pensões pagas aos portugueses pela Segurança Social no primeiro semestre era de 397 euros e estava perto do limiar da pobreza estipulado em 354 euros.

Ou seja, para que fique claro, apesar de em média (quando se fazem generalizações é a média que deve ser tida em conta na argumentação) os trabalhadores portugueses ganharem 808 euros e os reformados uns espantosos 397 euros que ficam 43 euros acima do limiar de pobreza, ambos são acusados de viverem acima das suas possibilidades...

Face a estes números, é de louvar que alguém consiga viver, quanto mais acima de quaisquer possibilidades...

Poderá pensar-se: "pois, lamentavelmente ganham pouco mas as famílias endividaram-se sem saber viver com o que ganharam". Ou, usando a visão Jonet do Mundo, andaram a pedir emprestado para alimentar o luxuoso vício de comer bifes todos os dias...

Um disparate de todo o tamanho e sem qualquer fundamento na realidade quando se fala de um modo genérico...

Quando se diz haver taxas de endividamento das famílias de 129% face ao rendimento anual disponível é preciso saber aquilo que se está de facto a dizer e em que se traduz.

Em primeiro lugar... ninguém está à espera de pagar num ano , nem pessoas, nem empresas, nem Estados, toda a dívida que contraem. E contraem dívida para melhorar as suas condições de vida (independentemente dos juízos de valor que cada um faça sobre o que é qualidade de vida para uns e para outros) e porque, e este é o ponto mais importante, têm expectativas de que a seu rendimento melhore ou na pior das hipóteses se mantenha (alguém acha ilegítimo ter esta perspectiva?), enquanto em simultâneo a inflação ajuda a que o valor da dívida diminua (600 euros de prestação da casa hoje, não têm o mesmo peso no orçamento familiar daqui a 10 anos).

Face a um nível de endividamento de 129% é absurdo que se ache o mesmo preocupante e crime de lesa pátria. Estamos a falar de um valor de dívida que se paga com 15,5 meses de ordenado. Quinze ordenados e meio bastam, em média, para liquidar toda a dívida das famílias...

Há casos de endividamento maior, é evidente que sim, 200 mil famílias portuguesas enfrentam uma taxa crítica de esforço financeiro  (casos em que o peso dos encargos da dívida pesam mais de 40% do rendimento). Mas mais de 60% da população em 2012 não tem quaisquer dívidas à banca e no universo de 38% de agregados que têm dívidas a taxa mediana de esforço é de 16%.

Houve assim quem, de facto, vivesse acima das possibilidades , mas as famílias (no seu todo, tendo em conta os dados citados) não o fizeram, viveram com as possibilidades que lhes são dadas também pelo crédito, e, prova disso mesmo, a larguíssima maioria cumpre as obrigações que tem para com o Estado e com os credores, apesar dos juros escandalosos cobrados pela banca e da absurda carga fiscal.

E, espanto, as famílias até poupam, precisamente porque não têm de pagar dívidas em apenas um ano. A poupança bruta das famílias em % rendimento disponível das famílias foi de 9,7 em 2011... Nada mal para famílias genericamente rotuladas de sobreendividadas.

Ou seja, em cada ano, contas feitas aos encargos anuais e receitas anuais, as famílias têm superavit (mais que cumprem o Pacto de Estabilidade e Crescimento).

Confundir a situação de endividamento das famílias com a do Estado (com uma taxa de esforço financeiro este ano de 70,5%), e usar isso como chantagem emocional é absolutamente inaceitável.

Com o Estado há de facto um sério problema, mas não deveria ser a dívida pública ir atingir os 111,6 % do PIB o motivo de alarme, pelas mesmas razões já notadas para as famílias. Só o é face à incapacidade de entre o deve e o haver, a cada ano, o Estado ter saldo positivo e, assim, baixar o peso relativo do esforço com a dívida. Ao contrário das Famílias, o Estado não consegue fazer o exercício conjunto de pagar dívidas, consumir (investimento na economia, oferta de serviços públicos e apoio social) e poupar.

Tomara mesmo que Portugal ainda tivesse capacidade de se endividar, porque aí não seria necessária qualquer troika de dinheiro por condições.  Não tem, porque a máquina do Estado é incapaz de parar de gastar mais do que o que a receita que obtem e apenas isso deve merecer discussão. E este Governo só sabe aumentar artificialmente a sua "qualidade de vida", por transferência directa do rendimento das famílias.

Ao contrário das famílias, o Estado não sabe gerir os recursos anuais disponíveis nem a possibilidade que lhe é dada pelo crédito interno e externo de, pelo investimento desse crédito, viver, de um modo sustentável, cada dia acima das possibilidades que teria sem esse crédito. Era de esperar que esse crédito e o outro tipo de crédito dado pelos portugueses aos políticos em cada votação se traduzisse em  investimento e na concretização na realidade das possibilidades artificiais que já estavam a ser dadas hoje. Pior, o Governo optou, ao invés de reduzir despesa e gerar condições para aumento de receita, por manter o estilo de vida à custa de uma descarada retirada de rendimento disponível de famílias e empresas, que só podem ser acusadas de ingenuidade face à capacidade dos políticos cumprirem as expectativas depositadas.

As famílias portuguesas fizeram um crédito habitação para terem, 30 anos antes de a poderem pagar na totalidade, a casa que esperavam poder vir a ter. E só por falta de senso se pode achar isto ilegítimo (as famílias apostaram num futuro melhor, acreditando na capacidade própria para o concretizarem e isto revela ambição e confiança). Do mesmo modo, pagaram licenciaturas e mestrados aos filhos, antecipando uma vida melhor para os seus que recompensasse o investimento feito.

E mesmo depois do estoirar da crise, as famílias continuaram a conseguir manter alguma dignidade de vida, ajustando o consumo, como se nota nas estatísticas, enquanto o Estado nada fez para conter gastos e aumentar receitas induzindo crescimento económico e confiança nas famílias e empresas. Muitos só não podem hoje não manter uma vida acima do que lhes seria possível sem crédito,  porque o Estado, ao invés de resolver os problemas ineficiência da máquina, decidiu optar pela solução mais fácil de espremer mais os contribuintes, retirando às famílias, parte ou a totalidade da margem que tinham para viverem orgulhosamente com dívidas, pagá-las, consumirem e pouparem. Para com o conforto dado pelo crédito, viverem já hoje acima das possibilidades dadas por um Estado que revelou ao longo de décadas ausência de estratégia e incapacidade para gerir a "coisa pública" e que, face a essa incapacidade, se devia coibir de destruir, com políticas de austeridade pela austeridade, aquilo que ainda funciona no país: a capacidade das famílias gerirem o seu dinheiro. Familías a que o Estado nada tem a ensinar e com que tem ainda muito que aprender, sobretudo em honestidade.

Friday, November 9, 2012

Dilbert - "The Competition"

Porque vêm aí o fim de semana deixo este vídeo da popular série de animação Dilbert, sobre "The Competition"... Um vídeo com muito humor, mas de onde é possível tirar algumas conclusões sobre o que se deve e não deve fazer quando se trata de lidar com a concorrência e também uma mordaz forma de mostrar os limites da segurança dos segredos empresariais...





Thursday, November 8, 2012

Intelligence no código genético















A influência da intelligence, enquanto princípio e modelo, no desenvolvimento de uma gestão estratégica das informações nas organizações é por demais evidente – em particular pela aplicação do “ciclo de intelligence” como metodologia e elemento central da primeira componente da Inteligência Competitiva (precisamente, a Intelligence) – e fundamental para que se possa entender o que é a Inteligência Competitiva.

Apesar de haver a recusa, por parte de alguns autores, de assumir uma relação da IC com as práticas militares de intelligence (muitas vez confundidas com o campo mais restrito da espionagem e das práticas ilegais de recolha de informação), a verdade é que quando se localizam as fontes em que esses autores se basearam para sustentar uma origem não militar da Inteligência Competitiva encontramos a contradição da sua abordagem.


O conceito de intelligence

A palavra inteligência possui múltiplos significados. Tem origem no latim - intelligentia – e significa a faculdade que tem o espírito de pensar, conceber, compreender, o discernimento. É ainda sinónimo de juízo, raciocínio, mas também significa a capacidade de resolução de novos problemas e de adaptação a novas situações.

Entre os restantes significados desta palavra encontramos ainda conluio ou entendimentos secretos, sem que, no entanto se recorra, por norma, em Portugal, à designação inteligência para referir essa relação secreta entre pessoas. A aplicação comum reduz-se à ideia de juízo, capacidade de raciocínio.

Ora, nas significações várias atribuídas a esta palavra na língua portuguesa não encontramos aquela a que se referem a Central Intelligence Agency (CIA) norte-americana ou as forças militares quando falam de intelligence.

De acordo com a Enciclopédia de Espionagem, Inteligência e Segurança: “Intelligence designa a informação relativa a uma entidade estrangeira, normalmente (embora nem sempre) um adversário, bem como as agências preocupadas com a recolha dessa informação. Está intimamente ligada ao Ciclo de Intelligence, um
processo pelo qual a informação bruta é recolhida, convertida em intelligence e disseminada aos consumidores apropriados”.

Nos serviços militares e das agências, o termo intelligence designa, portanto, um conhecimento obtido a partir de um conjunto de informações em estado bruto, cujo tratamento permite um grau de fiabilidade com o objectivo da sua utilização pelo comando.

Esta designação refere-se a informação tratada, bem como à actividade e à função que consiste em organizar a recolha de informações e depois a proceder ao seu tratamento e difusão. Não existe, no entanto, qualquer distinção entre a origem aberta ou secreta da informação. A distinção que pode ser feita é entre os métodos e meios que são usados na captação dessa informação, com a recolha de informações secretas a estar destinada aos serviços especiais e a de informações abertas aos serviços de intelligence, a que, em Portugal, denominamos serviços de informações.

Para evitar a confusão entre a acepção anglo-saxónica de intelligence e a, corrente em Portugal, que toma como entendimento do conceito de “inteligência” a capacidade de raciocínio; opto, quando falo das práticas militares ou da adopção da intelligence, como matriz metodológica e primeira função da Inteligência
Competitiva, por usar a denominação inglesa.

Logicamente, uma significação não exclui a outra, mas se assim não o fizesse a frase com que termino este post perderia em clareza:


Não é possível produzir inteligência, a partir de informações brutas, sem inteligência, do mesmo modo que o exercício de inteligência não é mais que a execução mental de um processo de transformação de dados desagregados em inteligência, informação útil a cada decisão tomada e acção executada.


Traduzindo:

Não é possível produzir intelligence, a partir de informações brutas, sem inteligência, do mesmo modo que o exercício de inteligência não é mais que a execução mental de um processo de transformação de dados desagregados em intelligence, informação útil a cada decisão tomada e acção executada.


Monday, November 5, 2012

O fim da ilusão




O quadro de guerra económica é o cenário e também, em parte, a justificação para a necessidade das organizações adoptarem uma atitude pró-activa que lhes permita criar as condições favoráveis, ao invés de esperarem e adoptarem uma atitude meramente reactiva.

A evolução do contexto global, impulsionada pelas novas tecnologias de comunicação e informação, fez-se no sentido de uma “economização” – passámos de uma lógica geopolítica para uma lógica geoeconómica – e a informação substitui hoje o capital e a energia como motor da nova economia. Estas duas condições, sustentadas numa globalização das trocas, contribuíram para um estado de hipercompetitividade onde todas as certezas são efémeras e onde capacidade de adaptação constante às bruscas mudanças do contexto se tornou fundamental à sobrevivência. Todo este conjunto de factores exige a adopção de uma nova abordagem à gestão estratégica da informação, capaz de conferir às organizações uma autonomia, para que possam produzir sentido a partir de uma realidade onde dados e informações dispersas são superabundantes e, assim, tomarem a melhor decisão, no momento certo.

É necessário, já aqui o disse,  adoptar uma nova grelha de leitura para que deixemos cair uma visão demasiado angelical e optimista do contexto e possamos observar – não é caso para que se diga “em todo o seu esplendor” – na sociedade da informação uma sociedade do segredo. Pilar desta constatação, o carácter eventual da informação. A informação é manipulável e manipulada e é hoje usada como arma num contexto económico cada vez mais marcado pelo conflito, uma guerra económica.

“As utopias originais, a euforia e idealismo de um paradigma das auto-estradas da informação caíram, foram consumidas com as bem sucedidas estratégias e dialécticas conflituais”, diz Didier Lucas, director do Institut Choiseul, no artigo “La prise de contrôle des marchés émergents, composants de la stratégie globale des Etats-Unis - Le cas de la Moldavie“.

Os estados mais evoluídos criaram batalhas comerciais, culturais e sociais de uma amplitude inédita e “paradoxo das economias capitalistas e liberais, as empresas tornadas necessariamente multinacionais, beneficiam de medidas activas com vista à conquista de mercados e de directivas governamentais destinadas à promoção dos seus interesses comerciais”.

A instauração, particularmente pelos Estados Unidos, na era Clinton, de doutrinas de segurança económica (no caso dos americanos pilar da política económica) “vieram selar o fim da ilusão”. Como diz o autor, o apoliticismo económico deixou de fazer sentido.

A livre mão do mercado deixou de reinar, os estados viram, principalmente após o fim da Guerra-fria, na economia o campo geoestratégico por excelência, a principal fonte de poder, e esta circunstancia per si contribuiu significativamente para um endurecimento da concorrência.

Hoje, a concorrência económica afecta de um modo absolutamente central as esferas social, política e mesmo cultural.

Ao contrário do que acontecia durante a Guerra-fria, torna-se mais claro que um aliado militar pode ser um inimigo no campo económico. O desaparecimento do inimigo único, o outro claramente identificado, levou ao ressurgimento, embora de um modo dissimulado, de um conflito global – agora na esfera económica.

Neste novo tabuleiro, a informação fez-se arma e a sua condição imaterial veio facilitar de sobremaneira a escalada do conflito – é mais fácil e “humano” enviar um vírus informático e afectar milhões de computadores do que cometer um genocídio, é mais fácil destruir a reputação de uma pessoa ou de uma empresa através de rumores do que derrubar um regime pela força das armas.

As cinco forças competitivas de Porter

Entrevista com Michael E. Porter, Professor da Universidade de Harvard. As cinco forças competitivas de Porter são a base de grande parte da estratégia de negócios moderna. Um interessante vídeo para compreender o modelo e saber como colocá-lo em prática.


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